Ana Pompeu

Em março de 2019, a procuradora da República Jerusa Viecili disse a Deltan Dallagnol que " a FT ajudou a eleger Bozo", em referência à vitória de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, no ano anterior. A diferença de atuação da Lava Jato em relação ao presidente da República a incomodou e a fez cobrar posição sobre defesa da democracia de colegas. 
O impacto e atuação política da Lava Jato esteve em disputa entre críticos e apoiadores. Nesta segunda-feira (29/3), novos diálogos da força-tarefa trazem uma admissão da influência política da operação: a procuradora da República Jerusa Viecili afirma, também, que, caso o escândalo que envolveu Flávio Bolsonaro não fosse sobre o filho do presidente, talvez a operação tivesse atuado de outra forma.
Na conversa, ela se mostra preocupada com a posição da imprensa em relação aos trabalhos do grupo. E, então, ela sugere ao então coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol a desvinculação da figura do presidente da República, para retomar credibilidade. 
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>As mensagens atribuídas aos membros do Ministério Público Federal (MPF) seriam de março de 2019 e constam nos autos da ação que tramita no STF para que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha acesso e possa usar as informações da delação da Odebrecht e, mais recentemente, da operação Spoofing, a Reclamação (Rcl) 47.003.
"Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo, só assim os jornalistas vao novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ. temos que entender que a FT ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe). veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais (sic)", disse.
Para ela, a Lava Jato perdeu duas oportunidades de se desvincular de Bolsonaro, a primeira delas foi no caso de Flávio Bolsonaro, filho do presidente envolvido no escândalo das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: "se fosse qualquer outro político envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte".
Outro ponto que ela destaca é a atuação do grupo em relação ao caso da Lei de Acesso à Informação (LAI). Ainda em janeiro de 2019, pouco depois da posse, o presidente interino general Hamilton Mourão assinou um decreto que alterou as regras de aplicação da LAI e permitiu que ocupantes de cargos comissionados da gestão, em muitos casos sem vínculo permanente com a administração pública, pudessem classificar dados do governo federal como informações ultrassecretas e secretas —aquelas com grau máximo de sigilo de 25 anos e 15 anos, respectivamente. Em fevereiro, Bolsonaro revogou o texto depois de sofrer derrota na Câmara e de críticas pelo retrocesso que a medida significaria.
"A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o proprio caso de Onix Lorenzoni) agora, com a "comemoração da ditadura" (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais", apontou Jerusa.
As críticas dela continuaram. Ela questiona os colegas: "Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de Bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? A LJ teria se desenvolvido numa ditadura?", pergunta. A força-tarefa da Lava Jato teve início em 2014 e decorreu também, em parte, do fortalecimento da Polícia Federal e do próprio Ministério Público no período. 
A operação atingiu fortemente o PT, o PP e o PMDB, além de empresários da área da construção civil, especialmente. As eleições presidenciais de 2018 tiveram como um elemento de peso as repercussões da Lava Jato: Luiz Inácio Lula da Silva seria candidato pelo PT, mas com condenações em segunda instância ficou impedido  do sistema político. Já em setembro de 2018, um mês antes do primeiro turno, o partido formalizou a substituição da cabeça de chapa por Fernando Haddad, que foi ao segundo turno e perdeu para Bolsonaro.
A procuradora ironiza a mudança de tom de apoiadores do presidente. Ela brinca que "não sabe como Amoedo não ganhou no primeiro turno", já que os relatos que chegam a ela no sentido de que o voto foi no candidato do Novo cresceram.
"Sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (nao sei como Amoedo nao foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele). enfim, acho que defender a democracia, nesse momento, seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa" (sic).
Sobre a defesa da democracia, Jerusa também pede uma defesa mais contundente das instituições. "Atacamos muito o STF e seus ministros, mas sabemos que a democracia so existe com respeito às instituições. e o STF precisa ser preservado, como órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro."
Apenas Deltan responde, de forma sucinta: "Concordo Je. Acho nota esquisita. E se fizermos artigos de opinião? Acho que não da pra bater, mas da pra firmar posição numa abordagem mais ampla."

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JOTA

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