Opinião e Análise

Marienne Coutinho

Estive recentemente em dois importantes eventos de inovação: o SXSW, em Austin, no Texas, e o Web Summit Rio, na sua primeira edição no Brasil. Ambos são muito intensos e ricos em conteúdo. A tarefa mais desafiadora é decantar tudo o que vemos e ouvimos e traduzir as lições para o nosso cotidiano, tanto pessoal quanto profissional. Mas trago aqui um dos pontos mais comentados e de reconhecimento unânime em termos de importância para a compreensão de todos os demais conteúdos.
Uma das frases mais ouvidas nos palcos de ambos os eventos por empreendedores, CEOs, acadêmicos, artistas e influenciadores foi “eu não sei” ou “nós não sabemos”. De fato, estamos em um momento em que todos estão em busca de conhecimento, da fórmula que nos faça ressignificarmos nosso valor como seres humanos e nosso papel como profissionais. Mas quanto mais aprendemos, mais dúvidas surgem.
Se começamos a entender a <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/inteligencia-artificial">inteligência artificial</a> generativa, por exemplo, imediatamente pensamos em como podemos aplicá-la para tornar nosso trabalho mais eficiente, mais seguro, mais abrangente, mais criativo. Quais os limites da IA? O que podemos terceirizar ou delegar para a tecnologia e qual a parte que ainda nos cabe? Será que seremos de fato substituídos pelas novas tecnologias? Ou apenas perderão espaço os profissionais que não conseguirem de adaptar a elas?
E nessa jornada ainda tem o como. Qual a melhor forma de acesso? Quais os custos envolvidos? Como fazer as perguntas que te levem às respostas desejadas (prompts)? Como lidar com informações proprietárias e confidenciais de clientes em um ambiente público e desconhecido? Como capacitar os times? Como as novas gerações serão treinadas, visto que as atividades que exigem menos experiência estão sendo eliminadas?
Será que o conteúdo das plataformas de inteligência artificial são confiáveis? É um conteúdo ético? Quem são as pessoas que programam as novas tecnologias e alimentam seu extenso banco de dados? Quais são seus valores e princípios? Onde está a regulação que parece nunca chegar, chegar atrasada ou chegar de forma atropelada sem pesquisa, discussão e consenso? É melhor que o governo e suas instituições introduzam regras para reduzir os riscos associados com o uso irresponsável e mal intencionado da tecnologia ou deixar o mercado livre para se autorregular?
Acho que as preocupações advêm do fato de que a maior parte da população não possui uma compreensão ampla da forma como a tecnologia pode de fato impactar a sociedade, os negócios e o mercado de trabalho – e mesmo os que possuem alguma ideia, se sentem impotentes.
Dos eventos de inovação, muitos esperam conteúdos técnicos, quer sejam sobre tecnologia ou outra temática. Mas a verdade é que os assuntos mais impactantes que presenciei foram os relacionados às humanidades. O que trouxe de mais valioso na bagagem possui relação direta com a forma como nos relacionamos com as outras pessoas no nosso dia a dia: como nos percebemos, a importância de se colocar no lugar do outro, saúde mental para dar conta de tantas mudanças, como envelhecer nos novos tempos, construção e manutenção de relacionamentos em tempos de polarização, intimidade artificial (digital) x intimidade real (presencial), a importância do direito à privacidade digital, negócios não apenas no foco do que se faz, mas no como se faz (<a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/esg">ESG</a>). E, novamente, encontramos mais pergunta do que respostas.
Então, voltamos ao ponto das dúvidas, da transformação acelerada e do nosso papel como líderes nas empresas. Por um lado, temos sim que entender como essas tecnologias podem tornar nossas empresas mais competitivas e como podemos dar nossa parcela de contribuição para o negócio. Por outro, vem a nossa responsabilidade com as pessoas como parte fundamental dessa transformação. Essa responsabilidade é de todos nós e não pode ser delegada. Ela passa por disponibilizar capacitação aos profissionais, instigar e incentivar e dar o exemplo.
Dos líderes sempre se cobrou respostas. Hoje, espera-se transparência, vulnerabilidade, flexibilidade e resiliência. A humildade intelectual deve ser o ponto de partida. Que tenhamos coragem para reconhecer que sobre o presente e sobre o futuro, pouco sabemos. Para evoluir, é essencial começar reconhecendo a nossa ignorância, permitindo abrir nossa mente para novas perspectivas e questionar nossas próprias crenças e conhecimentos. E evoluir significa estar confortável com a ambiguidade e buscar maneiras criativas de lidar com a falta de certezas absolutas.
Aquele que acha que tudo sabe está ultrapassado e não inspira. Para liderar é preciso mais do que nunca coragem para ajudar os times a navegarem na incerteza e turbulência. A verdadeira evolução reside no reconhecimento humilde de que, apesar de todos os avanços, ainda sabemos muito pouco. Nos novos tempos, mais valem os valores, princípios e mindset do líder e da organização que nortearão sua estratégia e ações, do que as conquistas passadas, os diplomas na parede e o business plan tão cuidadosamente preparado.
Nessa linha, é importante ressaltar que a colaboração e a busca pelo conhecimento coletivo podem levar-nos a resultados mais significativos e de forma mais eficiente. Quando nos unimos em prol de um objetivo comum, podemos combinar nossas habilidades, perspectivas e experiências para obter soluções mais inovadoras e abrangentes.
Juntos chegamos mais longe (e mais rapidamente também). Então, que não busquemos as soluções sozinhos, que valorizemos a colaboração e a opinião dos outros. Ao fazer isso, estamos abrindo espaço para a diversidade de pensamentos e perspectivas. Cada indivíduo tem sua bagagem de conhecimentos, experiências e visões de mundo, que podem enriquecer as discussões e contribuir para a formação de soluções mais robustas. Quando nos abrimos para ouvir diferentes pontos de vista, podemos identificar falhas em nossas próprias ideias, descobrir novas abordagens e encontrar soluções mais criativas.
Cada vez mais as pessoas estão sentindo falta do contato humano. Talvez daí saiam as respostas que tanto estamos procurando para impulsionar as verdadeiras transformações.

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JOTA

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A importância de reconhecer que não sabemos

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