Opinião e Análise

Sheila D'Amorim

Um rastro de Barbie se espalhou por aí nos últimos dias, com o pink tomando conta dos shoppings e das salas de cinema Brasil afora. Em paralelo ao sucesso da estreia do filme de Greta Gerwig – que usa da ficção para mostrar um amadurecimento da boneca mais popular do mundo e consolidar a independência feminina como um valor social –, no mundo real as meninas da seleção brasileira de futebol, o esporte mais popular do planeta, embarcaram para a Copa do Mundo Feminina, na Austrália e na Nova Zelândia, carregando evidências de que os avanços que ainda precisam ser conquistados para um mundo mais igual fazem sombra aos já realizados.
E não estou falando, aqui, de um sonho utópico de uma Barbielândia, onde as mulheres reinam soberanas, exercem todos os cargos e profissões e exaltam a independência feminina com um estilo de vida sofisticado. Estou falando de coisas básicas que ganharam destaque no noticiário recente sobre a Copa do Mundo Feminina.
Celebramos uma estrutura inédita para preparação da equipe que representa o Brasil: da logística para agilizar a adaptação ao fuso horário a uma delegação recorde, passando pelo voo fretado pela primeira vez. No entanto, a maior artilheira da história das Copas, reconhecida como melhor jogadora do mundo por seis vezes (recorde entre homens e mulheres), a camisa 10, Marta, reverenciada por onde passa, segue sem patrocinador nas chuteiras.
Ela recusou todas as propostas por considerar que os valores oferecidos não foram justos, comparativamente ao que oferecem aos homens na mesma posição dela. Em vez de marcas fabricantes de materiais esportivos, ela exibe um símbolo personalizado de protesto, pregando a igualdade de gênero, mostrando que, na contramão do resto do planeta, o mundo publicitário não está aos seus pés. Fico pensando: o que mais uma atleta como ela precisaria fazer para ser digna desse reconhecimento?
Se analisarmos alguns aspectos relacionados às personagens e marcas, veremos que Barbie e Marta têm muita similaridade nas suas histórias de sucesso. As duas são ícones, têm fãs leais e dedicados, de adultos a uma nova geração que, no caso de Marta, aproveitou o espaço aberto por ela e outras jogadoras de futebol e hoje se dedica ao esporte. Barbie e Marta têm uma longa história de conquistas, uma abordagem moderna, com temáticas relevantes para atrair novos fãs e manter os antigos. Também carregam mensagens inspiradoras e positivas. Mas a realidade de Marta está a anos-luz da Barbielândia.
Voltando aos destaques recentes da seleção feminina, o que dizer do avião fretado? Assim como a chuteira, chamou atenção para a causa feminina. Desta vez, estampando mensagens de apoio às mulheres iranianas e lembrando a ativista morta pela polícia daquele país por não usar o véu, como é exigido lá.
E nossa talentosa atacante Gabi Nunes? Fora dos campos por lesões no joelho, precisou investir literalmente metade do que ganha por mês no Madrid Clube de Futebol Feminino para montar uma estrutura de treinamento em casa e estar em plena forma para este campeonato. Seguiu as dicas dos jogadores da seleção brasileira masculina Vinicius Jr e Rodrygo, craques do Real Madrid e para quem o custo de estruturas para treinos complementares em casa não faz a menor diferença no orçamento do mês.
Nas telas, é a Barbie que, enquanto explora sua identidade, incentiva o amigo (e não namorado) Ken a buscar sua individualidade. No mundo real, a Kenlândia reina por mais que avanços sejam comemorados. A expectativa é que, no rastro dos protestos de Marta, das meninas do nosso futebol e do amadurecimento de Barbie, homens e mulheres evoluam para um mundo realmente mais igual.

barbie

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JOTA

Realidade da seleção brasileira de futebol feminino evidencia distorções, enquanto na Barbielândia…

Do pink da Barbie às chuteiras da Marta: os sinais de uma igualdade ainda desigual

Se analisarmos aspectos relacionados às personagens e marcas, veremos que Barbie e Marta têm muita similaridade nas suas histórias de sucesso