Opinião e Análise

Augusto Flores

Na trajetória de qualquer carreira, costumamos trabalhar com boas e más lideranças. É do jogo. Você certamente lembra dos bons e dos maus momentos, com gestores que inspiraram e com outros que você tenta, mas não consegue esquecer. Mas no fim de tudo isso, foi a soma destes bons e maus momentos que te trouxeram até aqui, onde você está, com suas qualidades, defeitos, manias, vieses, crenças e tudo mais. Tudo foi e segue sendo um grande aprendizado.
O que divide uns e outros é o que você faz com o que fizeram com você. Há aqueles que replicam comportamentos maus, de grosseria, falta de respeito, ego, vaidade, egocentrismo, pra ficar em poucos exemplos. A lógica é: “Chegou a minha vez de ser o chefe. Se eu aguentei, minha equipe há de aguentar agora". E seguem estes, esparramados em suas cadeiras altas, em escritórios impecáveis e climatizados, devolvendo a falta de respeito que recebeu por vezes na carreira. O jogo deles é o do medo, da opressão. Quanto mais temido, melhor!
Mas há aqueles que efetivamente aprendem o que fazer e o que não fazer. A lógica é diferente: “Eu não me sentia bem com este tratamento, então farei diferente, iniciando um círculo virtuoso em direção ao bom ambiente de trabalho”. Estes constroem times, ótimos e colaborativos ambientes de trabalho, onde impera a cultura da confiança, há um inegociável engajamento em direção à performance e as pessoas se sentem cuidadas o tempo todo.
Dia desses, ao dar uma palestra em Curitiba, fui questionado por um líder sobre o dilema de que, por vezes, líderes agressivos entregam os melhores resultados. Devolvi com algumas reflexões: (1) será que estes “melhores resultados” são perenes ou só visam aquele pote de ouro chamado bônus, ao final do ano?; (2) será que as equipes que trabalham com estes líderes agressivos se sentem sendo treinadas para a sucessão ou haveria um problema de continuidade, de “turn-over”?; (3) será que as pessoas, quando têm um ótimo ambiente de trabalho, aceitam propostas para trabalharem em ambientes inóspitos, pelo mesmo valor?
Ora, é evidente que agressividade e truculência não parecem ter muita conexão com uma (necessária) visão de longo prazo. É legítimo pensarmos que líderes grosseiros não costumam ter comprometimento nenhum com treinar pessoas para sua própria sucessão. E parece fazer sentido que ambientes tóxicos tendem a pagar mais... do contrário não atrairiam talentos. Apenas provocações, reflexões que poderiam nos levar a uma dissertação de mestrado, claro!
A vida costuma devolver tudo, num lindo “aqui se faz, aqui se paga.” O jogo é você ser lembrado pelas coisas boas. Isso não significa passar pano para ninguém. Quando você é justo, age com coerência, mesmo os feedbacks duros são reconhecidos como importantes momentos, pelas pessoas que trabalharam com você, ao longo da jornada. E o nome disso é legado. No fim das contas, você percebe, depois de 15, 20, 30 anos de carreira, que você nada mais é que um blend de boas e más lideranças com quem você trabalhou ao longo da jornada.

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JOTA

Ao longo da carreira, qualquer profissional encontra boas e más lideranças e todas essas experiências ficam como aprendizado

Blend de liderança

Ao longo da carreira, qualquer profissional encontra boas e más lideranças e todas essas experiências ficam como aprendizado