Opinião e Análise

Fábio Magalhães

Há mais ou menos 10 anos, tive a oportunidade de participar de uma semana de treinamentos e networking e, como parte das várias atividades, fomos a um mosteiro na Espanha para interagir com os monges e com eles dialogar sobre liderança, trabalho em equipe, ética, senso de responsabilidade e outras características tão caras à vida, seja ela monástica ou corporativa.
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Um dos treinamentos mais incríveis que já tive a oportunidade de participar e que, olhando em perspectiva, ensinou, pelo menos a mim, tanto pelo que se intencionava ensinar, quanto pelo a mais que de fato transmitiu.
Havíamos ouvido por horas conceitos importantes, narrativas em primeira pessoa, experiências de uma vida. E, em um dado momento do longo sermão, o abade abriu a sessão para perguntas e respostas.
A pergunta lançada foi interessante. Não me recordo os exatos termos, mas a questão central focava em como aquele líder lidava com situações de conflito de seus liderados.
A resposta, um tanto singela, era de que diante de um conflito, trazia-se a querela a ele, líder, e ele então, depois de ouvir as partes e ponderar, emitia a decisão, dando razão a um ou a outro e... pronto.
Provavelmente pensando nos vários conflitos que de alguma forma participou ou mesmo deu causa, a pessoa que havia feito a pergunta insistiu: “Mas e se a solução proposta pelo senhor não for aceita? E se discordarem da resolução? E se restar um ressentimento que prejudique as relações quotidianas?”
“Isso não acontece. O que eu digo é respeitado e não se volta mais ao assunto” – disparou o monge.
De todas as lições que aquele ancião passava para a audiência, dez anos depois, eu me recordo apenas daquela que, parece-me, ele não tinha a intenção de passar. Isso porque ainda que nos conflitos apresentados a ele, monge, a narrativa possa ser até verossímil, nós não somos o monge, e a vida não é em um monastério.
<blockquote class="jota-article__eye">Nos estudos de vida real – para usar a expressão que aprendi recentemente vendo as pesquisas de vacina, as coisas podem se dar de forma um tanto diferente do que no modelo usado como inspiração ou ensaio.</blockquote>
Quando temos a pretensão de solucionar um conflito, a solução proposta será, possivelmente, questionada e não teremos a mesma narrativa final que o tal monge.
Apenas após mediar alguns conflitos pelas estradas, e talvez após uma certa distância temporal, é que se tem a real perspectiva da solução adequada.
Quer dizer, se continuarmos na análise, as coisas que aprendemos nos mais variados treinamentos são, sim, muito importantes, e talvez essenciais para aprofundar conhecimentos, aguçar o sentido crítico, nos desafiar ou simplesmente para nos ampliar as conexões, permitindo-nos conhecer pessoas diferentes, com mentes e experiências diferentes, de modo que nos lembremos também de valorizar a diversidade em todos os seus aspectos.
Mas, de fato, nenhum treinamento jamais encerrará todas as experiências, estudos ou ensaios de vida real que teremos. O que me leva a uma segunda lição que carrego sempre comigo: a de que é preciso ampliar ao máximo as nossas experiências críticas e as combinar com o aprendizado teórico, se quisermos de fato aprender e evoluir.
É pela combinação entre experiências em tese e de vida real que somos aprimorados. E não apenas para a carreira, mas para a vida.
Tomemos um processo seletivo como exemplo. É claro que o recrutador precisa saber se o candidato conhece a teoria.
Isto é, de uma vaga de profissional tributarista, por exemplo, é claro que queremos saber se a pessoa conhece as leis tributárias.
Mas também é igualmente importante entender as experiências tidas. Já errou? Já perdeu um processo? Como lidou com a falha? O que dela aprendeu? Como solucionou? Como traduziu a complexidade tributária para o quotidiano? Se ainda sem experiencia profissional, quais foram, então, as experiências críticas no ambiente acadêmico, nos estágios, nos trabalhos sociais, enfim, em sua vida.
É nessas experiências que vamos testar as teses, viver casos diversos daquele narrado em abstrato. É ali que vamos testar o mundo pelos nossos olhos.
É nas experiências diversas daquelas que o mestre passou em ensinamento, que vamos construir a nossa própria história. Não que seja desgarrada da narrativa usada para transmitir conhecimento, dela se origina e se distancia, à medida que ganha os contornos de nós mesmos.
A essa perspectiva, somemos mais uma. A de que para que a combinação entre ensinamentos e experiencias práticas dê resultado, é essencial buscar oportunidades de estudo, e buscar a maior concentração possível de experiências.
Não basta ser partícipe de seu próprio aprendizado, coadjuvante em sua própria vida. É necessário assumir o protagonismo nessa jornada.
Para qualquer profissional, minha humilde recomendação é de que a busca pelo conhecimento se dê em uma atitude um tanto quanto de sapere aude, concentrando estudo, experimentação e colecionando sucessos e, talvez principalmente, erros.
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JOTA

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