
Enquanto Lula e Bolsonaro sobem no palanque, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), trabalha com uma meta ambiciosa: garantir apoio suficiente dos deputados para pavimentar sua recondução ao cargo, antes mesmo do desfecho do segundo turno na corrida ao Planalto. A impressão é compartilhada por aliados do político alagoano que, após garantirem a própria reeleição, voltaram a Brasília para ajudar no plano.
Em conversas com os novos eleitos em busca de votos, não está na mesa apenas a oferta de liberação de recursos em forma de emendas do relator do orçamento, em um prenúncio sobre a expectativa do centrão em manter vivo o mecanismo, a despeito dos rumores de que o Supremo Tribunal Federal poderia colocar um ponto final no assunto ainda este ano.
É na convicção de que seguirá protagonista da agenda do país que repousam promessas pela aprovação de projetos de lei e apoio a indicações para órgãos de controle, usadas por Lira para fortalecer o arco de aliança, independentemente do próximo presidente da República.
É verdade que a guinada mais à centro-direita não afasta a tradição do bloco fisiológico em dar sustentação a todo e qualquer governo. Esse reconhecimento indica uma tendência de adesão à coalizão de um eventual governo Lula, basta que se negocie os termos do contrato. Mas também é verdade dizer que o centrão nunca esteve tão embarcado em um projeto como o de Jair Bolsonaro, com o controle do orçamento secreto e da Casa Civil, pasta mais sensível da Esplanada.
A primeira consequência do alinhamento de poder entre Executivo e os partidos do centrão se revelou na configuração do novo Congresso, em que o inchaço das bancadas ultrapassou até mesmo as projeções mais otimistas do grupo.
A segunda, e potencialmente mais perigosa para o país, foi externada com literalidade pelo presidente da Câmara, após uma reunião com outros parlamentares da base aliada no Palácio da Alvorada, na semana passada. “O Congresso que foi eleito é feito para a permanência do governo Bolsonaro nos próximos quatros anos”, sentenciou.
Estar na oposição dentro do Congresso foge à tradição do bloco. Mas o recado sugere que esses operadores políticos nunca estiveram tão confortáveis em impor entraves nas condições de governabilidade em caso de vitória do ex-presidente Lula. No mínimo, o jogo de forças custará ao país tempo remediando discussões mais relevantes até que se configure uma nova acomodação na divisão de tarefas entre Poderes.
A mesma lógica vale para a disposição em estabelecer uma nova relação com o Judiciário, mesmo que Bolsonaro não obtenha a reeleição, em que a ameaça de aprovação de medidas fixando prazo ao mandato de ministros do STF seria um antídoto contra o excesso de interferência da corte em decisões da política.