coluna do graner

Instituições públicas ganham espaço em crédito para empresas

Mercado de títulos, porém, segue forte como alternativa de financiamento

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Edifício-sede do Banco do Brasil, em Brasília. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Um dos temas de preocupação do Banco Central e do mercado financeiro, o crédito fornecido pelas instituições financeiras estatais tem crescido em ritmo mais acelerado em comparação com bancos privados nacionais e em relação aos estrangeiros que operam no país.

De acordo com dados do BC, os bancos estatais tiveram neste ano alta de 2,5% em seu estoque de crédito para empresas e famílias, enquanto os nacionais recuaram 0,8% e os estrangeiros subiram 1,4% de janeiro a maio. O saldo de crédito de estatais e bancos nacionais é muito similar (R$ 2,32 trilhões e R$ 2,27 trilhões, respectivamente), enquanto os estrangeiros representam cerca de um terço na comparação com esses dois grupos, em torno de R$ 791 bilhões.

O governo Lula tem uma política deliberada de acelerar o crédito por meio dos bancos públicos. Mas é importante ressaltar que esse movimento tem ocorrido desde o ano passado, quando o governo autodeclarado liberal de Jair Bolsonaro também acelerou a oferta de crédito dos bancos estatais. Dessa forma, quando se olha o saldo dos bancos públicos, o crescimento em 12 meses até maio foi de 12,5%, ante 9% dos privados nacionais e 8,5% dos estrangeiros.

Em grande medida, isso ocorre por conta da liderança do chamado “crédito direcionado” (aquele que tem um público ou objetivo específico) na expansão do sistema financeiro nacional. De acordo com o BC, esse crédito com alvos específicos tem crescido tanto para as empresas como para as famílias, mas é no primeiro grupo que a diferença é mais gritante, provavelmente por conta do episódio das Americanas, que enfrenta uma crise decorrente de fraudes contábeis.

O crédito direcionado para PJ cresceu neste ano 0,8%, enquanto as operações com recursos livres dos bancos caíram 4,3%. Em 12 meses, a diferença foi ainda mais intensa, com os empréstimos livres para as empresas subindo 1,8% e os feitos por meio de recursos direcionados, 9,4%.

É importante ressaltar que direcionamento não é a mesma coisa que subsídios, embora as coisas se misturem em parte. Durante as gestões petistas passadas, houve uma forte aposta nesse tipo de operação, mas nos últimos anos de agenda de corte liberal as possibilidades de operações subsidiadas encolheram sensivelmente e, mesmo quando ocorrem, há maior sensibilidade com os movimentos de mercado. Tanto é que agora as taxas de juros do direcionado têm subido neste ano e em 12 meses, ainda que em ritmo mais modesto do que as livres.

O desempenho mais intenso de bancos públicos e do crédito direcionado, especialmente para as empresas, significa a retomada do modelo antigo e maior dependência do financiamento estatal? Pelo menos por enquanto a resposta parece ser não.

O chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, reconhece a liderança desse tipo de operação no sistema financeiro nos dados dos últimos 12 meses, mas pondera que hoje há também que se considerar o crédito fornecido via mercado de capitais. Hoje, o estoque desse tipo de operação no mercado doméstico de títulos é de R$ 1,46 trilhão e cresceu 6,6% nos cinco primeiros meses do ano e 29,7% em 12 meses.

Ou seja, os bancos privados nacionais podem estar jogando na retranca, mas hoje há alternativas relevantes para além do crédito público e elas continuam tendo boa performance. Dessa forma, é importante que o governo não tenha só um discurso de que atuará em cooperação com o setor privado, sem tomar seu espaço, mas que isso seja prática.

É bom que BNDES, Caixa e BB ampliem suas operações e ajudem no crescimento econômico, pois tinham encolhido demais, sobretudo a instituição de fomento hoje liderada por Aloizio Mercadante. Mas que isso seja feito com moderação e sem repetição de erros do passado.