Opinião e Análise

Andreu Wilson

Heitor Leon

E-sports provavelmente são a maior indústria da qual você jamais ouviu falar. Muito mais do que mero modismo, os e-sports são um verdadeiro fenômeno cultural e comercial, sendo estimado que neste ano o faturamento global do ecossistema alcançará pela primeira vez a marca US$ 1 bilhão<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
Não obstante a América Latina corresponda a pequeno percentual desta receita obtida mundialmente, hoje é uma das regiões de mais intenso crescimento dos e-sports, sendo esperado que o mercado alcance um faturamento de US$ 42 milhões em 2023<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>. 
<a href="https://www.jota.info/produtos/poder?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>Como resultado do crescimento espetacular visto e esperado nos e-sportes, os investimentos no ecossistema se tornaram extremamente significativos, alcançando o valor de US$ 4,5 bilhões em 2018<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>, quase 10 vezes superiores aos valores investidos em 2017, que perfizeram a quantia de apenas US$ 490 milhões<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>.
Um dos motivos para o acelerado incremento nos investimentos em e-sports decorre de uma mudança geracional. Com o público dedicando parcela cada vez maior do seu tempo aos e-sports, sendo exemplar deste fenômeno o fato de que pessoas dispenderam mais de 1,2 bilhão de horas assistindo a campeonatos de League of Legends (LOL”), isto com mais visualizações únicas (80 milhões) que o número de telespectadores que assistiram ao episódio final da série Seinfeld<a href="#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a><a href="#_ftn6" name="_ftnref6">[6]</a>, uma das séries mais exitosas da história.
Os e-sports ainda estão na sua infância, mas caminham solidamente para se transformarem num verdadeiro fenômeno cultural, sendo uma demonstração incipiente deste potencial o show ao vivo realizado pelo rapper Travis Scott no Fortnite, que atraiu mais de 12 milhões de espectadores, tendo ampla repercussão na imprensa mundial<a href="#_ftn7" name="_ftnref7">[7]</a>.
Os e-sportes, à medida que se tornam a opção preferencial de entretenimento para os jovens, naturalmente veem o crescimento do interesse dos anunciantes por um ecossistema que permite uma interação e proximidade com as fan bases inéditas em outras plataformas.
Este quadro, somado ao fato de que os e-sports são agora a 3ª opção mais popular entre todos os esportes para homens jovens, com cerca de 21 milhões de fãs de e-sports apenas nos Estados Unidos<a href="#_ftn8" name="_ftnref8">[8]</a>, representa a oportunidade de recebimento de investimentos maciços não apenas nas plataformas de streaming (tais como Twitch e YouTube Gaming), mas também nos times e da transformação dos jogadores profissionais em garotos-propaganda.
Considerando o tamanho do mercado de games, cujo faturamento global alcançou US$ 138 bilhões em 2019<a href="#_ftn9" name="_ftnref9">[9]</a>, existe uma grande base de jogadores amadores e casuais que podem ser atraídos pelos e-sports, o que provocará um ciclo virtuoso de popularização, atraindo por sua vez ainda mais interesse do público em geral.
A formação deste cenário já começa ser visto no país, com a cobertura dos e-sports pela mídia esportiva, sendo característico deste fenômeno o espaço dedicado no Globo Esporte<a href="#_ftn10" name="_ftnref10">[10]</a> e ESPN<a href="#_ftn11" name="_ftnref11">[11]</a> para notícias envolvendo este universo, desde a cobertura de campeonatos ao surgimento de novos times e transferência de jogadores e treinadores, bem como a criação de times de e-sports por times de futebol.
No entanto, se vislumbram dois graves impedimentos para os e-sports alcançarem o seu potencial enquanto ecossistema e plataforma cultural no Brasil, que são a baixa participação feminina e recentes casos de preconceito contra jogadores de Free Fire<a href="#_ftn12" name="_ftnref12">[12]</a>.
<blockquote class="jota-article__eye">Dados internacionais apontam que 46% dos entusiastas em games são mulheres, o que significa existir um mercado endereçável de até 1 bilhão de mulheres passíveis de produzirem e/ou consumirem conteúdo de e-sports<a href="#_ftn13" name="_ftnref13">[13]</a>.</blockquote>
No Brasil, relatório da Comscore aponta virtual paridade entre a participação de homens e mulheres entre os fãs de jogos eletrônicos, bem como uma maior disseminação do hábito de jogar games entre as classes sociais mais altas<a href="#_ftn14" name="_ftnref14">[14]</a>. Isto significa a existência de cerca de 42 milhões de mulheres gamers, o que abre espaço para que os e-sports sejam utilizados como uma plataforma de comunicação ampla para marcas.
Apesar do óbvio potencial e das novas possibilidades trazidas pelo streaming de games para ativação de campanhas de marketing, a crescente preocupação das empresas globais com princípios e práticas de responsabilidade socioambiental e de governança (ESG na sigla em inglês), precisa de uma assertiva resposta do ecossistema.
Neste sentido, episódios recentes de misoginia, como os ataques perpetrados à então apresentadora do canal XboxBR, Isadora Basil, que desde setembro de 2020 foi alvo de campanhas de difamação e ameaças na internet<a href="#_ftn15" name="_ftnref15">[15]</a>, são péssimos para a comunidade, afastando fãs de games e patrocinadores.
Infelizmente, episódios de racismo<a href="#_ftn16" name="_ftnref16">[16]</a>, homofobia<a href="#_ftn17" name="_ftnref17">[17]</a> e preconceito social<a href="#_ftn18" name="_ftnref18">[18]</a> não são inéditos da nossa comunidade, mas tais comportamentos tampouco a definem, não faltando histórias edificantes como a comunidade gamer atua como uma força positiva no mundo<a href="#_ftn19" name="_ftnref19">[19]</a>.
Aliado a isso, vimos no último ano o crescimento do ativismo de empresas, principalmente após a erupção do movimento Black Lives Matter<a href="#_ftn20" name="_ftnref20">[20]</a><a href="#_ftn21" name="_ftnref21">[21]</a>,  preocupadas com o apoio de causas meritórias e sofrendo backlash público se percebidas como inautênticas, ou seja, caso os seus consumidores observem incoerência entre os valores defendidos e as práticas efetivamente realizadas.
Conclusivamente, o mercado de e-sports pode se beneficiar imensamente da assunção de uma postura mais diversa e inclusiva, acolhendo mais ativamente mulheres, pessoas não-brancas, LGBTS e jogadores dos mais diversos estratos sociais, permitindo que os expoentes dos e-sports sejam amplamente contratados empresas que queiram engajamento de uma base apaixonada de fãs. Que o amor e encantamento pelos games nos una ao invés de separarmo-nos.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Business Insider. Esports Ecosystem Report 2021: The key industry companies and trends growing the esports market which is on track to surpass $1.5B by 2023. Disponível em: <a href="https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report">https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Business Insider. Esports Ecosystem Report 2021: The key industry companies and trends growing the esports market which is on track to surpass $1.5B by 2023. Disponível em: <a href="https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report">https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> The rise of eSports investments: A changing eSports industry entices private capital investors. Disponível em: <a href="https://www2.deloitte.com/us/en/pages/advisory/articles/the-rise-of-esports-investments.html">https://www2.deloitte.com/us/en/pages/advisory/articles/the-rise-of-esports-investments.html</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Business Insider. Esports Ecosystem Report 2021: The key industry companies and trends growing the esports market which is on track to surpass $1.5B by 2023. Disponível em: <a href="https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report">https://www.businessinsider.com/esports-ecosystem-market-report</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> ADVANI, Disht; AKMAN, Koray Anil.  Investors: High demand in esports attracts big brands from various industries. Disponível em: <a href="https://www.pwc.de/en/technology-media-and-telecommunication/digital-trend-outlook-esport-2020/investors.html">https://www.pwc.de/en/technology-media-and-telecommunication/digital-trend-outlook-esport-2020/investors.html</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref6" name="_ftn6">[6]</a> Seinfeld é a série de TV norte-americana com a terceira maior audiência do seu episódio final (series finale) na história. Para mais informações, ver: The 20 most-watched TV show finales of all time, ranked. Disponível em: <a href="https://www.businessinsider.com/most-watched-tv-show-finales-of-all-time-2017-5">https://www.businessinsider.com/most-watched-tv-show-finales-of-all-time-2017-5</a>  Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref7" name="_ftn7">[7]</a> FORBES. How Hip-Hop Superstar Travis Scott Has Become Corporate America’s Brand Whisperer.  Disponível em: <a href="https://www.forbes.com/sites/abrambrown/2020/11/30/how-hip-hop-superstar-travis-scott-has-become-corporate-americas-brand-whisperer/?sh=5d6dd8dd74e7">https://www.forbes.com/sites/abrambrown/2020/11/30/how-hip-hop-superstar-travis-scott-has-become-corporate-americas-brand-whisperer/?sh=5d6dd8dd74e7</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref8" name="_ftn8">[8]</a> SINGER, Dan; CHI, Jayson. The keys to esports marketing: Don’t get ‘ganked’. Disponível em: <a href="https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-insights/the-keys-to-esports-marketing-dont-get-ganked">https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-insights/the-keys-to-esports-marketing-dont-get-ganked#</a>  Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref9" name="_ftn9">[9]</a> WIJMAN, Tom. The Global Games Market Will Generate $152.1 Billion in 2019 as the U.S. Overtakes China as the Biggest Market. Disponível em: <a href="https://newzoo.com/insights/articles/the-global-games-market-will-generate-152-1-billion-in-2019-as-the-u-s-overtakes-china-as-the-biggest-market/">https://newzoo.com/insights/articles/the-global-games-market-will-generate-152-1-billion-in-2019-as-the-u-s-overtakes-china-as-the-biggest-market/</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref10" name="_ftn10">[10]</a> Disponível em: <a href="https://globoesporte.globo.com/esports/">https://globoesporte.globo.com/esports/</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref11" name="_ftn11">[11]</a> Disponível em: http://www.espn.com.br/tag/esports Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref12" name="_ftn12">[12]</a> QUEIROGA, Luiz. Opinião: LOUD no CBLOL 2021 mostra os vários abismos nos eSports.  Disponível em: <a href="https://globoesporte-globo-com.cdn.ampproject.org/c/s/globoesporte.globo.com/google/amp/esports/lol/noticia/opiniao-loud-no-cblol-2021-mostra-os-varios-abismos-nos-esports.ghtml">https://globoesporte-globo-com.cdn.ampproject.org/c/s/globoesporte.globo.com/google/amp/esports/lol/noticia/opiniao-loud-no-cblol-2021-mostra-os-varios-abismos-nos-esports.ghtml</a>  Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref13" name="_ftn13">[13]</a> FREEMAN, Will. One Billion Female Gamers: How the Demographics of Play are Shifting. Disponível em: <a href="https://www.thegamingeconomy.com/2019/05/15/one-billion-female-gamers-how-the-demographics-of-play-are-shifting/">https://www.thegamingeconomy.com/2019/05/15/one-billion-female-gamers-how-the-demographics-of-play-are-shifting/</a> Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref14" name="_ftn14">[14]</a> Comscore Whitepaper. O mercado de Games no digital. Disponível em: <a href="https://www.comscore.com/por/Insights/Apresentacoes-e-documentos/2020/O-mercado-de-Games-no-digital">https://www.comscore.com/por/Insights/Apresentacoes-e-documentos/2020/O-mercado-de-Games-no-digital</a>  Acesso em: 24 fev. 2021
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<a href="#_ftnref17" name="_ftn17">[17]</a> BIANCHI. Leo. Combater homofobia no eSport é uma forma de educar. Disponível em: <a href="https://www.uol.com.br/start/colunas/ggwp/2021/02/23/combater-homofobia-no-esport-e-uma-forma-de-educar.htm?cmpid=copiaecola">https://www.uol.com.br/start/colunas/ggwp/2021/02/23/combater-homofobia-no-esport-e-uma-forma-de-educar.htm?cmpid=copiaecola</a> Acesso em: 25 fev. 2021
<a href="#_ftnref18" name="_ftn18">[18]</a> QUEIROGA, Luiz. Opinião: LOUD no CBLOL 2021 mostra os vários abismos nos eSports.  Disponível em: <a href="https://globoesporte-globo-com.cdn.ampproject.org/c/s/globoesporte.globo.com/google/amp/esports/lol/noticia/opiniao-loud-no-cblol-2021-mostra-os-varios-abismos-nos-esports.ghtml">https://globoesporte-globo-com.cdn.ampproject.org/c/s/globoesporte.globo.com/google/amp/esports/lol/noticia/opiniao-loud-no-cblol-2021-mostra-os-varios-abismos-nos-esports.ghtml</a>  Acesso em: 24 fev. 2021
<a href="#_ftnref19" name="_ftn19">[19]</a> TORGAN, Allie.  Seriously ill kids couldn't play video games. So he's bringing the games to them.
<a href="#_ftnref20" name="_ftn20">[20]</a> The Conversation. Brands backing Black Lives Matter: it might be a marketing ploy, but it also shows leadership. Disponível em: <a href="https://theconversation.com/brands-backing-black-lives-matter-it-might-be-a-marketing-ploy-but-it-also-shows-leadership-139874">https://theconversation.com/brands-backing-black-lives-matter-it-might-be-a-marketing-ploy-but-it-also-shows-leadership-139874</a> Acesso em: 25 fev. 2021
<a href="#_ftnref21" name="_ftn21">[21]</a> MENON, Geeta; KIESLER, Tina.  When a Brand Stands up for Racial Justice, Do People Buy It? Disponível em: <a href="https://hbr.org/2020/07/when-a-brand-stands-up-for-racial-justice-do-people-buy-it">https://hbr.org/2020/07/when-a-brand-stands-up-for-racial-justice-do-people-buy-it</a> Acesso em: 25 fev. 2021

e-sports

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JOTA

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