Opinião e Análise

Aline Fuke Fachinetti

Rafael Marques

A célebre frase "Se você não pode medir, não pode gerenciar" de Peter Drucker, nos convida a uma profunda reflexão. Por que, afinal, as métricas desempenham um papel tão crucial nos programas de governança corporativa?
A proteção de dados pessoais se tornou um tema de crescente relevância, o que se reforça pela preocupação na edição de legislações específicas ao redor do mundo, como a Lei Geral de Proteção de Dados (<a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/lgpd">LGPD</a>) no Brasil. Nesse contexto e, dado o aumento progressivo da maturidade e solidificação do tema, surge a necessidade de estabelecer e, especialmente, manter programas eficientes de governança em proteção de dados, e é aí que entra o tema que apelidamos de “Privacy Operations”.  
O tema Privacy Operations se refere à sustentação e ao aumento contínuo e estratégico da maturidade dos programas de governança em privacidade e proteção de dados em uma organização, visando – muito além de meramente garantir a conformidade com as leis e regulamentações aplicáveis - traduzir e operacionalizar as melhores práticas no tema, inclusive, atuando como um diferencial de negócio através de mecanismos eficientes e que façam efetivamente parte da esteira de negócio. Tal abordagem está alinhada, inclusive, ao artigo 50 da LGPD, que, reconhecendo o dinamismo das operações de tratamento de dados e os riscos de novas tecnologias e abordagens, propõe aos controladores de dados que implementem e constantemente aprimorem os seus programas de governança em privacidade.  
Neste sentido, as competências e práticas já consolidadas pela CLOC (Corporate Legal Operations Consortium) ou outros frameworks focados em operações legais e eficiência jurídica podem ser aproveitadas para encarar este desafio. A implementação de um programa de Privacy Operations proporciona a oportunidade de monitorar em tempo real a situação e identificar potenciais vulnerabilidades relacionadas às atividades de privacidade e proteção de dados. Isso resulta em métricas que ajudam a identificar tendências e fluxos, oferecendo uma visão abrangente da situação atual. Como diz o famoso ditado, "uma imagem vale mais do que mil palavras", e ao aplicá-lo nesse contexto, enfatizamos a importância de garantir um panorama completo e preciso do estado atual das coisas. Isso permite que a organização concentre seus esforços e recursos onde são mais necessários para garantir a eficácia do programa.  
Uma das bases das Privacy Operations é a definição e o monitoramento de métricas relevantes. Por exemplo, estabelecer Key Performance Indicators (KPIs) adequados é essencial para mensurar o desempenho do programa de proteção de dados e identificar áreas que requerem atenção especial. Essas métricas podem abranger aspectos como a eficácia das medidas de segurança implementadas, o tempo de resposta a incidentes de privacidade, a taxa de satisfação dos usuários em relação à gestão de dados, entre outros.
Alguns programas de proteção de dados chegam a utilizar OKRs para garantir um direcionamento estratégico. Ainda neste sentido, vale mencionar que para além das ideias geradas a partir do conhecimento destas métricas, há a integração destas iniciativas com o desenvolvimento de produtos e modelos de negócios, pois entender de forma sistêmica as mais diversas nuances do negócio é descobrir o que realmente será um dia típico dentro das operações e atividades de tratamento de dados pessoais das organizações.   
Com a implementação adequada das Privacy Operations, as empresas podem se posicionar de forma competitiva no mercado, construindo a confiança dos usuários e evitando penalidades decorrentes do descumprimento da legislação. Além disso, uma abordagem sólida de privacidade e proteção de dados pode trazer benefícios significativos, como a melhoria da reputação da marca, o fortalecimento dos relacionamentos com clientes e parceiros e a minimização dos riscos associados a violações de dados.  
Importante ressaltar, ainda, que as Privacy Operations não são um esforço isolado do departamento jurídico ou de TI, mas sim uma abordagem multidisciplinar que requer colaboração entre diversas áreas da empresa. A equipe responsável pela proteção de dados deve trabalhar em estreita parceria com os departamentos de recursos humanos, marketing, desenvolvimento de produtos e demais áreas envolvidas no tratamento de dados. E quando mencionamos a multidisciplinaridade na construção dessas métricas, destacamos a importância de cada um dos indivíduos envolvidos na operação e atividades de tratamento de dados pessoais dentro das organizações.
Isso inclui mapear as áreas e entender quem serão os principais stakeholders internos, em especial, aqueles que serão responsáveis por aplicar os esforços diários para garantir a continuidade do programa, bem como os tomadores de decisão. As métricas trazem, quando aplicadas de forma estratégica, a possibilidade de evidenciar potenciais problemas na operação ou trazer gatilhos para novas ações. Somente assim é possível garantir uma visão abrangente e eficiente do programa de proteção de dados e aperfeiçoar o programa, tirando do papel os preceitos e possibilidades do §2º, inciso I, do artigo 50 da LGPD.  
Adicionalmente, a colaboração multidisciplinar entre as equipes de operações legais e de proteção de dados pode trazer benefícios significativos, uma vez que ambas têm como objetivo a eficiência, adequação e a excelência em práticas empresariais. A aplicação de metodologias ágeis, a utilização de tecnologias avançadas para gerenciamento de dados e a busca por soluções inovadoras podem ser combinadas para criar programas de Privacy Operations robustos e eficazes. Dessa forma, as empresas podem aproveitar as sinergias entre as competências da CLOC e as demandas da proteção de dados, fortalecendo ainda mais sua postura além da conformidade e excelência na gestão de dados pessoais e do programa em si.  
Diante de todos esses desafios e possibilidades, acreditamos que usar as competências de operations no universo de proteção de dados pode apoiar a alavancar a maturidade dos programas de proteção de dados. Por meio de métricas adequadas, modelos de maturidade, sustentação do programa de governança e colaboração entre as áreas, as empresas podem garantir a excelência na proteção de dados e se destacar ao enfrentar os atuais e futuros desafios nessa área de atuação.
A conformidade com a LGPD e demais regulamentações é apenas o ponto de partida, uma vez que estas ações devem contribuir para evolução dos negócios de forma sistêmica, sempre com foco em garantir a eficiência, maturidade e sustentabilidade do programa de privacidade e proteção de dados e promover a ética e respeito às leis no tratamento de dados. Assim, não há dúvidas de que investir em Privacy Operations pode ser estratégico para o sucesso empresarial no mundo atual, onde se percebe a proteção de dados como valor crescentemente valorizado e protegido.

Proteção de dados

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JOTA

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Privacy Ops: operacionalizando a governança em proteção de dados

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