Opinião e Análise

João Cordeiro

Protagonismo vem do grego, que significa o principal. O termo é “emprestado” das artes cênicas, onde o ator principal, seja vilão ou herói, tem o papel mais importante dentro da estória, se tornando o centro da narrativa. Foi uma invenção literária de um dramaturgo chamado Ésquilo (535-455 a.C.). No psicodrama de J.L. Moreno, por sua vez, o protagonista é aquele que vivencia, na terapia, seu próprio drama: o centro do drama.
Fora dos palcos dos teatros ou das telas dos cinemas, o protagonista da vida real é aquele que assume posturas heroicas com o objetivo de solucionar problemas na família, na sociedade ou na empresa, gerando resultados. Para melhor entendermos isso, o protagonismo precisa ser analisado como um dos cinco níveis de responsabilidade.  
<ol>
<li>Responsabilidade básica </li>
<li>Protagonismo </li>
<li>Senso de dono</li>
<li>Prestação de contas</li>
<li>Accountability </li>
</ol>
Você pode, por exemplo, ter experimentado uma doença grave na família. E com certeza, quando isso acontece, muito ajudam de uma forma ou de outra. Talvez um tio leve para uma consulta, talvez um primo ajude com um remédio. Mas sempre achamos uma pessoa daquela família que tomou o protagonismo da situação. 
Sabe os horários dos remédios, os nomes dos doutores, os motivos de preocupação e alívio. Essa pessoa não necessariamente tomou essa posição de forma consciente, mas sentiu que precisou fazer dessa forma e que sua presença era necessária naquela situação.
Durante a devastação que ocorreu recentemente no <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/rio-grande-do-sul">Rio Grande do Sul</a>, vimos vários casos de protagonismo em que pessoas que não necessariamente foram afetadas pelas enchentes decidiram que ajudariam mesmo a grande custo pessoal!
No mundo corporativo, vemos exemplos desse comportamento o tempo inteiro. Muitas vezes, até quando uma situação não era incumbência daquela pessoa: uma usina está acusando desperdício de materiais nos últimos dias e alguém da central decidiu fazer uma visita, entrevistar todos e fazer uma inspeção da usina para entender o que mudou. Ninguém pediu nem ordenou que aquela pessoa fizesse aquilo, mas naquele dia ela sentiu que era necessária naquele lugar e foi compelida a ajudar.
Desde 2000 estudamos a accountability, que entendemos como um senso de dono moral, uma inteligência que percebe as consequências dos nossos atos e busca sempre o melhor resultado. A accountability aparece nas pessoas que desenvolveram ao longo de suas vidas virtudes morais como a coragem, a humildade, a ambição, a compaixão e muitas outras. Encontramos estórias sobre essas pessoas nos antigos textos religiosos, nas mitologias, na poesia e na música.
Parte da postura accountable é justamente o protagonismo. Ele não é a única coisa necessária para se tornar accountable, como também não é verdade que toda pessoa protagonista seja automaticamente accountable por isso. Mas o protagonismo é fortemente relacionado com a accountability pois os dois derivam da virtude da coragem. 
Sem coragem para assumir riscos e consequências, é impossível ser protagonista e é impossível ser accountable. O contrário seriam aqueles que preferem ficar de fora, olhando as coisas sendo feitas e avaliando ou desdenhando de longe. Isso seria entendido como cinismo. O sujeito accountable é o contrário disso. E enquanto ele talvez prefira desenvolver os outros e pensar no todos do grupo, o sujeito accountable está sempre pronto para tomar o protagonismo de qualquer situação na qual ele seja necessário.

protagonismo e accountability

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JOTA

Sem coragem para assumir riscos e consequências, é impossível ser protagonista e é impossível ser accountable

Protagonismo e accountability

Sem coragem para assumir riscos e consequências, é impossível ser protagonista e é impossível ser accountable