Opinião e Análise

Sheila D'Amorim

Nada de comemoração, flores, parabéns, homenagens, bombons, massagens ou o que quer que seja. O que eu gostaria mesmo hoje? Que fosse um dia comum. Um dia em que eu pudesse ser eu… brasileira, mãe, profissional, mulher. Mulher que menstrua e tem TPM, que estuda, trabalha, tem posicionamentos e atitudes. Mulher que ganha um salário à altura da sua competência. Mulher que usa biquíni, burca, short, terninho, roupas cringe ou grunge. Casual, roqueira, sexy, glam ou aesthetic. Mulher que sonha com o príncipe, que casa com o sapo ou com a princesa, que pariu, que faz sua própria comida, que come fora de casa, que chora, ri e ama comédias românticas, filmes cult, de ficção, luta, clássicos e, atualmente, doramas... Mulher, simplesmente isso.
Não queria ser julgada, analisada, estereotipada pelas qualidades que são da minha natureza e me fazem tão bem. Não queria precisar lutar por nada só porque sou mulher. Queria lutar pela redução da pobreza, pela melhora do ensino básico à universidade, da saúde pública, da mobilidade urbana. Queria estar ao lado de outras mulheres, de homens e quem mais se identificasse com as minhas bandeiras.
Queria que parassem as admirações porque uma mulher conquistou um lugar de destaque. A primeira mulher a ocupar um cargo, a ganhar um prêmio ou executar determinada função. Quando isso será algo normal? No século passado, a gente já foi para o espaço, já ganhou prêmio Nobel, já subiu o monte Everest, comandou nações, empresas, abriu espaço nas Forças Armadas e para tudo isso: lutamos, lutamos e lutamos.
Na primeira metade do século passado, a <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/igualdade-de-genero">igualdade de gênero</a> já fazia parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). E, quase 75 anos depois, a gente ainda precisa lutar para ser mulher com todos os “direitos humanos” dos homens? Caramba! E o mais engraçado: nossa luta ainda é tratada como bandeira das minorias. Isso mesmo a gente sendo maioria. Segundo a ONU, há dois anos, a quantidade de mulheres no mundo era mais do que o dobro da de homens. No Brasil, de acordo com a PNAD Contínua, um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), somos 51% da população.
Como diria Caetano Veloso, “alguma coisa está fora da ordem. Fora da nova ordem mundial”. Um mundo mais igual, mais inclusivo, socialmente justo ganha destaque nos discursos. E o que falta para isso acontecer? Minha amiga, trabalhando aqui ao lado, comentava enquanto o resto do time discutia ações para marcar o mês de março como um momento de mobilização em torno da temática feminina: “Não vamos avançar enquanto o poder for masculino. Mas somos nós que temos que ocupar esse espaço”. Quase um chamamento para mais uma luta, não?
Ok. Tudo bem. Vamos lá. Mas será que você aí, menino que está lendo essa coluna, conseguiria fazer sua parte e convencer outros amigos? Porque se você fizer diferente, a gente, juntos, consegue sair da luta para conquistas reais. Eu já estou na causa. Está faltando você nesse mundo mais igual, onde possamos lutar por mais empregos, justiça social, direito à saúde, educação. Tem tanta coisa legal para lutarmos juntos. Bora?

womanizer-toys-8oB43mw658c-unsplash

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Queria que parassem as admirações porque uma mulher conquistou um lugar de destaque; quando isso será algo normal?

Chega de luta: dá para simplesmente fazer diferente?

Queria que parassem as admirações porque uma mulher conquistou um lugar de destaque; quando isso será algo normal?