Opinião e Análise

Caio Vieira Machado

Danuza França

Victor Vicente

O universo do esporte vem passando por transformações profundas, algumas já bastante discutidas, outras nem tanto. Sabemos que a rotina do atleta de alto rendimento se tornou ainda mais intensa, aliando ciência e tecnologia para alcançar performances físicas nunca antes vistas. Ao mesmo tempo, surgiram novas obrigações fora das quatro linhas do esporte. Atletas, particularmente atletas que estão na elite de seus respectivos esportes, se tornaram figuras públicas, conectados de maneira direta via mídias sociais com públicos de milhões de usuários, inspirando e influenciando as mais diferentes gerações.  
Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, por exemplo, são os donos dos perfis mais seguidos no Instagram. Além disso, profissionais de e-sports estão se tornando exímios comunicadores, com a capacidade de engajar dezenas de milhões de jovens. Atletas talvez sejam os influenciadores digitais mais relevantes da nossa época e, ainda assim, falamos muito pouco sobre as consequências sociais e individuais dessa exposição. O atleta está preparado para lidar com esse novo grau de visibilidade e conexão? Qual a estrutura para atletas lidarem com esse novo normal? Qual o papel das confederações, dos times e dos sindicatos nesse processo?  
Hoje, atletas que estão no mais alto nível físico podem se deparar, de uma hora para outra, com ataques de ódio, bullying e doxxing, dentre outros. Essa experiência pode ser detrimental ao seu bem-estar individual e à sua performance, como temos visto em inúmeras ocorrências nos esportes olímpicos e nas ligas de futebol internacionais. Neste artigo, vamos mostrar porque essa agenda precisa ganhar prioridade e alguns caminhos a seguir.  
<h3>Violência e ataques de ódio no esporte </h3>
Infelizmente, a associação entre violência e o esporte não é nova. Brigas entre torcidas organizadas são uma constante no noticiário e ataques a jogadores estão se tornando frequentes no Brasil, desde ônibus apedrejados até invasão a centros de treinamento. Esse comportamento destrutivo, e muitas vezes criminoso, também se expressa no universo online. Por exemplo, em um relatório divulgado em junho deste ano, a Fifa e o Sindicato Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro) revelaram que durante a Copa do Mundo de 2022 foram registradas mais de 20 mil postagens ofensivas a atletas nas mídias sociais.  
Pode-se pensar que ataques online são “menos graves” que os ataques que acontecem no mundo físico. Mas essas duas dimensões estão relacionadas. Há vasta literatura que aponta tanto para efeitos de contágio, quando uma postagem incentiva outras, quanto para efeitos de transbordamento, quando a violência online antecede um ataque no mundo físico. Os <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-do-anderson-schreiber/de-aranha-a-vini-jr-quem-responde-pelo-racismo-nos-estadios-de-futebol-06062023">ataques racistas contra Vinícius Júnior</a> na Liga Espanhola são o mais recente exemplo dessa interação entre violência online e offline.  
Também temos o processo inverso, quando jogadores utilizam as mídias sociais para emitir discurso de ódio, abandonando os princípios de responsabilidade que devem balizar suas práticas de comunicação pública. Esse tipo de conduta tem efeitos nocivos na sociedade, mas também deve acarretar em sanções que certamente irão prejudicar o desenvolvimento da carreira do atleta. Esse tipo de falta de cuidado em relação à sua conduta não é óbvio. O atleta precisa de orientações formais e suporte do seu staff, das confederações e sindicatos. 
<h3>Fomentando uma influência informada dos atletas nas redes </h3>
Felizmente, hoje também há inúmeros exemplos positivos de atletas que utilizam as mídias para a garantia de direitos. Se o esporte é uma ferramenta crucial no combate à discriminação, as mídias sociais desempenham um papel igualmente importante. Quando ambas são utilizadas de forma estratégica, planejada e responsável, o resultado são ações inspiradoras e impactantes para a sociedade. 
O uso dessas plataformas permite que os atletas alcancem um público amplo e exerçam um impacto significativo na conscientização e no ativismo. Eles têm a capacidade de disseminar mensagens positivas, promover a inclusão, combater o racismo, a homofobia, o sexismo e outras formas de discriminação. Por meio das redes sociais, os atletas podem inspirar mudanças, mobilizar comunidades e encorajar outras pessoas a se envolverem em causas sociais importantes. É uma poderosa combinação de esporte e redes sociais que pode inspirar mudanças sociais positivas. 
Esse é o caso de Colin Kaepernick, ex-quarterback da NFL, que usou sua plataforma para protestar contra a injustiça racial e a brutalidade policial. Ou Lewis Hamilton, que tem sido um defensor ativo da igualdade racial. No futebol, também temos casos importantes. Megan Rapinoe, uma jogadora de futebol dos EUA, se tornou uma importante defensora dos direitos LGBTQ+ e sua luta contra o racismo. Marcus Rashford também vem se tornando mais e mais conhecido por sua luta contra a pobreza infantil e a garantia de alimentação adequada para crianças em situação de vulnerabilidade. Além, claro, de Vinícius Júnior, que tem sido fundamental na defesa de um futebol sem racismo ao redor mundo. 
Os atletas são frequentemente vistos como modelos de comportamento, e ao utilizar suas plataformas, eles têm o poder de contribuir para a construção de um mundo mais inclusivo, justo e igualitário. Ao promover valores como respeito, diversidade e igualdade, os atletas podem inspirar não apenas dentro das quatro linhas, mas também no ambiente digital, influenciando positivamente a sociedade como um todo.

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JOTA

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