Opinião e Análise

Celso H. L. Silva-Junior

Manter o carbono estocado nas florestas é crucial para evitar o agravamento da emergência climática global. O desmatamento na <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/amazonia">Amazônia</a> afeta serviços ambientais essenciais ao bem-estar humano, além de contribuir para as emissões antropogênicas de carbono. Atualmente, as políticas climáticas estão focadas na redução do desmatamento para evitar emissões de carbono para a atmosfera; no entanto, pouca atenção é dada à degradação florestal – degradação é quando a floresta remanescente sofre algum distúrbio (fogo, extração seletiva de madeira, secas extremas e efeito de borda) que compromete a sua capacidade de prestar serviços ecossistêmicos, como a estocagem de carbono.
De forma colateral, o desmatamento fragmenta os remanescentes florestais, criando áreas de floresta que fazem contato direto com as áreas de pastos e cultura agrícolas, adjacentes, levando ao aumento de temperatura e redução de umidade, e consequentemente ao aumento da mortalidade das árvores nessas áreas. A morte das árvores causa uma emissão de carbono adicional para a atmosfera durante o processo de decomposição da biomassa no solo.
[caption id="attachment_450734" align="aligncenter" width="1008"]<img class="wp-image-450734 size-large" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2023/08/figure0-port-min-1008x1024.jpg" alt="" width="1008" height="1024" /> Emissões de borda e degradação devem ser contabilizadas para políticas efetivas (Figura: Celso H. L. Silva-Junior/Reprodução)[/caption]
De 2001 a 2015 as emissões de carbono devido ao efeito de borda (947 milhões de toneladas) na Amazônia foram o equivalente a 37% das emissões por desmatamento (2,6 bilhões de toneladas). Como as emissões por efeito de borda não são consideradas nos inventários nacionais de gases do efeito estufa dos países amazônicos, milhões, ou até bilhões de toneladas de carbono não são contabilizadas.
Uma notícia alarmante: na Amazônia brasileira, por exemplo, enquanto as emissões por desmatamento caíram entre 2005 e 2015 – seguindo a tendência de queda do desmatamento induzida pelo PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal) –, as emissões por efeito de borda continuaram a aumentar. Isso demonstra que as emissões nas bordas florestais acabam neutralizando parte da redução alcançada pela desaceleração do desmatamento.
Além disso, as bordas das florestas são mais suscetíveis à ocorrência de fogo, devido ao aumento do material combustível que se forma a partir da mortalidade das árvores e as condições mais secas da vegetação em relação ao interior da floresta, aumentando o risco de espalhamento do fogo e início de incêndios florestais. A ocorrência de fogo potencializa a morte de árvores, levando à perda de biodiversidade e aumentando a emissão de carbono devido à degradação.
Entender a real dimensão das emissões de dióxido de carbono relacionadas à degradação florestal na Amazônia é o primeiro passo para elaborarmos estratégias específicas para tratar cada componente responsável por essas emissões, incluindo o desmatamento, o efeito de borda, os incêndios florestais e a extração seletiva de madeira. A magnitude dessas emissões pelo efeito de borda demonstra que qualquer intervenção na floresta não pode ser desordenada como ocorre, mas planejada, dentro de um escopo de planejamento do uso da paisagem, visando minimizar a formação das bordas florestais.
Dessa forma, é urgente que os países amazônicos, ou todas as nações tropicais, quantifiquem e reportem as emissões das bordas florestais juntamente às emissões por desmatamento. Essa ação é importante para que as emissões de carbono sejam corretamente contabilizadas nos Níveis de Referência Nacionais das Emissões Florestais relatados à UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), nas linhas de bases de programas de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) particulares e jurisdicionais, além dos inventários nacionais de gases do efeito estufa. Somente com a correta contabilização das emissões de gases do efeito estufa poderemos conseguir limitar a escalada do aquecimento do nosso planeta, e garantir uma Terra habitável para as futuras gerações.

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JOTA

Magnitude dessas emissões demonstra que qualquer intervenção na floresta não pode ser desordenada como ocorre

Silenciosa e traiçoeira: a emissão de carbono das bordas florestais na Amazônia

Emissões de carbono das bordas florestais equivalem a cerca de 37% das emissões por desmatamento na Amazônia