O otimismo aterrissou no QG de Jair Bolsonaro (PL) às vésperas do início oficial da campanha eleitoral nesta terça-feira (16). Primeira rodada dos pagamentos turbinados de benefícios sociais, nova redução no diesel, deflação e queda do desemprego são algumas das razões que amparam o clima de animação do candidato que está atrás nas pesquisas de intenção de voto.
O elenco de medidas econômicas anunciadas nem fez corar o Planalto diante da dimensão histórica do ato pela democracia no dia 11. No dia anterior à leitura da carta, o presidente da República seguia a cartilha do centrão ao indicar aos ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski que pretendia comparecer à cerimônia que marca o início do novo comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A validade do cessar-fogo é incerta, mas o fato é que a reação da sociedade civil às ameaças institucionais, incluindo o suporte de setores empresariais e financeiros, antecipou o aval do candidato à reeleição por um acordo negociado nos bastidores com o Judiciário. Com o centrão no figurino de amortecedor, a costura pressupõe desmobilização de atos violentos no 7 de setembro, em troca de alguma sinalização do TSE às demandas sobre as urnas eletrônicas. Na política, mais do que ser, o que importa é parecer ser, e por isso as tratativas têm sido associadas a um jogo de mímica em que os dois lados encenariam dias mais tranquilos até a eleição.
O entorno político de Bolsonaro é o mais interessado na ficção, pois calcula que o ruído é suficientemente barulhento para ofuscar resultados favoráveis na economia que podem render a vitória. “É muita notícia boa em um cenário ruim de guerra e pandemia”, resumiu o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (PL-TO).
Pelo roteiro do bloco, os resultados de uma eventual virada no tabuleiro eleitoral começaram a aparecer no fim do mês. A euforia deu as caras, na semana passada, diante de levantamentos que apontam uma redução considerada acelerada da vantagem para o ex-presidente Lula (PT), sobretudo no eleitorado feminino e evangélico, consequência direta da atuação da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Os bons números recebidos pelo QG bolsonarista, principalmente no Sudeste, chegaram em forma de apreensão no PT, que passou a identificar ainda uma desidratação do ex-presidente no seu principal reduto eleitoral, o Nordeste, antes mesmo dos efeitos da PEC. Em resposta, Lula foi às redes sociais no fim de semana dizer que o valor de R$ 600 do Auxílio Brasil será mantido caso vença a eleição, o que não ocorreria em caso de reeleição de Bolsonaro – acusação negada de imediato pelo adversário.
Um cruzamento de dados do governo indica que 8 dos 9 estados do Nordeste possuem mais da metade dos eleitores entre os beneficiários do programa de renda. A exceção é o Rio Grande do Norte, com 48%. Projeções mais otimistas apontam que o impacto da medida se converteria em um aumento de Bolsonaro na região de até 10%.
Não se sabe qual seria a velocidade do suposto crescimento, mas a percepção do mundo político é que está cristalizada uma disputa apertada entre os dois candidatos no segundo turno. Ao ver a vantagem diminuir na principal trincheira vermelha do país, restaria ao PT expor mais ideias programáticas, com concessões ao centro em busca do eleitorado do Sudeste. Resta saber se o partido está disposto a dizer o que colocaria de pé a partir de janeiro além da oferta de retomada da normalidade das relações entre Poderes que, apesar de não ser pouca coisa, diz pouco ao Brasil que o ex-presidente Lula conhece como ninguém.