Opinião e Análise

Luis Henrique Anastácio Ramos

No mês do Dia dos Pais, este artigo poderia ser escrito abordando temas jurídicos como o reconhecimento de paternidade, guarda e custódia, adoção, ou ainda a extensão da licença parental sob a ótica trabalhista. Poderia, ainda, dissertar sobre a ausência ou abandono parental, que torna a maternidade solo um tremendo desafio e transforma aquele que era para ser um "pai" em um simples "genitor", destinando mães a trilharem um caminho solitário e cruel em um dos desafios sociais da sociedade contemporânea de maior impacto.  
Todos esses temas trazem reflexões necessárias e atuais, e cairiam muito bem nesta coluna. Em especial este último, vejo como uma oportunidade ser escrito por alguma autora com lugar de fala, pois imagino não ser nada fácil desafiar-se com a maternidade solo e a preocupação com a carreira. De todo modo, são assuntos que não podemos deixar de colocar em pauta e, em alguma medida, afetam a nossa vida enquanto advogados corporativos.  
Neste texto, falarei sobre liderança, mas com um acréscimo especial. Irei compartilhar algumas reflexões sobre uma das minhas maiores missões e responsabilidades: o dever de equilibrar a vida profissional com a pessoal, fazendo um paralelo entre minha rotina familiar e corporativa.  
Sou pai de três meninos, advogado e lidero há anos um timaço jurídico de uma grande empresa multinacional. Desde que me tornei pai (há seis anos!), pego-me refletindo sobre como me valho da minha capacidade de liderança no trabalho para me ajudar a lidar com os dilemas da paternidade. Ou o contrário, como o aprendizado da paternidade me ajuda a liderar um time jurídico no ambiente corporativo.  
A paternidade também é um exercício de liderança, ainda que em uma outra dimensão de nossa vida, e dela é possível extrair aprendizados para o ambiente corporativo. E, por aqui, esses dois perfis não podem ser contraditórios. Se na organização em que trabalho temos papeis e responsabilidades, na criação dos meus filhos penso da mesma forma: não "ajudo" ou "faço favores". Preciso cumprir com minhas obrigações como pai.  
Na medida em que os filhos crescem (um com seis e os outros dois com quatro anos de idade), cada vez mais se torna perceptível a distinção de personalidade entre eles. Em casa, por exemplo, minha esposa e eu precisamos sempre nos adaptar à forma como cada um deles pensa e age. Dois de nossos filhos são gêmeos univitelinos e idênticos na aparência, mas completamente distintos na forma de pensar, aprender, agir e reagir. Portanto, é preciso personalizar diariamente o nosso jeito de ensinar e de se comunicar, especialmente nos momentos de conflito.  
No ambiente corporativo não é diferente. Ser pai ajuda a entender cada profissional em sua essência, e se adaptar à forma de se comunicar com pessoas de diferentes perfis. A minha empatia melhorou muito com a paternidade. A prática da escuta ativa e observação sempre atenta àquilo que as palavras não dizem, mas as atitudes demonstram é, de fato, um skill em constante evolução em todas as dimensões de minha vida. Percebo com meus filhos e com os meus colegas de trabalho, sejam liderados ou não. 
Outro importante aprendizado é a forma como se aprende a lidar com conflitos. A relação entre pai e filho ajuda especialmente na forma como os enxerga. Aprendi que os conflitos são saudáveis e necessários para o crescimento e aprendizado, em especial sobre a forma como nos comportamos diante deles.  
Imaginem só a minha realidade com três filhos? O conflito é algo muito presente na minha casa. O meu papel, como pai, é sempre buscar uma forma de canalizá-los a algo benéfico e respeitoso. Em um ambiente corporativo, o conflito também se faz presente, mas sempre voltado a pensamentos e ideias diferentes. Aprender a lidar com o conflito, com a diversidade de opiniões, sempre de forma respeitosa, é algo que também aprendo quando ensino meus filhos. Afinal, as divergências, em muitos casos, podem se complementar, gerando novas ideias.  
E assim percebemos que a resolução de problemas é skill bastante relevante para um advogado corporativo e condição sine qua non para a paternidade.   
Incentivar a criatividade também é um bom comportamento corporativo que podemos aperfeiçoar com a paternidade. Buscar um ambiente seguro, diverso, com liberdade para pensar e falar, sem receio ou amedrontamento, é um viabilizador para que as pessoas exercitem a criatividade. E tenho um bom exemplo de que isto pode gerar bons resultados. O nosso time tem um case interno que nomeamos de JuridiCão, que foi concebido a partir de ideias, inicialmente consideradas malucas que, quando somadas, resultaram na solução de uma dificuldade que possuíamos.  
Para não deixar o leitor curioso: o JuridiCão é um jeito leve e lúdico de se comunicar com clientes internos, de forma que eles compreendam as questões jurídicas aplicáveis a cada tarefa e função.
E para que iniciativas criativas surjam, ouvir atentamente e dar espaço é fundamental! As pessoas gostam de ter autonomia (com responsabilidade), e o papel do líder deve ser o de direcionar e abrir espaço para que seus liderados busquem os resultados esperados. Os liderados podem e devem ser os protagonistas.   
Mais uma vez: com os filhos também não é diferente. Traço um paralelo com aquela típica situação cotidiana que todo pai já vivenciou ou vivenciará: quando levo meus filhos ao colégio, eles já não gostam que eu os acompanhe até a sala de aula, na frente de seus amigos e amigas. Preferem ir sozinhos. Sabem o caminho e preferem a liberdade. Entretanto, nos primeiros dias de aula do ano letivo (diante da novidade, do receio) ainda optam pela minha companhia, até que se sintam seguros.  
Finalmente, ao educarmos nossos filhos, naturalmente somos levados à autorreflexão, colocamo-nos no lugar deles quando tínhamos a mesma idade, voltamos às nossas origens e passamos a entender o porquê de alguns comportamentos que exercemos na vida adulta.  
Tenho comigo que um pai sempre será espelho para seu filho, assim, como um líder também será para seus liderados. Portanto, um valioso comportamento aplicável em ambas as dimensões é o Walk the talk. Ou seja, comportar-se de forma consistente entre o que se diz, o que se ensina e o que se faz.  
E será que praticamos aquilo que falamos ou que nos comprometemos, seja perante nossos filhos, nossos liderados ou colegas de trabalho?  
Enfim, escrever este texto me fez refletir o quanto que a paternidade me fez ser um profissional e um líder melhor. Ser pai me faz aprender ensinando!

Opção 01 pai

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JOTA

Como me valho da capacidade de liderança no trabalho para lidar com os dilemas da paternidade e vice-versa

Ser pai é aprender ensinando

Como me valho da capacidade de liderança no trabalho para me ajudar com os dilemas da paternidade e vice-versa