Opinião e Análise

Lorena Rizzini

Novo governo, novas metas. As linhas de governo são diferentes e cabem mudanças, mas há espaço para convergência se as ações realizadas pelo ciclo que ora se encerra forem bem explicadas.
Numa leitura de cabeceira, me deparei com a seguinte frase no livro “Felicidade” de Eduardo Gianetti: “Estudar o passado é uma condição necessária para quem almeja – se for o caso – libertar-se dele. Afinal, como também já se disse, “é difícil saber o que torna alguém mais retrógrado – não conhecer nada exceto o passado ou nada exceto o presente”.
Nada mais apropriado para este momento de transição.
A bem da verdade, ignorar as lições aprendidas ou não utilizar a experiência acumulada na busca dos indicadores que farão a diferença na vida dos cidadãos seria um despautério, sendo este o aspecto central: reconhecer a efetividade das ações independentemente de quem as realizou.
Nessa toada, temos que ser eficazes em repassar, da forma mais transparente e técnica possível, os temas relevantes e sensíveis da Instituição, bem como os principais aspectos de governança. Ainda, temos a obrigação de demonstrar os resultados de nossas ações, somente assim teremos credibilidade para assegurar o caminho já percorrido.
Nos últimos anos, o <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/bndes">BNDES</a> passou por um reposicionamento cultural, estratégico e de gestão. Nesta gestão, realizamos uma transformação cultural com a finalidade de se resgatar a imagem do banco e expandir sua atuação, oferecendo novos produtos e serviços. A complexidade do banco é imensa e com a finalidade de se preservar os avanços realizados temos que ser eficazes na comunicação.
Não nos iludamos: as realizações somente foram possíveis em razão das boas provocações conduzidas pelos administradores e a resposta à altura das equipes técnicas do BNDES, do amadurecimento da Instituição e da própria sociedade com a promulgação da <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/lei-das-estatais">Lei das Estatais</a> em 2016 que efetivou inúmeros avanços, como o incremento da profissionalização dos órgãos de administração das empresas estatais, tornando-os ainda mais infensos a interferências políticas, além do aperfeiçoamento decorrente da atuação dos órgãos fiscalizadores, sobretudo o Tribunal de Contas.
Em um cenário cada vez mais favorável a investimentos com elevados padrões ambientais, sociais e de governança (ESG), em meio as questões urgentes sobre a necessidade de uma transição justa para neutralidade de carbono da economia, acredito que o propósito do BNDES permanecerá o mesmo “transformar a vida de gerações, promovendo desenvolvimento sustentável”.
A BNDESPAR, por seu turno, tem atuado como opção de funding para empresas e projetos, de forma a ampliar a utilização do mercado de capitais pelas empresas bem como pelos investidores, contribuindo para a maximização das externalidades socioambientais positivas. Nesta gestão, priorizamos a reciclagem de investimentos maduros, tendo como agenda a ampliação em investimentos em fundos de crédito para micro, pequenas e medias empresas (MPMEs).
O desafio atual frente ao cenário de mudanças climáticas perpassa pela priorização de investimentos em infraestrutura sustentável, operações que proporcionem maior benefício econômico, social e ambiental, com especial destaque para as mudanças do clima.
Assim sendo, destaco para esta coluna em especial, algumas entregas e ações relevantes que envolveram inovação em produtos, processos e regulamentos do BNDES e contribuíram para o propósito do banco ou, ainda, relacionadas às operações e serviços que permeiam as operações de infraestrutura:
Processo de crédito: os regramentos internos foram revisados com a finalidade de prover um menor tempo de resposta aos clientes, maior transparência e por consequência maior facilidade no relacionamento com o banco.
Garantias customizadas e Project Finance: assumimos mais risco com segurança, criando novos arranjos de garantias para as operações do BNDES. Relativamente às operações de Project Finance, promovemos maior flexibilidade e arranjos de garantias permitindo, em determinadas situações, operações de Project Finance sem garantias corporativas dos acionistas (non recourse) e com menos garantias (limited recourse).
Produto BNDES Garantia: ampliamos os meios disponíveis de atuação do BNDES através de seu papel de assuntor de risco, o que pode estimular a sindicalização de projetos ou o mercado de capitais.
Linked loans: a iniciativa consiste na introdução de programas de financiamento no portfólio do BNDES, com características inovadoras de suporte e incentivo a melhores práticas ESG no setor corporativo, oferecendo condições financeiras mais favoráveis quando do atingimento de metas socioambientais.
Banco de serviços do Estado brasileiro: fortalecemos a prestação do serviço de consultoria pelo banco aos clientes das esferas federal, estadual ou municipal, em projetos associados à infraestrutura econômica (projetos dos setores de rodovias, portos e iluminação pública) e infraestrutura socioambiental (saneamento, resíduos sólidos, parques, florestas, saúde, educação e segurança) e desinvestimentos e privatizações. Estruturamos um novo modelo de contratação de estudos para desestatizações, baseado em um modelo privado, contribuindo com o aprimoramento da governança e dos processos vinculados à estruturação de projetos.
Programa de concessões de ativos ambientais: o BNDES vem mudando o paradigma do setor ao criar a carteira de estruturação de concessões de unidades de conservação, com potencial para ser referência mundial.
ESG &amp; clima<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>: avançamos na governança criando o Comitê de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (CRSAC), vinculado ao conselho de administração, bem como a reestruturação do Comitê de Sustentabilidade existente desde 2015, que passou a ser subordinado à Diretoria. Aprimoramos o tratamento dos aspectos ESG (Ambiental, Social e Governança) e de riscos climáticos na política de crédito do Banco, como parte relevante da gestão integrada de riscos. A partir de 2021, cada instrumento de apoio do Sistema BNDES passou a ter que incluir a análise dos seguintes aspectos: classificação socioambiental; contribuições para os ODSs; e impactos socioambientais e climáticos negativos e positivos. Além disso, foi estabelecida nova metodologia para avaliar a gestão socioambiental de clientes. As operações com maior sensibilidade socioambiental passam por processo de análise e acompanhamento mais aprofundado.
Blended finance: inovamos na forma de atuar com os recursos não-reembolsáveis do Banco com a finalidade de incrementar o impacto socioambiental e aumentar a efetividade do apoio. O blended finance é uma estrutura híbrida que combina os recursos não reembolsáveis do Banco com diferentes tipos de capital – público, privado e filantrópico – nacional ou internacional, de forma a alavancar seu potencial e ampliar a escala de recursos disponíveis a projetos com relevante impacto socioambiental.
Apoio continuado para projetos de educação, meio ambiente e geração de emprego e renda: o regulamento do BNDES Fundo Socioambiental (originalmente, Fundo Social) foi revisado para que o BNDES possa atuar como um hub de projetos em temas prioritários, viabilizando o match de até 50% do valor do investimento pelo banco.
BNDES aberto: atuação do banco como um hub de projetos, como indutor de ideias, produtos e inovações, atuando como uma plataforma aberta.
Relatório anual: referenciamos a atuação do BNDES aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), bem como apresentamos as informações previstas pelo Pacto Global<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>. Pela primeira vez, o relatório anual foi assegurado por auditores independentes – KPMG Auditores Independentes – tanto em relação ao modelo do relato integrado quanto ao Global Reporting Initiative (GRI).
Passados quatro anos do início desta gestão, o sentimento que fica é de orgulho diante das entregas do banco. Como cidadã e “benedense” de coração, espero que o BNDES continue surpreendendo-nos com a capacidade de entrega e valor agregado à sociedade brasileira.
Os desafios à frente são inúmeros e o banco possui um corpo funcional da mais alta qualidade com uma expertise de Brasil imensurável e neutralidade política suficientes para se posicionar na vanguarda de soluções de impacto e para a transição para uma economia de baixo carbono.
Em uma frase: temos que ser eficientes ao demonstrar que nosso propósito estava à frente de nosso caminho e o interesse público à dianteira.
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A contribuição desta autora neste artigo é de sua responsabilidade exclusiva e não reflete necessariamente a visão do BNDES sobre o assunto.
<hr />
<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Em 2021, o BNDES lançou o Painel NDC, um complemento ao painel ODS com foco em clima, que mostra a atuação do Banco em relação à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, que são as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa estabelecidas, pelo Brasil, no Acordo de Paris.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Os dados do Painel ODS são atualizados trimestralmente e apresentados na divulgação de resultados do banco.

Rio de Janeiro – Edifício sede do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, no Centro do Rio. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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JOTA

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