Opinião e Análise

Vera Arruda

Assim como em diversos locais do planeta, os incêndios florestais têm aumentado na Indonésia a cada ano. Os impactos vão além das suas fronteiras e afetam países vizinhos como Malásia, Singapura, Filipinas e partes da Austrália.
Além de ameaçar a qualidade do ar da população, os incêndios florestais podem afetar diretamente os ecossistemas, contribuindo para o aumento das emissões de gases do efeito estufa e para a perda da biodiversidade. Os danos têm potencial para serem ainda maiores no futuro, com o aumento do desmatamento, a crescente ameaça aos ecossistemas ambientais e as mudanças climáticas.
Como no Brasil, a principal causa dos incêndios florestais na Indonésia está relacionada às atividades humanas, mas de forma diferente. O país asiático tem um tipo predominante de ecossistema onde o solo é composto por turfeiras (ou peatlands), que contêm acúmulo de material orgânico decomposto, podendo alcançar vários metros de profundidade e tornando-se altamente inflamável. A drenagem de turfeiras para plantações agrícolas em grande escala é uma das principais causas de fogo no país.
Em visita a Jacarta junto de Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora na rede MapBiomas Fogo, apresentamos a metodologia utilizada no mapeamento de cicatrizes de fogo para que pesquisadores na Indonésia possam desenvolver uma série histórica de dados de área queimada para o seu território, assim como fazemos no Brasil.
[caption id="attachment_445940" align="aligncenter" width="943"]<img class="wp-image-445940 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2023/08/ipam1.png" alt="queimadas" width="943" height="508" /> Ane Alencar e Vera Arruda (centro) com pesquisadores que integram a rede MapBiomas Indonésia. Crédito: ONG Auriga/Reprodução[/caption]
O MapBiomas Fogo é uma iniciativa da rede MapBiomas com coordenação do IPAM para mapear as cicatrizes de fogo no Brasil. Em abril, foi lançada a<a href="https://mapbiomas-br-site.s3.amazonaws.com/downloads/MapBiomas_Fogo_2023_v6_25.04__1_.pdf"> Coleção 2</a> com série histórica de área queimada sobre o território nacional ao longo de 38 anos (de 1985 a 2022). Os dados são fundamentais para o monitoramento, análise e tomada de decisões relacionadas a incêndios florestais, conservação ambiental e ações para mitigar os impactos negativos do fogo nos ecossistemas e no clima. 
O mapeamento com imagens de satélite é uma abordagem eficaz para monitorar e analisar a ocorrência de eventos de fogo em grande escala em ambas as regiões. Porém, a Indonésia enfrenta desafios para esse tipo de monitoramento devido à cobertura frequente de nuvens, presença de fumaça e névoa e necessidade de alta resolução espacial para detectar pequenos incêndios. Superar esses obstáculos requer tecnologias avançadas de sensoriamento remoto, algoritmos de processamento de imagens e cooperação entre instituições para melhorar o monitoramento na região.
[caption id="attachment_445425" align="aligncenter" width="825"]<img class="wp-image-445425 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2023/07/em-clima-de-justica-2.png" alt="" width="825" height="460" /> Exemplo de cicatriz de área queimada decorrente de uma erupção vulcânica na Indonésia: um padrão não encontrado no Brasil. Crédito: satélite Landsat em 2019[/caption]
Como o clima na Indonésia é tropical úmido, com alta ocorrência de chuvas, a vegetação dominada por gramíneas consegue se recuperar rapidamente após um evento de fogo devido à grande disponibilidade de água. A foto abaixo ilustra bem esse evento: é possível observar a rápida recuperação da vegetação após a ocorrência de um fogo a menos de dois meses.
No Brasil, os biomas com maior presença de fogo são o Cerrado e a Amazônia, mas cada um tem uma dinâmica específica. O Cerrado, com sua vegetação mais adaptada ao fogo, tem histórica relação com queimadas sazonais, porém, a combinação de atividades humanas e mudanças climáticas têm alterado o regime do fogo (extensão, sazonalidade, frequência e intensidade), levando à degradação do solo, invasões biológicas e perda de biodiversidade. Já na Amazônia, o fogo naturalmente deveria ser um evento raro. No entanto, ela queima tanto quanto o Cerrado devido às práticas de manejo do uso da terra, principalmente a queima de pastagens, e à fragmentação e aos distúrbios florestais derivados do aumento do desmatamento e da interferência humana na paisagem.
O uso de imagens de satélite Landsat com resolução de 30 metros e intervalo de 15 dias permite a construção de uma série histórica de 38 anos de áreas queimadas no Brasil. Com o emprego de técnicas de deep learning e processamento em nuvem conseguimos aumentar a eficiência e diminuir os custos e tempo de processamento. Além disso, ter especialistas de cada bioma também é essencial para um mapeamento mais preciso das áreas afetadas pelo fogo no país.

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JOTA

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