Opinião e Análise

Daniel Sibille

Jean Marc Sasson

Essa expressão é frequentemente usada para retratar a realidade corporativa. Dentro dos inúmeros riscos que uma operação enfrenta, existem dois grupos principais que são relevantes para o tema deste artigo: (i) os operacionais e (ii) os de conformidade.
No entanto, antes de diferenciá-los, é importante entender o que é um risco.
De acordo com a melhor definição, riscos corporativos são aqueles que abrange os potenciais eventos ou circunstâncias que podem afetar negativamente os objetivos, operações e resultados de uma organização. Em outras palavras, são incertezas inerentes ao ambiente empresarial que podem ter impactos adversos nos diversos aspectos do negócio, como financeiro, estratégico, reputacional, operacional, conformidade/jurídico, entre outros.
Neste sentido, podemos concluir que os riscos operacionais estão relacionados ao funcionamento orgânico de uma corporação.
Dentro dessa perspectiva, podemos mencionar também os riscos de conformidade, que são aqueles que podem expor uma empresa a violações de leis ou regulamentos, ou que de alguma forma possam manchar a imagem da empresa.
Retomando o enunciado deste artigo, no qual mencionamos que o único risco inadmissível é o desconhecido, é importante saber como identificá-los.
A forma mais eficiente de fazer isso é por meio de uma análise de riscos. Essa análise, que não é muito conhecida pelos advogados mais tradicionais, deve ser conduzida de maneira pragmática, mas com uma abordagem holística, ou seja, suficientemente abrangente para refletir a realidade das empresas e, ao mesmo tempo, ter um processo bem estruturado.
Os fatores mais importantes para uma análise de riscos bem-sucedida são a definição de escopo e o planejamento.
No escopo define-se as materialidades e os riscos gerados pelos stakeholders que desejamos mapear.
Supondo que o escopo da nossa análise seja abordar os riscos de conformidade e os stakeholders eleitos são os funcionários, verificamos quais áreas da empresa estão disponíveis e, a partir disso, a recomendação seria agendar um cronograma de entrevistas com funcionários da própria organização de alta, média e baixa gerência de cada uma dessas áreas que, provavelmente, mais impactam a organização.
Mas por que incluir média e baixa gerência? Porque geralmente esses funcionários não têm tantos filtros e influência política na empresa, o que nos ajuda a entender a cultura e os problemas reais.
A partir daí, com a descrição dos principais riscos corporativos mapeados, é importante compreender a possibilidade de ocorrência desses riscos e sua gravidade. Para isso, recomenda-se usar uma matriz, posicionando os riscos de acordo com esses critérios. Os riscos de maior severidade e maior frequência devem ser abordados primeiro, e assim por diante.
Com um cenário de riscos definido e devidamente classificado, a recomendação seria criar outra matriz com base na prioridade, adicionando colunas que mencionem as medidas de remediação para cada um desses riscos, os responsáveis e os prazos para cumprimento.
Essas mesmas matrizes podem ser usadas para compreender riscos de outras naturezas, como cibersegurança e privacidade, aspectos ambientais e climáticos, sociais e de diversidade e/ou outras questões relacionadas à agenda <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/esg">ESG</a>.
De forma prática, deixamos aqui 10 dicas importantes:
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<li>Não deixe de conversar com as áreas de Back Office: Essas áreas desempenham um papel fundamental na identificação e gerenciamento de riscos operacionais e de conformidade. Eles têm uma visão privilegiada das atividades e processos internos, e sua perspectiva pode ajudar a identificar possíveis riscos;</li>
<li>Analise o histórico de investigações do canal de denúncias: é uma ferramenta valiosa para identificar potenciais problemas e riscos dentro da empresa. Analisar o histórico de denúncias e investigações anteriores pode revelar áreas de vulnerabilidade e ajudar a direcionar os esforços de gerenciamento de riscos.</li>
<li>Busque informações sobre seus concorrentes: O benchmarking sobre as práticas e desafios enfrentados pelos concorrentes em sua indústria pode ajudar a identificar riscos específicos e fornecer insights sobre melhores práticas de gerenciamento de riscos. Fique atento às tendências e eventos relevantes que possam afetar a indústria como um todo.</li>
<li>Não ignore os riscos da indústria em que atua: Cada setor tem seus próprios riscos e desafios específicos. É crucial estar ciente e entender os riscos inerentes à sua indústria. Mantenha-se atualizado sobre as regulamentações, normas e padrões relevantes e leve-os em consideração ao desenvolver seu programa de gerenciamento de riscos.</li>
<li>Esteja informado sobre as novidades regulatórias que podem afetar a indústria: As <a href="https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm">leis e regulamentos</a> estão em constante evolução. Mantenha-se atualizado sobre as mudanças regulatórias relevantes para sua indústria e certifique-se de que seu programa de gerenciamento de riscos esteja em conformidade.</li>
<li>Busque informações sobre as tendências de seu mercado: Acompanhe as tendências e mudanças em seu mercado. Essas informações podem fornecer insights valiosos sobre novos riscos emergentes ou oportunidades que possam impactar seu negócio.</li>
<li>Jamais conclua algo sem questionar exaustivamente: O pensamento crítico é essencial no gerenciamento de riscos. Não aceite as coisas como certas sem questioná-las e analisá-las cuidadosamente. Desafie suposições, faça perguntas e busque diferentes perspectivas para garantir que todos os ângulos sejam considerados.</li>
<li>Invista em networking: Construa e mantenha uma rede sólida de contatos profissionais. O networking pode fornecer acesso a informações valiosas, melhores práticas e insights sobre o gerenciamento de riscos em diferentes setores e organizações.</li>
<li>Mapeie a sua cadeia de valor. Provavelmente, seus fornecedores não estão no mesmo nível de Compliance da sua organização. Na verdade, devem ser considerados como o “calcanhar de Aquiles” da sua empresa. Portanto, invista na capacitação e conscientização de toda a cadeia, que certamente beneficiará todo o seu ecossistema.</li>
<li>Crie uma cultura organizacional que atraia e retenha talentos, entregue ganhos não materiais e gere maior engajamento dos seus Stakeholders. Essa é uma das melhores maneiras de contribuir para a mitigação dos riscos corporativos.</li>
</ol>
Em que pese a gestão de riscos poder soar até como um certo clichê, na verdade, se revela como uma poderosa ferramenta - assim como é sempre a expectativa humana - de antever o que poderá dar errado. Para isso, não precisamos de uma bola de cristal ou tampouco sermos sujeitos premonitórios. Basta, tão somente, não desprezarmos o (risco) desconhecido.

análise de risco

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JOTA

É importante saber como identificar o desconhecido para, então, evitá-lo

Há apenas um risco corporativo proibido: o desconhecido

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