Análise

Lula tem enfrentado mesmas dificuldades que Bolsonaro na relação com a Câmara

Governo terá de ceder mais espaço ao grupo político de Lira se quiser governar

Lula Bolsonaro Congresso
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira / Crédito: Ricardo Stuckert/PR

Lula depende mais de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, do que gostaria. E a entrada do governo na briga entre Câmara e Senado pode apresentar novas complicações à governabilidade petista a depender do desfecho da disputa.

O Planalto, assim como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), diz querer o óbvio, ou seja: o cumprimento da Constituição, que determina que etapa inicial da discussão de Medidas Provisórias no Congresso precisa ocorrer por meio de uma comissão formada por 12 deputados e 12 senadores.

Acontece que o óbvio vai na contramão dos interesses do presidente da Câmara. E subvertendo novamente o “óbvio”, é Lira quem tem atuado em Brasília como o mais poderoso entre os poderosos, a ponto de entender que tem força para contrariar o que prevê a lei.

Certo ou errado, o que importa é que o presidente da Câmara calcula os passos sustentado por uma maioria sólida de deputados. Hoje, Lira tem votos para atrapalhar ou ajudar o Planalto, enquanto Lula ainda tenta colocar de pé uma base aliada. Essa diferença se aprofunda a medida em que o governo decide negociar ocupação de espaços, liberando cargos e orçamento por meio de emendas.

Como, na visão do Congresso, anda tudo meio parado nesse sentido, é Lira quem se fortalece ainda mais como a liderança política capaz de se impor para obter acordos mais vantajosos aos parlamentares. É daí que vem a fama de cumpridor de acordos do alagoano…

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por JOTA (@jotaflash)

O governo sabe disso, tanto que terceirizou a Lira as negociações pela aprovação da reforma tributária. No desfecho das Medidas Provisórias, um revés aos planos do presidente da Câmara tem tudo para atrasar o já atrasado cronograma de votações do Planalto no Congresso.

Adversários políticos do presidente da Câmara dizem que a força dele é operar no caos. Não é qualquer definição quando se olha a piora na perspectiva econômica e a aposta de Lula na já calcificada polarização do país.

O presidente da República achou que a vitória nas urnas daria fim ao semipresidencialismo informal. Mas, a realidade que se impõe na relação com o Congresso indica que o cenário na relação com o Executivo não será tão diferente do período bolsonarista… O que sugere que o governo terá de ceder mais espaço ao grupo político de Lira se quiser governar.