As pesquisas eleitorais são onipresentes na política. E ainda mais visíveis no período que antecede as eleições presidenciais. Com base na experiência de outras eleições, uma coisa é certa: o número de pesquisas divulgadas vai aumentar à medida que nos aproximamos de 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições.
Na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2016, o site FiveThirtyEight contabilizou mais de 4.200 sondagens eleitorais durante a campanha eleitoral daquele ano. Quatro anos depois, esse número ficou ligeiramente acima de 4.100 levantamentos, mas parece ter sido afetado pela pandemia.
No Brasil, o Pesqele (Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral – TSE) contabilizou em 2018 mais de 700 sondagens sobre a disputa presidencial. Neste ano, até agora já foram registradas 33 pesquisas nacionais, mas a expectativa é que esse número cresça e que tenhamos mais pesquisas em 2022 do que em 2018.
As pesquisas eleitorais se tornaram um recurso cada vez mais comum na cobertura pré-eleitoral realizada pela imprensa. No jornalismo essa tendência recebeu até um nome: horserace ou game-framing journalism. Algo como jornalismo de corrida de cavalos ou de enquadramento.
Esse estilo de reportagem se concentra apenas em como os candidatos estão se saindo: quem está na frente, quem está atrás, quem está ganhando tração e quem está perdendo terreno.
As pesquisas eleitorais, ao perguntar para os eleitores sobre suas intenções de voto, dão a ilusão de prever o vencedor da eleição. Como todas essas pesquisas de opinião não são criadas da mesma forma, é melhor sempre analisá-las com cautela.
Umas das primeiras coisas a verificar em uma pesquisa é o local onde ela foi realizada. Se foi conduzida de forma presencial, se foi por ligações telefônicas, por meio de um painel online ou se foi em um site, redes sociais ou blog. É mais fácil influenciar os resultados de uma pesquisa realizada na Internet, seja votando várias vezes ou mesmo inserindo informações falsas sobre o perfil sociodemográfico, como sexo, idade ou renda.
A importância da amostra nas pesquisas eleitorais
Existem dois tipos (puros) de amostragem utilizados na construção de uma boa pesquisa. O mais confiável, mas também o mais caro, é coletar uma grande amostra de pessoas selecionadas aleatoriamente de toda a população. A confiabilidade aqui equivale a um grande número de pessoas – várias dezenas de milhares.
O método mais utilizado no Brasil é o das “quotas” (ou cotas). Consiste em recriar, através de uma amostra dita “representativa”, um retrato em miniatura da população brasileira, respeitando as proporções da população “real”. Este método é preferido pelos institutos porque é mais barato e rápido de ser executado.
Embora cada método tenha vantagens e desvantagens, um critério deve ser considerado analiticamente: o tamanho da amostra. Numa pesquisa com menos de 800 pessoas entrevistadas, a margem de erro é muito grande. A maioria das pesquisas eleitorais realizadas hoje no país tem pelo menos 1.000 pessoas.
Existem grupos que também conduzem pesquisas autoadministradas na Internet, frequentemente usando as redes sociais e listas de e-mails. Quase sempre a divulgação dessas pesquisas contraria a legislação eleitoral e o que é pior: a generalização desses resultados podem conter enormes vieses e fragilidades metodológicas. Por exemplo, determinados públicos podem estar mal representados (principalmente os jovens) numa determinada rede social, além de ser possível responder várias vezes sob identidades falsas.
Margem de erro é importante, mas é preciso cautela
A margem de erro é outro ponto fundamental. Apesar da estatística ser considerada uma ciência exata, seus resultados estão sempre associados a variações e a uma pequena margem de erro, exatamente por estarem baseados em uma amostra da população.
Por exemplo, se uma pesquisa anuncia uma margem de erro de 3 pontos percentuais, então um resultado entre dois candidatos testados em um eventual segundo turno de 49% para um contra 52% para o outro não nos permitiria concluir quem seria o vencedor. A matemática da pesquisa funciona da seguinte forma: tendo em conta a margem de erro divulgada pela pesquisa, estes 49% de intenção de votos podem então corresponder a 46% ou 52%, enquanto os 52% do segundo candidato também podem corresponder a um resultado final de 49% ou 55%.
Finalmente, quanto mais longe uma pesquisa for realizada da data da eleição, menos confiável ela será. Não apenas os eleitores podem mudar de ideia, mas, o que é mais importante, às vezes nem todos os candidatos já estão definidos ou são conhecidos. De qualquer forma, uma pesquisa rigorosa é, na melhor das hipóteses, uma fotografia da opinião em um determinado momento, mas nunca uma previsão.
A seguir, preparei uma árvore de decisão que nos ajuda a identificar os limites das sondagens eleitorais nestas eleições.