A primeira ordem judicial brasileira cumprida pelo Telegram reforçou entre operadores políticos a percepção de que é necessário avançar no projeto de combate à disseminação de notícias falsas. A lógica é que apenas uma lei tornaria perene a conduta da empresa russa que, embora tenha emitido um sinal positivo, carrega um histórico de dois anos de tentativas frustradas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O esforço para manter viva a discussão passa pela contrariedade do centrão com os sinais dados por Jair Bolsonaro de que não pretende ceder no embate com a Corte eleitoral sobre a legitimidade das urnas eletrônicas, mesmo após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), trabalharem para derrotar a proposta do voto impresso.
Ciente de que a manutenção da briga com o Judiciário parece inevitável para manter coesa a base bolsonarista mais ideológica, esses partidos passaram a buscar novos meios na própria casa, o Congresso Nacional, para influenciar a disputa entre os Poderes. O grupo de legendas sabe que, se nada for feito, o vácuo deixado pela política será preenchido por decisões judiciais, o que é sempre incômodo aos ouvidos dos partidos.
O atalho mais promissor, até aqui, aponta para o PL das Fake News na Câmara relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). O político da oposição conseguiu o compromisso do presidente da Câmara em trabalhar para levar, neste mês, o texto para votação em plenário.
A habilidade nas negociações com as bancadas de centro favoráveis ao avanço da discussão, sugerindo ajustes pontuais no texto, acendeu um alerta no Planalto de que, antes de comprar briga com mais um Poder, terá de sentar-se à mesa para negociar. Se considerar apenas os representantes mais radicais, puxados pelo coordenador da estratégia digital da reeleição do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, o governo teria divergências de mérito inconciliáveis.
No entanto, é preciso lembrar que, na Câmara, quem fala pelo governo é o centrão, agraciado formalmente pela articulação política por meio do líder, o deputado Ricardo Barros (PP-PR).
A política tradicional, simbolizada no pragmatismo do centrão, gosta de lembrar que, embora enfraquecida, sobreviveu ao efeito das notícias falsas na eleição de 2018. Em quatro anos e uma pandemia depois, o cenário eleitoral mudou, mas não a ponto de fazer a política profissional se esquecer da importância de atravessar uma campanha digital com freios puxados pelas instituições. Ater-se a isso é, para a política, trabalhar pela própria sobrevivência. Mesmo que, hoje, alguns sejam base do atual inquilino do Palácio do Planalto.