Redes sociais

Coronavírus diminui interesse por STF e ministros nas redes sociais em março

Pesquisa do DAPP da FGV mostra tendência de queda de citações à Corte e a ministros

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Sessão plenária do STF. Crédito: Rosinei Coutinho/SCO/STF

As mudanças na dinâmica da sociedade — e do próprio Supremo Tribunal Federal (STF) — causadas pela pandemia do novo coronavírus fizeram com que as discussões sobre a Corte nas redes sociais ficassem em segundo plano. Com a pandemia, a Corte e os ministros foram menos citados em postagens do que nos meses anteriores.

Em meados de março, as primeiras medidas de contenção e de combate à pandemia começaram a ser tomadas tanto pelos Poderes Executivos estaduais e municipais, com fechamento de comércios e suspensão de aulas, quanto pelas próprias cortes, com a instituição do teletrabalho e a suspensão de sessões plenárias presenciais. 

A nova configuração do trabalho do STF, unida ao interesse massivo pelos desdobramentos da crise do coronavírus, fez com que o debate virtual sobre o STF nas redes sociais arrefecesse.

Em janeiro, a decisão do ministro Luiz Fux que derrubou a liminar do presidente da Corte, Dias Toffoli, sobre o juiz de garantias foi a responsável pelo pico de menções ao STF e a seus integrantes nas redes sociais. Ainda que em período de recesso, a Corte e os ministros mantiveram níveis altos de citações nas plataformas no mês de janeiro. Ao passar por cima da decisão de Toffoli, Fux foi mencionado ao longo do dia em quase 47 mil tweets. No dia seguinte, foram novos 59 mil tweets.

Naquele mês, Toffoli, Fux e Gilmar Mendes foram citados mais de 10 mil vezes em mais de um dia, enquanto só o presidente da Corte e Gilmar  atingiram a mesma marca em março.

O pico de citações da Corte e de um ministro em um único dia de março foi no último dia do mês. Ao pedir que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestasse sobre uma notícia-crime contra o presidente da República, Marco Aurélio Mello foi mencionado 48.104 vezes no Twitter. Posteriormente, já em abril, o ministro arquivou a notícia-crime.

Os dados sobre as menções ao STF, aos 11 ministros e às principais pautas que mobilizam o debate sobre a Corte no Twitter e Facebook, foram colhidos e analisados pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A DAPP é um centro de pesquisa social aplicada para a compreensão de políticas públicas e os efeitos delas. 

No mês de janeiro, durante o recesso, 1,5 milhão de postagens no Twitter trataram de temas da cúpula da Justiça. Já em março, foram 1,4 milhão de tweets. Ainda que os números pareçam ser altos, a expectativa era a de que o volume fosse maior durante um mês em que a Corte não estivesse em recesso. Além disso, as citações aos ministros individualmente, foram expressivamente menores em março do que em janeiro. 

Lucas Calil, coordenador de Linguística da FGV DAPP, explica que anteriormente havia uma tendência de que as menções à Corte e aos ministros não estivessem ligadas necessariamente às pautas de julgamento do plenário ou decisões individuais. Mas o cenário mudou. De acordo com o pesquisador, o STF passou a ser citado como um ator que pode frear o bolsonarismo, como por exemplo, ao garantir que os governadores possam tomar medidas de restrição de circulação. 

“Em relação aos ministros, no mês passado havia uma participação cada vez mais orgânica, mesmo com a interlocução com os outros Poderes. Mas sem a pauta jurídica, os ministros perderam um pouco o interesse e passaram a depender de decisões específicas para voltarem a ser citados”, disse. 

A ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), teve 13,6 mil citações, no dia 10 de março, em função da defesa que ela fez da segurança das urnas eletrônicas. A Corte rebateu a declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que a eleição de 2018 foi fraudada e reafirmou em nota divulgada naquela data que o sistema de urnas eletrônicas é confiável e passível de ser auditada. Ainda que não citasse nominalmente o presidente ou se referisse à fala dele, foi o suficiente para elevar o interesse sobre ela. 

Também em relação ao bolsonarismo, no dia 15 de março houve um aumento de menções ao STF, data de uma manifestação em apoio ao presidente e que criticava os outros Poderes. “No dia 15 de março, houve um aumento, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, acabou personificado como um vilão, ainda que pessoas falassem em fechar o Supremo ou citassem Gilmar Mendes ou Dias Toffoli, atores sempre mais mencionados”, disse Calil. 

Já no Facebook, outra mudança de comportamento notada foi a retomada de interações com links da imprensa tradicional. Sites bolsonaristas e de extrema-direita foram menos compartilhados que o usual.

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