
“Janssen, AstraZeneca ou Coronavac?”, me perguntou a funcionária do posto, assim que entreguei meus documentos para receber a terceira dose da vacina contra Covid-19. Depois de meses lendo as críticas sobre pessoas que faziam verdadeiras peregrinações para encontrar o imunizante desejado e de estar convicta de que todas as vacinas disponíveis no país são seguras e eficazes, minha cabeça deu um nó.
Segurando o chumaço de algodão no braço, saí da unidade básica de saúde sentindo-me mais protegida, mas desamparada. O ideal não seria que os funcionários, bem treinados, indicassem e explicassem o melhor esquema para mim? Ou que houvesse uma comunicação na unidade, para esclarecer o que é mais apropriado caso a caso? Não foi o que aconteceu comigo nem com os demais que estavam na fila. Isso foi meses atrás.
O número de casos de Covid-19 voltou a subir, os indicadores de vacinação estão empacados e longe de uma margem segura, internações aumentaram e a doença continua provocando mortes. Dados preliminares do Espírito Santo divulgados nesta semana mostram que 71% dos óbitos provocados pela doença ocorreram entre idosos. Das mortes, 92% foram entre pacientes que estavam com esquema vacinal atrasado. Campanhas de comunicação para vacinação, no entanto, estão longe de ser prioridade no país.
E qual é o esquema vacinal completo? Diante das evidências, três doses. No caso da Janssen, a recomendação é uma dose, com indicação de reforço para população acima de 50 anos e profissionais de saúde.
O Espírito Santo, porém, avalia a possibilidade de a vacina deste fabricante passar a ter indicação para três doses, com possibilidade de reforço, de acordo com a idade, seguindo estratégia semelhante à preconizada para vacina da AstraZeneca
O Ministério da Saúde afirmou não haver, neste momento, indicação de que haverá mudanças na classificação da vacinação básica da Janssen.
Mas o que é preferível? Reforço para todas as vacinas ou estratégias distintas? Quando se trata de uma doença ainda nova, revisões são essenciais. À medida que o conhecimento avança, ajustes são realizados. E isso vale também para outras recomendações. Especialistas estão convictos de que máscaras são essenciais em locais fechados. Mas, mesmo diante do novo avanço da doença, poucas são as autoridades que defendem a necessidade do retorno da obrigatoriedade das máscaras em locais fechados e no transporte público. Em ano de eleições, há sempre o esforço de se evitar medidas impopulares e distribuir bondades.
O ideal seria que discussões fossem feitas de forma transparente, que decisões fossem tomadas e comunicadas de forma clara para a população. Admitir o que ainda não se sabe, fazer ajustes, alertar para riscos de forma clara e responsável. Também seria ótimo que questões políticas fossem deixadas de lado no momento de se definir estratégias de saúde.
Não deixa de ser estranho ouvir um ministro dizer que o uso obrigatório de máscaras não tem benefício comprovado. É de dar nó na cabeça. E enquanto isso, em muitos postos funcionários continuam perguntando: “Qual vacina você quer?”.