Opinião e Análise

Ines Bahachille

Sou uma venezuelana nativa<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>, neta de imigrantes sírio-católicos e cidadã americana e, assim, sempre valorizei a diversidade cultural e geográfica. Foi com grande prazer que trabalhei com muitos empregadores diferentes em minha carreira de quase 30 anos como advogada. Dentre outros locais, advoguei para uma empresa de petróleo venezuelana (meu primeiro emprego), para alguns escritórios de advocacia americanos, duas empresas americanas, uma espanhola e uma britânica. Já morei em meu próprio país, em Nova York, além de Londres e, por fim, nos últimos 11 anos, em Miami. A experiência que compartilharei neste texto inclui a atuação nos segmentos de petróleo, tecnologia, internet e bens de consumo, em uma grande variedade de temas, como compliance, falsificações, proteção de marca, fusões e aquisições, assuntos governamentais, operações transnacionais, contencioso e muitas outras áreas do direito.
Escolher ser uma advogada interna nem sempre foi fácil, diante de minha “mentalidade empreendedora” e do meu gosto pelos negócios. No passado, já recebi propostas para estar “do lado empresarial”. Decidi permanecer na minha profissão de advogada, com o compromisso de estar muito perto dos negócios e a ser uma “líder de negócios com especialização jurídica”.
Durante todos esses anos, evoluí como pessoa e como profissional, me dando conta de que ter o valor reconhecido não é algo que o Jurídico de uma empresa conquiste automaticamente. E, o que é mais importante, há lugares onde os serviços de “retaguarda”, os de suporte<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>, como são levados ao pé da letra, no sentido de que estar junto e “à frente” é algo incomum e inusitado.
Consumi grande parte da minha energia, paixão, paciência e convicções pessoais na boa batalha para alcançar esse reconhecimento, fazendo com que a função fosse merecedora do que deveria ser: uma grande parceira para fazer a coisa certa, simplificar e ajudar no crescimento da empresa, através de um pensamento inovador e assumindo riscos de forma esclarecida. 
Parece fantástico, mas, para chegar lá, há uma jornada, erros e conquistas, como qualquer outro profissional. Observar o que exatamente eu não queria me tornar e o que eu gostaria de aprender sempre foi útil. Receber feedbacks também me ajudou a entender que percepção é realidade e, finalmente, desenvolver a autoconsciência é uma das coisas que mantenho muito presente para me conectar, o tempo todo, com aqueles ao meu redor. Tudo isso e, ainda, é claro, com o compromisso de formar pessoas e motivá-las para que atuem como uma equipe de alta performance.
Tentarei, a seguir, expressar o que aprendi nesse caminho emocionante, esperando poder ajudar gerações de advogados a ter sucesso e se destacar nesta divertida profissão. Faço isso com muita humildade, então espero que gostem desse Top 10 das práticas recomendadas para advogados internos:
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<li>Formação acadêmica: em uma equipe multifuncional, você é provavelmente pode ser aquele que tem a mais alta e mais longa formação acadêmica dentre seus pares do lado comercial. Não use esta ‘credencial’ para se posicionar. Você não é o seu currículo; você é a pessoa que é lá, e ninguém quer saber sobre seu passado. Somos todos iguais dentro de uma equipe.</li>
<li>Relação com seus pares: Você não está falando com advogados o tempo todo. Use uma linguagem que seus amigos, familiares e pessoas que não são da profissão consigam entender! Isso vai ajudá-lo a ganhar confiança mais rápido. Pergunte às pessoas primeiro se querem que o contexto, o histórico e a formação façam parte do assunto. Na maioria das vezes não é o que vão querer, então esteja preparado para usar menos palavras, com conteúdo sólido. Menos juridiquês!</li>
<li>Código de vestimenta: Observe seu dresscode em sua empresa e tente se adaptar! Se eu usasse meus ternos quando trabalhava para um Portal da Internet, tenho certeza de que não teria me encaixado nem um pouco onde estou agora. A autenticidade é muito importante e ser super formal às vezes pode intimidar as pessoas.</li>
<li>Falar demais ou não o suficiente: fale se precisar, mesmo que não de forma jurídica. Adoro uma expressão do meu país natal que diz: “você não precisa ser a salsa em todas as sopas”, mas há momentos em que precisamos ser a salsa e outros em que certamente podemos expressar nossas opiniões, ainda que não sejam relacionadas à nossa profissão. Se você trabalha em uma empresa onde só pode falar sobre a profissão que representa, pense se é realmente o lugar certo para você. Avalie seus comentários e sua participação, pois não vai querer falar demais, mas não se abstenha o tempo todo.</li>
<li>Na bolha: não confunda “confidencialidade” com se colocar de forma segregada, escondida e quase como se vivesse “dentro de uma bolha”. Trabalhei em uma empresa onde o Jurídico ficava isolado no andar subterrâneo. Eu me mudei e, comigo, trouxe todo o Departamento Jurídico para cima. A confidencialidade continuou existindo por conta das salas silenciosas e, sejamos honestos, nem tudo discutido pelo Jurídico é confidencial. A dinâmica mudou, o trabalho tornou-se mais ágil e o valor que agregamos como função ficou mais evidente e valorizado.</li>
<li>Autenticidade: seja você mesmo e permita que as pessoas saibam que “advogados são pessoas”. Nós dançamos, festejamos, temos famílias, lemos, ouvimos música... É possível construir relacionamentos se você é advogado e mantê-los para sempre, pelo tempo que você quiser. Respeito, confiança e amizade são possíveis e podem coexistir.</li>
<li>Quem é o seu público: aprenda e leia o seu público, incluindo escritórios de advocacia e fornecedores externos. A autenticidade é sempre muito importante, mas não se esqueça de que você precisará fazer ajustes e se adaptar a diferentes stakeholders, dependendo do desfecho. Em uma operação de M&amp;A, não há problema em ficar mais técnico quando você estiver na mesma mesa que os especialistas, mas, quando fizer uma refeição na sua mesa de trabalho, isso provavelmente será desnecessário. Estratégia e mentes voltadas para os negócios são essenciais.</li>
<li>Relaxe: você não precisa saber todas as respostas. Não tem problema dizer: “Não sei e vou descobrir”. Cerque-se de pessoas e equipes fortes e esclarecidas. Pergunte sempre e entenda os fatos antes de tirar conclusões precipitadas, mesmo quando nossos instintos e experiência estiverem a mil em nossas cabeças.</li>
<li>Não pense demais: explicações demais nem sempre são bem-vindas. Pergunte primeiro para entender o que a outra pessoa está querendo. Instrua-os sobre o que você faz também, de modo que possam entender o motivo de “urgência não ser o mesmo que prioridade”.</li>
<li>Ria de si mesmo e divirta-se: ria de si mesmo de vez em quando. Preocupe-se com sua equipe genuinamente e sinta orgulho – e não culpa – por ter escolhido essa profissão! Temos o privilégio de ser advogados e, no meu caso, advogada interna. A verdade é que podemos aprender sobre o negócio de ponta a ponta, geralmente interagimos com todas as áreas e conseguimos entender nosso impacto com clareza. Nunca foi fácil e os tempos estão mudando, mas a oportunidade está aí para demonstrar que o valor que podemos trazer é enorme – e o céu é o limite.</li>
</ol>
Como mencionado acima, esses tópicos são lições que aprendi com meus sucessos, realizações e, sobretudo, ensinamentos que recebi na minha jornada. Sabendo que a próxima geração de advogados internos deve estar ainda mais pronta para assessorar negócios com o mundo em uma transformação digital acelerada e disruptiva, não tenho dúvidas de que tudo isso poderá ajudá-los tornarem-se verdadeiros líderes de negócios com especialização jurídica. Definitivamente, novos produtos e serviços precisam de novos advogados internos com essa mentalidade. Trata-se de um imbatível diferencial competitivo.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> O artigo original foi escrito pela autora em inglês e foi traduzido pela empresa de tradução <a href="https://astradutoras.com.br/">As Tradutoras</a>. Caso queira consultar a versão original, solicitar aos coordenadores da coluna via LinkedIn.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Os serviços “backoffice” geralmente são aquelas áreas que não são o core da organização e sim são suporte para fazer o business acontecer, como o Jurídico, Finanças, RH, TI.

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