ESG: é sobre gente!

Sobre aqueles comentários da reunião passada…

ESG é sobre gente e, como consequência, sobre emoções, reações, comportamentos; ESG é sobre a sua empresa

comentários reunião
Crédito: Unsplash

Aproveitando o momento em que nossa temática da diversidade está totalmente hype vamos falar um pouco de situações cotidianas. Objetivo? Ver se você identifica alguma delas como um viés insconsciente que, muitas vezes, faz com que repliquemos automaticamente comportamentos com elevada carga de preconceito. Todas as situações são reais, baseadas em relatos de amigas, amigos, amigues e adaptadas para nosso espaço. Histórias que coleciono e que me ajudam a pensar sobre comportamentos sociais, éticos e ambientais englobados na sigla ESG.

Fixação por piadas relacionadas à homossexualidade

Durante mais de um ano como integrante de um grupo de altos executivos que, por força do trabalho, almoçavam juntos, chamou atenção da única mulher presente que, no final, o roteiro era sempre o mesmo: piadas e provocações entre os homens sobre homossexualidade. Seja a cor da gravata de um, o corte do cabelo ou, simplesmente, “piadas”. E, detalhe, todos se declaravam parceiros da diversidade na empresa.

Em determinados segmentos produtivos em que homens são maioria, é comum a ênfase de estereótipos enraizados na nossa sociedade. Essa é uma forma de reforçar dominação sobre grupos minorizados. Isso, sobretudo, diante da competição e do individualismo que prevalecem em alguns meios em detrimento da colaboração e do trabalho em time. Ridicularizar alguém pode até gerar a sensação de poder, mas é importante saber que esse comportamento cria um ambiente hostil e afeta a produtividade, a criatividade, a inovação, tudo o que você e sua empresa precisam para sobreviver no mercado.

E nem todos que riem diante de colocações desse tipo concordam com elas. Minha amiga sorria. Argumenta que era reação a um “constrangimento”. Hábito que, hoje, não sente mais obrigação de seguir. Ao contrário, adotou a seguinte prática: “se a conversa caminha para brincadeiras de gênero, interrompo e pergunto se temos outra pauta para discutir. Se não, peço licença e saio. Assim, fica claro meu desconforto”, diz. E você, como reage em situações assim?

Qual o seu conceito de inclusão?

“Tadinha.” A palavra pode até nem ser verbalizada, mas quase dá para sentir no ar. A relação que estabelecemos com portadores de necessidades especiais já na largada é, quase sempre, de inferiorização. Por mais que eles ganhem espaço na sociedade, independência e registrem avanços, acredito que ainda precisamos evoluir muito no quesito inclusão.

Veja só essa: três degraus separavam o colaborador da porta de entrada da empresa. Sem espaço para uma rampa com inclinação adequada, optou-se por uma hidráulica, com uma pequena plataforma e um motor de sustentação para acesso de quem não podia subir degraus. Tudo ok. Até o dia em que a rampa parou de funcionar. O segurança foi escalado para ajudar quem precisasse e o problema foi dado como resolvido porque, semanas depois, tudo estava na mesma. Isso até João recusar ajuda.

Confusão armada às 8h e alguns amigos que reconheciam o direito de João à rampa ainda assim o acharam intolerante. Afinal, ele tinha ajuda. Mas, para João, poucos foram capazes de se colocar no lugar dele e entender que ele queria o que todos nós desejamos: independência para ir e vir, sem precisar acionar ninguém. Ser carregado em sua cadeira de rodas, para ele, equivalia a retirar sua dignidade. “Não sou um coitadinho. Só preciso de condições de igualdade”, desabafou.

Já Joana ficou furiosa ao ouvir uma colega contemporizar com a chefe por causa de um erro dela. “Tenha paciência, ela tem esse problema no olho”. Cega de um olho e com visão parcialmente comprometida de outro, ela fez um relatório com falhas. “Não teve nada a ver com minha visão. Parti de uma premissa errada.”

Usando os óculos do “coitadinho” podemos ficar cegos para o básico: a melhor ajuda pode ser prover as condições para que as pessoas se desenvolvam, e não fazer por elas. Imagine que, no caso do João, a porta de entrada estivesse com problemas e todos fossem ajudados pelo segurança a acessar o prédio pela janela da lateral. Quanto tempo essa situação seria sustentável? Bora refletir sobre os detalhes?

O teste da líder

Mulheres são sempre testadas à exaustão. Essa é a tese. Enquanto no ambiente masculino existe o código não escrito de companheirismo e solidariedade, com a mulher parece que prevalece sempre o “ vamos-ver-se-ela-é-mesmo-capaz”. Só que esse enfrentamento, frequentemente velado, acaba drenando mais energia do que pode parecer.

Escolha de altos executivos, segundo relato de quem já esteve dentro do processo. “Se for mulher, o grupo analisa, analisa e analisa currículo, experiências, tempo em cada local, questiona vários pontos antes de considerar iniciar a entrevista”, diz. “Homens, nesse microuniverso de alta liderança, quase sempre têm competências exaltadas: já passou por tal lugar, então deve ser bom. Eles têm, sempre, o benefício da dúvida, enquanto a mulher tem que provar antes mesmo de saber que está concorrendo a uma vaga”.

E a idade? “Mulher perto dos 60 anos? Humm, já está ultrapassada. Muito old school. Homem na mesma idade? Tem uma bagagem que pode ser interessante”. A mulher no comando de empresa costuma ser julgada por pontos que homens consideram vulnerabilidade. Empatia por quem tem filhos pequenos ou maior atenção às necessidades individuais podem ser alguns deles. “E, talvez, venha daí a necessidade de muitas assumirem estereótipos masculinos. Instinto de sobrevivência.”

Segundo uma amiga com cargo na alta liderança, ela nunca viu uma mulher fazer uma apresentação para o board da empresa (majoritariamente masculino) sem passar por “vários questionamentos e até pegadinhas”. Já com homens, a realidade é outra. Você acha que algo aqui faz parte da usa realidade? Conta para gente.

Sair da versão mobile