O mundo de tax no Brasil nunca mais será o mesmo. Estamos diante de uma hecatombe tributária que levará de nós alguns dos impostos e contribuições que por tantos anos fizeram parte do nosso dia a dia. Sem dúvida a sensação, pelo menos para este profissional de tax que vos escreve é: já vão tarde, muito tarde.
Para ser sincero, já estou pensando no pós-aprovação da reforma tributária, porque muito em breve a aprovação do texto acontecerá. A fase de implementação será muito mais desafiadora e divertida do que a de aprovação, podem ter certeza. Obviamente o texto da reforma tem pontos de debate ainda não explorados, pontos de melhoria extensamente levantados, além de contar com a tão presente falta de consenso que permeia quase todas as mudanças legislativas no nosso país. Mais do mesmo, nenhuma novidade por aqui.
Entretanto, existe um ponto que precisamos enfatizar: a reforma é melhor do que a não reforma. Ponto. Não podemos mais adiar este movimento, sob pena de perdermos ainda mais competitividade internacional em um momento na qual existe uma guerra por atração de investimentos neste mundo pós-pandemia que traz consigo níveis de inflação e risco cada dia maiores. A reforma coloca o Brasil na rota de países que em breve entrarão para a OCDE justamente por conta da reforma tributária e isto pode ser visto pelo exemplo, no mínimo, dos dois últimos países das Américas a entrar na organização – Costa Rica e Colômbia –, que passaram por reformas tributárias pouco antes do ingresso na organização.
Entrar para a OCDE no cenário atual significará para o Brasil a entrada significativa de recursos oriundos de países e instituições que distribuem investimentos em locais muito menos atrativos do que o Brasil, simplesmente porque conseguem ver em países-membros da OCDE uma uniformidade maior de procedimentos de governança tributária. Existem fundos de pensão públicos, por exemplo, que são de longe os maiores investidores do mundo, que deixam de investir no nosso país por conta do atual modelo de tributação e sua insegurança jurídica.
O ponto de inflexão aqui é: se o lucro país aumentar significativamente, eventual aumento de carga tributária para alguns setores da economia terá menos relevância no ecossistema, até porque com a nova metodologia de tomada de créditos pós-reforma, uma boa formação de preços poderá garantir o equilíbrio de condições iniciais no pré e pós-reforma.
No frigir dos ovos, quer você concorde ou não com a reforma, uma coisa entendo que todos concordaremos. Vivemos um momento histórico na nossa indústria e você precisa decidir quem você será neste processo de mudança. O profissional que vai ficar reclamando dos problemas ou o profissional que vai estar à frente da mudança, antecipando tendências e errando mais rápido do que os outros para lá na frente colher os frutos da coragem antes da maioria. Isso é ser protagonista em tax.
Neste sentido, este texto é para você que optou por ser protagonista. É para quem entende que nunca existiu melhor momento para ser profissional de tax e quer navegar por estas enormes mudanças de forma estratégica. Assim, buscarei dividir de forma bem informal a minha visão empírica de mundo sobre o que podemos fazer para sermos protagonistas em uma área que vai ser protagonista por muito tempo.
O primeiro ponto é que protagonismo não é somente para pessoas que falam bem em público ou são extrovertidas. Este é o protagonismo da diversidade em primeiro lugar, porque estamos falando de pessoas com ATITUDE. De pessoas que querem observar, explorar e dialogar sobre o futuro de nossa indústria, quaisquer que sejam suas personalidades. É preciso apenas que você reflita sobre o que pode fazer para se destacar usando suas fortalezas comportamentais e técnicas.
Estamos no tempo da CLAREZA. As pessoas que estão ao seu redor precisam saber quais problemas você pode resolver, qual sua linha de especialização técnica, seus atributos relacionais e quais são suas prioridades estratégicas. Quem tem seu pitch pessoal pronto e difundido sai na frente dos demais porque os tomadores de decisão precisam de velocidade para definir quem vai participar dos grandes projetos.
O protagonista de tax que se destacará é adepto da POLIMATIA. Longe de fazer comparações àquele que é o maior gênio da humanidade na minha opinião, o maior polímata da história foi Leonardo Da Vinci, que além de físico e arquiteto, era pintor, escultor, filósofo, geólogo e por aí vai. Por isso, tenha muito claro que apenas conhecimento técnico não te levará o quão longe você pode ir. É preciso desenvolver outras habilidades, como ser um exímio contador de histórias, comunicação, oratória, noções de psicologia e gestão de pessoas, gestão ágil de projetos, dentre outras que dependerão do projeto de cada profissional. O protagonista de tax não é mais um especialista ou um generalista, mas sim um especialista em vários assuntos. A régua é alta para quem quer liderar mudanças complexas.
Quem se destacará neste mar de oportunidades, em alusão ao norte verdadeiro da cartografia, sabe para onde navegar porque as perspectivas mudam a todo momento e podem confundir quem não pensa criticamente. Desta forma, entenda que não precisamos começar tudo do zero e podemos (devemos) observar e recorrer a tendências internacionais para antecipar acontecimentos da esfera de tax, o que me leva à importância do entendimento do que é o melhor uso da TECNOLOGIA nesta nova era que se inicia.
Em minhas “andanças” por tax globalmente, vejo que as fases de mudanças sempre convergem para um mesmo ponto, que sem dúvida é a capacidade de adequação e parametrização de sistemas de tax que adicionem valor e não ainda mais complexidade.
Tecnologia precisa facilitar e não dificultar a vida dos operadores do direito tributário. Por esta razão, saia na frente e já tenha muito claro um plano de implementação de sistemas do período de transição da reforma tributária do consumo, porque é exatamente neste ponto que grandes multinacionais vêm tendo muitos desafios. É preciso ser inteligente e estratégico para gerenciar um período em que os impostos e contribuições novas e antigas precisarão conviver não necessariamente na mais perfeita harmonia, mas em um ambiente controlado de risco e oportunidades.
Outro ponto que tenho trazido é a percepção da importância e proximidade entre tributos e RELAÇÕES GOVERNAMENTAIS, o que ficou muito mais claro com a proximidade da aprovação da reforma tributária. Percebam o quanto antes a evolução do conceito de elisão fiscal, pois o que significava atuar antes do surgimento do fato gerador dos tributos hoje aponta para uma atuação muito mais refinada e diplomática do profissional de tax que quer ser protagonista: atuar antes do surgimento da própria legislação que versará sobre tributos que impactam negócios.
Neste sentido, DESTREZA POLÍTICA passa a ser uma habilidade que te fará uma pessoa de tax muito mais estratégica, seja esta política interna ou externa. De Brasília à sua baia no escritório, você precisa entender que “viver é um ato político”, como genialmente dizia a filósofa Hannah Arendt.
A reflexão acima passa ainda por entender que precisamos de líderes de verdade que entendam a importância de ser protagonista, mas acima de tudo de pessoas que não terceirizem seu papel de liderança. A virada de chave aqui acontece quando existe a percepção de que todos somos líderes independente da posição que ocupemos, dado que liderança não é uma característica, habilidade, um cargo ou traço de personalidade. Liderança é um processo de INFLUÊNCIA e o quanto antes você entender isto, maior será a sua contribuição para a posteridade.
A verdadeira transformação de tax indubitavelmente passa pelo entendimento do seu papel enquanto protagonista. Customização nunca fez tanto sentido como agora. Customize seu discurso, sua estratégia, as tecnologias que usará e as alianças que fará a partir de quem se comunica com você. Você assim se tornará um vendedor e um prestador de serviços para a indústria omni channel, onde VOCÊ é o produto. Independente da sua indústria ou empresa. Agora é a hora de se valorizar como nunca antes você fez.
Em síntese, se você quer ser um protagonista nesta nova era, erre primeiro que os outros através da experimentação estratégica. Seja claro nas suas interações dentro e fora das empresas. Procure ser especialista em outros assuntos que não tax. Alavanque tecnologia no seu ambiente de negócios. Entenda que o conceito de tax policy vai muito além de um documento que dispõe sobre governança tributária dentro de sua empresa.
Colabore e apareça para a indústria de tax, comparecendo a eventos e observando o mundo de tax à sua volta. Note que compliance tributário é a nova vantagem competitiva das organizações, em um ambiente em que transparência muitas vezes tem valido até mais do que eficiência, mas você atingirá o próximo nível quando entregar, na mesma tacada, transparência e eficiência.
Por fim, quero dividir com vocês que a conclusão deste texto veio a partir de um momento muito pessoal e de uma coincidência incrível. Escrevo este artigo na sala de minha casa olhando meu filho brincar ao som de "A Vida do Viajante", ao vivo, com o inesquecível Luiz Gonzaga e em determinado momento este monstro sagrado de nossa música popular diz: “NÃO ESQUEÇA DO POVÃO, MEU FÍO”.
Parece até que Luiz Gonzaga falou isso exclusivamente para mim neste momento. Mais do que ser estratégico, temos que estar sempre nos relembrando daquilo que realmente importa. Desta forma, os tributos, enquanto fonte de receita do Estado, precisam ser cuidados com muito esmero e cuidado, privilegiando a construção de famílias fortes e quem mais precisa, que são as faixas menos favorecidas de nossa sociedade. Não existe protagonismo sem pensamento social.
Jamais se esqueça disso.