Opinião e Análise

Bruno Galvão

Ana Carolina Vidal

“Uma ponte verde atravessando o Atlântico”, diz Robert Habeck, vice-chanceler da Alemanha e ministro da Economia e da Proteção do Clima, em alusão ao propósito de intensificar o fluxo de negócios e investimentos que impulsionem a indústria verde.
No último dia 13 de março ocorreu, em Belo Horizonte, a 39ª Edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), focado no tema "Novas abordagens sobre energia, clima e digitalização". O evento é promovido desde 1974 pela brasileira Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias Alemãs (BDI) com o objetivo de debater oportunidades de negócios entre as indústrias alemãs e brasileiras, bem como fortalecer o fluxo comercial entre as duas maiores economias do continente europeu e da América do Sul.
Na esteira da visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, e sua comitiva ao Brasil no final de janeiro (já abordado <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regula-euro/visita-do-chanceler-alemao-ao-brasil-impulsiona-relacoes-bilaterais-06022023">nesta coluna</a>), o EEBA deste ano foi marcado pela voz uníssona dos participantes de que o ambiente econômico e geopolítico é propício para o estreitamento das relações econômicas sob novos paradigmas tecnológicos e produtivos, particularmente em razão das sinergias existentes em temas de sustentabilidade na ordem do dia do <a href="https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/european-green-deal_pt">Pacto Ecológico Europeu</a>: transição energética e sustentabilidade ambiental.
O evento em Belo Horizonte contou com a presença de peso do vice-presidente <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/geraldo-alckmin">Geraldo Alckmin</a> (também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), do vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck (também ministro da Economia e Proteção do Clima) e do ministro da Alimentação e Agricultura da Alemanha, Cem Özdemir, que reforçaram o compromisso político de buscar concretizar o enorme potencial entre os países nesta janela de oportunidade singular em que as relações se encontram. 
Sob a perspectiva da Alemanha, houve destaque para o fato de o Brasil possuir características que o tornam um parceiro necessário para viabilizar a agenda de sustentabilidade. Alguns dos principais pontos destacados foram abundância de fontes de energia renováveis, cadeias produtivas com menor pegada de carbono, bem como maturidade industrial para o desenvolvimento e implementação de tecnologias limpas. Sob a perspectiva da indústria brasileira, por sua vez, a Alemanha é um importante parceiro tecnológico e investidor em projetos que demandam grande mobilização de capital. O alinhamento de valores entre o Brasil e a Alemanha também foi mencionado como fator essencialmente relevante, particularmente à luz da crise geopolítica decorrente da Guerra da Ucrânia e das tensões entre os Estados Unidos e a China, que traz um maior senso de urgência em fortalecer relações entre países comprometidos com a democracia, o Estado de Direito e o respeito aos direitos humanos. 
De fato, a agenda verde dos países europeus e particularmente da Alemanha é uma oportunidade sem precedentes para o Brasil. O país está em uma posição privilegiada para liderar o processo de descarbonização das cadeias de valor e de transição energética da economia global, tendo em vista sua larga experiência com energias renováveis e seu potencial produtivo de hidrogênio verde. O vice-chanceler alemão mencionou o ideal de criar uma “ponte verde atravessando o Atlântico” para simbolizar seu otimismo de que o Brasil será um parceiro econômico e político relevante para atingir as metas de redução das emissões de gases do efeito estufa estipuladas por 195 países no <a href="https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-ndc/arquivos/pdf/acordo_paris.pdf">Acordo de Paris</a> em 2015. 
O hidrogênio verde (H2V) foi um dos temas centrais do debate (<a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regula-euro/hidrogenio-verde-europa-por-que-isso-importa-para-o-brasil-31012022">texto publicado nesta coluna em janeiro de 2022</a> já chamava atenção para esse mercado e seu potencial). Produzido a partir de fontes de energia limpas e renováveis, o H2V é considerado fundamental para o processo de descarbonização no setor industrial e espera-se que represente até 15% do mix de fontes de energia utilizados na Europa nos próximos 30 anos. Alinhando o potencial produtivo brasileiro e o imenso interesse da Alemanha nessa fonte, espera-se um intenso fluxo de comércio, investimentos e cooperação bilateral nesse segmento. Um pontapé inicial desse novo momento, o <a href="https://veja.abril.com.br/coluna/radar-economico/brasil-e-alemanha-vao-investir-r-21-mi-em-projetos-de-hidrogenio-verde/">acordo bilateral</a> firmado durante o encontro, foca no desenvolvimento de tecnologias para a produção do H2V. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e a Federação Alemã de Associações de Pesquisa Industrial (AIF) irão destinar cerca de R$ 21 milhões para projetos envolvendo pequenas e médias empresas, startups e organizações de pesquisa e tecnologia nos dois países. 
Representantes da indústria também aproveitaram o encontro para fazer coro quanto à expectativa de que os governos adotem medidas concretas que abram caminho para a intensificação do fluxo de negócios entre os dois países, com destaque para a aprovação do acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia e a celebração de um novo acordo que evite a dupla tributação de rendas, dividendos e lucros (ADT). O Brasil e a Alemanha já tiveram um <a href="https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/7f/4f/7f4fa3a4-f409-47d3-b3d3-3c7181e65594/acordo_para_evitar_dupla_tributacao_entre_o_brasil_e_a_alemanha.pdf">ADT</a>, que vigorou por quase 30 anos até 2005. O ADT contribuiria para aumentar a segurança jurídica e para reduzir custos, impulsionando os investimentos de empresas alemãs no país bem como o fluxo de negócios entre os dois países. Além disso, um ADT daria impulso à aquisição de tecnologia e de empréstimos internacionais.
É consenso que a tradicional relação econômica entre o Brasil e a Alemanha encontra-se em um momento de renovação e impulso, com inúmeras oportunidades de negócios que decorrem diretamente da urgência das cadeias de valor globais reduzirem sua pegada de carbono. Espera-se que se faça bom uso desse momento de convergência para somarem forças e liderarem o processo de transformação da indústria verde.

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JOTA

Tradicional relação econômica entre os dois países encontra-se em um momento de renovação e impulso

Encontro Econômico Brasil-Alemanha e os novos rumos da parceria industrial

Relação econômica entre Brasil e Alemanha está em um momento de renovação e impulso, como mostra encontro econômico em Belo Horizonte