Opinião e Análise

Roberta Salvador

Paris é a joia do mundo. Minha amiga Paula sempre me disse isso, mas só compreendi verdadeiramente a dimensão dessa frase quando passei a viver aqui. Paris é realmente uma joia, presente em cada esquina, em cada prédio Haussmanniano, em cada ponte, em cada luz que se acende ao anoitecer. A abertura das Olimpíadas foi um reflexo claro da beleza e diversidade da cidade.
Há oito meses, meu marido e eu tomamos a decisão de embarcar nessa jornada “quase” sem volta. Digo "quase" porque, para mim, sempre haverá um lar no Brasil, e porque sou dona da minha carreira e das minhas escolhas.
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Essa decisão foi resultado de um longo processo, feito em conjunto com a família, amigos e colegas de trabalho. Pensamos muito e pesamos cada ponto, mas, mesmo assim, muitas surpresas e desafios inesperados surgiram. Por exemplo, meu time talvez nunca conheça a verdadeira Roberta – aquela das piadas na minha língua materna e com o pensamento mais ágil. Hoje, sinto duas saudades: dos meus filhos que vivem na Austrália e da minha família que permanece no Brasil.
Aos 51 anos, o mercado pode pensar que estou na "reta final" da carreira, que busco um cargo em conselho ou que estou pronta para o último capítulo profissional. Mas a diversidade é linda, e tive a sorte de trabalhar com pessoas que me fizeram e fazem refletir e evoluir constantemente. Evoluir, para mim, não significa apenas alcançar um cargo melhor, mudar de país ou ganhar mais. Significa enfrentar minhas manias e sombras que surgem em momentos de tensão, e, principalmente, me tornar uma pessoa mais empática, que continua aprendendo com aqueles que passam pela minha vida, contribuindo, ainda que um pouco, para cada um que já fez parte do meu time.
Foi por isso que decidi me mudar do Brasil para Paris, aos 51 anos, deixando uma posição confortável para assumir um desafio global no jurídico do grupo L’Oréal.
Tenho certeza de que essa oportunidade surgiu, não apenas pelas minhas habilidades técnicas, mas porque aprendi com meus pais o valor das relações humanas, de ser mais interessada do que interessante, e de acreditar que, com tempo, respeito e dedicação, é possível construir um time, mesmo em um contexto cultural muito diferente.
O início foi difícil: um time totalmente novo em meio a uma reestruturação, um frio intenso (nos mudamos no auge do inverno), uma rotina muito diferente, pensar em português, falar em inglês e ouvir em francês. Acordar com a sensação de ainda estar no Brasil, entender uma nova cultura – meu time é majoritariamente europeu e em sua maioria francês – e lidar com a saudade, muita saudade.
Para me ajudar com a integração com meu novo time, eu busquei compreendê-los antes de querer ser compreendida. Estabeleci uma comunicação clara, declarando a minha intenção antes de tudo e, sempre ajustando para o contexto cultural de cada pessoa. 
Mas a vida é generosa quando agimos com boas intenções e as demonstramos. Tive a sorte de ser muito bem acolhida pela maior parte dos meus colegas, o que fez toda a diferença. E, claro, ter meu marido ao meu lado e minha família sempre presente, mesmo sentindo nossa ausência, me encorajou a seguir esse caminho.
Para finalizar, elenquei aqui algumas dicas que funcionaram para mim neste processo de expatriação:
<ul>
<li>A sua carreira pertence a você: não espere que alguém decida por você. Saiba o que você quer para sua carreira, e trace o plano de como você chegará lá. Deixe claro para todos qual é a sua ambição de carreira. E esteja preparado para explicar, em no máximo 5 minutos, as razões de você ser a pessoa certa para a posição almejada;</li>
<li> Autoconhecimento: descobrir seus pontos fortes e focar neles, em vez de apenas tentar melhorar seus pontos a serem desenvolvidos. Isso é crucial. Existem várias formas de fazer isso, como assessement (Clifton Strenghts[1], por exemplo), pedir feedback para seu time e pares, terapia ou coaching;</li>
<li>Faça sempre o seu melhor: parece básico, mas nada fala mais sobre você do que os seus resultados. Busque sempre entregar o seu melhor e saiba como divulgar os resultados. O contrário nunca funciona. Primeiro entregue, depois divulgue;</li>
<li>Seja generoso e sempre trabalhe em time: para mim essa é uma das ferramentas mais poderosas. Trabalhar e desenvolver projetos em equipe, sempre traz frutos para todos. Ninguém faz nada sozinho, mesmo aqueles que dizem que fazem.</li>
</ul>
Então, hoje, após lágrimas, risos, dias incríveis e outros nem tanto, posso dizer que o saldo é extremamente positivo. Se você também está neste processo, comece hoje mesmo a definir seus objetivos, crie um projeto de como você chegará lá e coloque seu plano em ação.
<hr />
[1] Avaliação desenvolvida por Don Clifton enquanto ele era presidente da Gallup, Inc. A empresa lançou o teste em 2001. Há vários meios de realizar o teste.

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