Flávia Maia

A acareação entre o general Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid no Supremo Tribunal Federal (STF) terminou no fim da manhã desta terça-feira (24/6) após uma hora e meia de embate. Os dois temas tratados foram o pedido e entrega de dinheiro para suposto financiamento do golpe e a reunião ocorrida na casa do réu Braga Netto em 12 de novembro de 2022 para combinar o plano golpista. De acordo com a ata e com os advogados dos dois, as divergências de versões continuam.
O advogado de Braga Netto, José Oliveira Lima, informou que o colaborador trouxe mais um local da suposta entrega de dinheiro ao general para o suposto financiamento do golpe de estado em 2022. Até então a dúvida estava se o dinheiro havia sido recebido na sala ou na garagem. Durante a acareação, Cid não soube precisar se a entrega ocorreu na sala de ajudância de ordens, na garagem privativa ou no estacionamento ao lado da piscina, no Palácio da Alvorada, pois eram os locais onde recebia autoridades.
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Indagado pelo advogado do réu Braga Netto, o réu colaborador disse se recordar que o dinheiro foi recebido pela manhã, sem exatamente lembrar o horário, e que a entrega não foi presenciada por mais ninguém e que não possui provas do recebimento do dinheiro.
A advogada de Mauro Cid, Vânia Bitencourt, negou a afirmação do advogado do general. Segundo ela, o militar manteve a versão já apresentada de que ele não se lembra se a entrega foi em uma das garagens onde as autoridades chegam ou se foi dentro da sala, no Alvorada. “Ele não sabe precisar o local, ele sempre disse isso”, afirmou a advogada.
Oliveira Lima perguntou se a sacola entregue supostamente com dinheiro estava lacrada e Cid confirmou. “Eu perguntei para ele: a suposta sacola estava lacrada? E ele disse que estava lacrada”, afirmou o advogado. “Ele não abriu, não viu. Ele mente”, complementou. Ainda respondendo ao advogado de Braga Netto, o réu colaborador, disse que teria calculado o valor aproximado pelo peso da sacola, mas que em momento algum ela foi aberta.
A interpretação da defesa de Cid é diferente. “Ele não confirmou que estava lacrada. Ele disse que não olhou dentro. A pergunta do advogado foi nesse sentido: ‘a sacola estava lacrada? O senhor olhou dentro?’ e ele disse que não olhou dentro e não viu a quantia”, afirmou Vânia Bitencourt. A advogada informou que na sequência perguntou se na entrega do pacote, o general Braga Netto tinha dito que era dinheiro. “Aí o Cid disse que sim”, afirmou.
Depois, Vânia perguntou para que o dinheiro serviria e Cid respondeu que, ao entregar a sacola de vinho, Braga Netto informou que continha dinheiro e que deveria ser direcionado para suprir o pedido que anteriormente fora feito e negado pelo PL. Segundo a denúncia da PGR, após a reunião na casa de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, dos coronéis teriam entrado em contato com Mauro Cid solicitando dinheiro para realizar as operações golpistas.
De acordo com a ata do STF, tanto Cid quanto Braga Netto reafirmaram que conversaram sobre a possibilidade de pedir recursos ao PL, por iniciativa do réu colaborador, que procurou Braga Netto. O réu Braga Netto direcionou o réu colaborador para conversar com o então tesoureiro do PL, o Coronel Azevedo, que informou da impossibilidade do PL fornecer qualquer quantia.
Questionado sobre a demora para delatar a suposta entrega de dinheiro a Braga Netto à Polícia Federal, Cid justificou que estava “em choque” devido à prisão de companheiros dele.
O advogado José Oliveira Lima também informou que Braga Netto chamou Mauro Cid de mentiroso em duas oportunidades e ele não retrucou. “Passou todo o ato com a cabeça baixa e não retrucou quando teve oportunidade de falar”, contou aos jornalistas. A advogada de Cid informou que o militar foi preparado pela defesa para não responder a nenhuma provocação. “E esclarecendo, ele [Braga Netto] não chamou Cid de mentiroso”, acrescentou.
<h3>Reunião na casa de Braga Netto</h3>
Na acareação, os réus mantiveram suas versões e as contradições apontadas nos depoimentos. Cid reforçou que encaminhou os Coronéis Oliveira e Ferreira Lima para conversar com o general Braga Neto sobre a insatisfação que ambos tinham com o resultado eleitoral. A versão foi negada por Braga Netto, que por sua vez, reafirmou que o encontro serviu para que ambos os militares o cumprimentassem.
Também não houve concordância sobre a conversa que ocorreu dentro do apartamento. Braga Netto reafirmou que os três – Coronel Oliveira, Coronel Ferreira Lima e Mauro Cid– chegaram e saíram juntos de seu apartamento. Já Cid reforçou que chegou junto com os demais, porém, saiu sozinho em momento anterior aos Coronéis Oliveira e Ferreira Lima que permaneceram no apartamento, pois iriam preparar uma reunião para o então presidente Jair Messias Bolsonaro.
Indagado pelo advogado do réu Braga Netto sobre o motivo de ter alterado sua primeira versão sobre a reunião, Cid justificou que, em um primeiro momento, lhe pareceu que a reunião era mais uma no sentido de mostrar a insatisfação contra o resultado das eleições, porém que não passaria de mais uma bravata.
Posteriormente, quando tomou conhecimento da operação “Punhal Verde e Amarelo” percebeu que poderia ter sido algo mais sério e, chamado a depor novamente, retificou seu depoimento anterior.
<h3>Acareação entre Freire Gomes e Anderson Torres</h3>
A segunda acareação ocorreu entre a testemunha, general Freire Gomes e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também na manhã de terça-feira (24/6). De acordo com a ata, o general reafirmou que foi apresentado à chamada “minuta do golpe” em uma reunião no dia 7 de dezembro de 2022. Freire Gomes voltou a dizer que explicou a Bolsonaro que se as medidas previstas no esboço de decreto fossem aplicadas,  o ex-presidente poderia ser responsabilizado, inclusive com a possibilidade de o mesmo ser preso.
Ainda de acordo com a ata, quando o general teve contato com a minuta encontrada na casa do réu Anderson Torres, verificou que se tratava do mesmo assunto constante naquele documento do dia 7 de dezembro de 2022, ou seja, a possibilidade de decretação do estado de sítio e GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Em virtude disso, o general reafirmou que entende que os documentos têm conteúdo semelhante, pois tratam do mesmo assunto, em que pese jamais ter afirmado que se trata do mesmo documento.
Em relação a Torres, Freire Gomes disse que se recordava de ter participado de reuniões com a presença do ex-ministro da Justiça, onde assuntos diversos foram tratados, inclusive a possibilidade de decretação de uma GLO, mas que ele não estava nas reuniões realizadas no dia 7 e 14 de dezembro de 2022, quando se quando se tratou da minuta do golpe.
A acareação foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, com participação do procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, e do ministro Luiz Fux. Os advogados de outros réus, como Celso Vilardi, do ex-presidente Jair Bolsonaro, também estiveram presentes. A sessão foi fechada a jornalistas e a gravação foi vetada.

Braga Netto

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JOTA

Segundo advogado, Cid não soube precisar se a entrega ocorreu na sala de ajudância de ordens ou em outras duas possíveis garagens

STF: Cid e Braga Netto divergem sobre entrega de dinheiro para financiar golpe

Segundo advogado, Cid não soube precisar se a entrega ocorreu na sala de ajudância de ordens ou em outras duas possíveis garagens