Opinião e Análise

Jean Marc Sasson

Daniel Sibille

Lucas Baraúna

Um dos temas mais quentes da pauta ESG para 2024 é a implementação da remuneração de executivos vinculados a metas ESG, uma vez que à medida que a consciência sobre os impactos ambientais, sociais e de governança cresce, as empresas precisam repensar suas estratégias de remuneração para garantir o alinhamento com os valores dos seus <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/stakeholder">stakeholders</a>. 
Para isso acontecer, primeiro, deve-se ter um forte engajamento e compromisso da alta administração: sem esse apoio nada começa. Este é o grande desafio, que na prática só acontece quando existe uma cultura muito forte ou alguma sanção ou obrigação advinda de uma autoridade ou lei externa. De forma a construir uma ponte levando do cenário atual até o desejado, as empresas devem buscar integrar as métricas aos objetivos e estratégias de negócios da empresa. Educar e conscientizar os executivos sobre o impacto positivo dessas práticas com cases reais da própria empresa ou de competidores, tanto do ponto de vista de responsabilidade corporativa quanto financeiro.
No segundo momento, deve-se identificar quais as métricas ESG são adequadas para o segmento da empresa, considerando as especificidades do negócio e as expectativas dos stakeholders. As metas precisam ser claras e mensuráveis para cada métrica identificada. 
Métricas relacionadas a emissões de carbono, uso de água tratável e destinação de resíduos poderiam ser monitoradas facilmente com muito pouco investimento. A composição diversificada das equipes e/ou da alta liderança e a promoção de ambientes inclusivos, saúde e segurança e impacto social são os critérios mais comuns. Aqui vale um ponto de atenção, pois é fundamental não apenas ter um ambiente diverso, mas acompanhar o desenvolvimento dos profissionais para se chegar em posições de liderança. Da mesma forma, deve-se buscar garantir, por exemplo, regras na utilização dos recursos de trabalho nas férias dos empregados, evitar e-mails e reuniões fora da hora de serviço e oferecimento de condições dignas para o desempenho de suas funções. 
Em relação às práticas de prevenção a corrupção enquanto metas, o foco deve ser também em não se criar algo que impacte ou assuste o negócio. A sugestão neste tópico é buscar demonstrar a importância do gestor como líder também de integridade das empresas e como isto poderia impactar tanto em sua carreira como na própria companhia. Neste caso, novamente mostrando o que obteve êxito na concorrência e definindo regras objetivas de reportes em situações de potenciais violações, realização de treinamentos internos constantes, reconhecimento por práticas relacionadas e colaboração extraordinária com qualquer revisão do departamento legal ou de compliance.  
Toda e qualquer métrica eleita exigirá transparência e conformidade com as leis nacionais e/ou internacionais aplicáveis, bem como precisará garantir que os contratos de trabalho sejam claros e disponham de disposições específicas quanto às métricas e critérios de desempenho, prazos e consequências vinculadas ao desempenho, o que, obviamente, requererá o apoio e validação do Departamento Jurídico. Por outro lado, o desenvolvimento de políticas institucionais claras e que detalhem a vinculação da remuneração aos objetivos ESG serão de responsabilidade da área de Compliance.
Tendo esta base sólida, é colocar o programa para funcionar, operando nas frentes da capacitação &amp; treinamento, comunicação e monitoramento da ação. 
Comunique claramente aos funcionários, acionistas e outros stakeholders sobre a introdução da remuneração vinculada a metas ESG. Inclua métricas ESG e o desempenho relacionado em relatórios corporativos. Engaje e demonstre transparência ao divulgar o progresso em relação às metas ESG estabelecidas.
 Sente-se à mesa com os executivos e destaque os benefícios a longo prazo para a empresa e o compromisso com a responsabilidade corporativa. Forneça treinamento aos líderes e funcionários sobre a importância das metas ESG e seu impacto na remuneração com funcionários internos ou terceiros, que poderiam oferecer uma visão mais de mercado. Certifique-se de que todos os envolvidos compreendam as métricas, os objetivos e as implicações da remuneração vinculada a metas ESG. 
Implemente sistemas de monitoramento que permitam rastrear o progresso em relação às metas ESG estabelecidas. Neste tópico, ainda que não exista um grande orçamento, poder-se-ia ter uma pessoa realizando de forma periódica a realização das atividades, mesmo com um controle em um arquivo de Excel. 
Realize avaliações de desempenho regulares, ajustando as metas conforme o cenário real posto que refletem as mudanças nas condições de mercado ou regulamentações. Novamente, importante mostrar periodicamente os resultados e realizar pequenos ajustes, mas, sempre, com alinhamento prévio da alta administração. Realize revisões periódicas das políticas de remuneração vinculadas a metas ESG e esteja preparado para ajustar as métricas e metas à medida que a empresa evolui e as expectativas dos stakeholders mudam.
Como mencionado acima, um grande diferencial, é criar programas de reconhecimento e incentivos adicionais para funcionários que demonstrem liderança exemplar na consecução das metas ESG. Destaque o sucesso individual em relação ao impacto geral da empresa. Ou, ainda, cláusulas de clawback em caso de descumprimentos.
Alguns casos interessantes foram realizados pela Unilever, que estabeleceu metas ambiciosas para redução de resíduos plásticos e aumento da sustentabilidade em sua cadeia de suprimentos; pela Danone, que implementou um programa de remuneração ligado a metas ESG, focando na redução da pegada de carbono e no estímulo à agricultura sustentável; pela Microsoft, que introduziu um plano de remuneração que recompensa os executivos pelo avanço da sustentabilidade, enfocando a neutralidade de carbono até 2030 e o uso responsável da tecnologia; pela Siemens, que adotou um modelo de remuneração vinculado a metas ESG, concentrando-se na eficiência energética de seus produtos e no fomento da digitalização sustentável.
Outro caso bem interesse é o da Natura, que acaba de divulgar que irá utilizar o indicador de renda digna como indexador da remuneração de seus colaboradores. Em suma, isso significa que a pessoa que vive em São Paulo que tem um custo de vida X vai ter uma remuneração compatível com o local que vive, ao passo que uma pessoa que vive em Salvador com um custo de vida Y também terá uma remuneração que comporte viver de forma digna naquela localidade. Pela metodologia do Sistema B, o indicador de renda digna deve ser utilizado como métrica para definir a remuneração do empregado que ganha menos até a maior remuneração das empresas que na maior parte das vezes é o CEO.
Desta forma, a remuneração de executivos com base em metas ESG não é apenas uma tendência passageira, mas uma abordagem estratégica que promove a sustentabilidade corporativa a longo prazo. As métricas cuidadosamente escolhidas refletem o compromisso das empresas com a responsabilidade social e ambiental. À medida que casos reais e exemplos de empresas visionárias proliferam, a prática de vincular a remuneração a metas ESG se solidifica como uma estratégia eficaz para unir o sucesso financeiro ao impacto positivo no mundo

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JOTA

Este é o grande desafio, que na prática só acontece quando existe uma cultura muito forte ou alguma sanção ou obrigação

Remuneração de executivos com base em metas ESG

Um dos temas mais quentes da pauta ESG para 2024 é a implementação da remuneração de executivos vinculados a metas ESG