Opinião e Análise

Elias Serejo

O racismo ambiental, essa intersecção complexa entre injustiça social e degradação da natureza, ressoa na <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/amazonia">Amazônia</a> – uma região onde as disparidades são visíveis e profundamente sentidas. Povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, mesmo sendo os que mais contribuem para a conservação do bioma, são os mais impactados pelas emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e contaminação de rios. 
A relação entre as mudanças climáticas e o racismo ambiental é uma faceta crítica da emergência global. Práticas insustentáveis e emissões excessivas exacerbam as vulnerabilidades de povos e comunidades já marginalizadas, aprofundando as disparidades existentes.
Na Amazônia, isso se manifesta de maneira aguda: enquanto o desmatamento, os incêndios e o garimpo impulsionam as mudanças climáticas, os efeitos resultantes — como alterações no regime de chuvas — impactam desproporcionalmente as populações tradicionais, comprometendo ainda mais sua capacidade de subsistência e resiliência. 
Racismo ambiental é quando comunidades de minorias étnicas ou econômicas enfrentam mais problemas ambientais em comparação com outros grupos. Isso significa que essas comunidades, habitadas por pessoas negras ou indígenas, por exemplo, estão mais expostas à poluição, ao desmatamento, à falta de acesso à água limpa e ao ar puro, e sofrem mais com as consequências de eventos extremos ou da exploração de recursos naturais. 
Em outras palavras, o racismo ambiental acontece quando um grupo específico de pessoas, por causa de sua raça, etnia ou situação econômica, é obrigado a viver em áreas menos saudáveis e mais perigosas, como próximo a aterros sanitários, indústrias poluentes ou em locais mais afetados por desmatamento e outras formas de degradação ambiental. 
Esse fenômeno é resultado de decisões políticas e sociais que negligenciam os direitos dessas comunidades, deixando-as à margem da proteção ambiental e da participação nas decisões que afetam seus territórios e entorno e, consequentemente, sua saúde e seu bem-estar. 
Portanto, o racismo ambiental é uma forma de discriminação que interliga questões de raça, meio ambiente e justiça social, exigindo atenção e ação para garantir que todos tenham o direito a um ambiente saudável e seguro, independentemente de sua cor de pele ou condição econômica. 
Os dados do último Censo são reveladores: enquanto uma ampla maioria da população branca tem acesso a saneamento adequado, o mesmo não se pode dizer para as comunidades pretas, pardas e, de forma ainda mais aguda, para as indígenas. Na Amazônia, a situação é mais crítica, refletindo um cenário onde menos da metade da população negra e parda tem acesso a serviços básicos de saneamento. 
As soluções para essa interseção problemática exigem uma abordagem multifacetada que reconheça a interconexão entre a justiça climática e a justiça social. Isso implica em reconhecer as comunidades tradicionais e marginalizadas não apenas como vítimas dos efeitos das mudanças climáticas, mas como atores essenciais e informados na luta contra essas mudanças. A incorporação de seus conhecimentos e práticas tradicionais no desenvolvimento de estratégias climáticas não só é uma questão de justiça, mas também uma maneira eficaz de abordar a emergência climática de maneira integrada e sustentável. 
Entre as iniciativas brasileiras para combater o racismo ambiental destacam-se a criação do Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra e Enfrentamento ao Racismo Ambiental, no âmbito do Ministério da Igualdade Racial; e o Mapa de Conflitos, Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que fornece uma plataforma para amplificar as vozes daqueles frequentemente silenciados, destacando as lutas dessas comunidades pela afirmação de seus direitos básicos. 
A luta contra o racismo ambiental, portanto, transcende a simples mitigação de impactos ambientais negativos: trata-se de reconhecer e valorizar a diversidade cultural e os conhecimentos tradicionais como componentes fundamentais para a sustentabilidade e a justiça social. É uma jornada em direção a um futuro onde a equidade ambiental é vista não como um ideal, mas como um pilar central para a conservação da Amazônia e o bem-estar de todos os seus habitantes.

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JOTA

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