
A corrida eleitoral atrapalhou os planos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em eleger o novo ministro do Tribunal de Contas da União nesta terça-feira (30). A ideia de fazer a votação no último esforço concentrado dos deputados antes do pleito foi cogitada diante dos gestos que o PT terá de fazer em retribuição aos partidos de centro empenhados no retorno do ex-presidente Lula. O caso mais emblemático é o Avante de André Janones, que tem pressionado a campanha lulista a patrocinar o nome do dono do partido, Luis Tibé, pela indicação na corte.
O desfecho das negociações interessa menos pela escolha do nome, e mais como prenúncio da disputa interna no centrão, contratada para ocorrer após a divulgação do resultado da eleição presidencial. O bloco tem tudo para sair ainda mais fortalecido das urnas na ocupação de espaços no Congresso, mas dificilmente será mantida a atual correlação de forças, com vantagem ao PP de Lira e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
A projeção dos partidos garante vantagem numérica ao PL de Jair Bolsonaro, que teria a bancada turbinada mesmo que o presidente não consiga a reeleição. Se o cenário se confirmar, é difícil imaginar a legenda de Valdemar Costa Neto convencida de que não deveria buscar ampliar o poder entre deputados pelo controle da liberação de emendas parlamentares, tarefa hoje concentrada nas mãos da dupla do PP.
Neste caso, é sintomática a resistência da deputada Soraya Santos (PL-RJ) em se manter na disputa pelo TCU. A permanência dela foi uma das razões para o atraso na eleição para o órgão de contas, mesmo que a cadeira tenha sido prometida ao Republicanos no início do ano passado, como peça fundamental para que a legenda apoiasse a eleição do então candidato Arthur Lira ao comando da Câmara.
Conhecido como cumpridor de acordos, o político alagoano pode até trabalhar pelo nome prometido do deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) depois de outubro. Mas a condução do processo já deixou fissuras na relação. Até porque a impossibilidade de dar um ponto final à vaga antes de outubro deixa Lira mais suscetível ao desfecho da campanha nacional do que gostaria para fazer valer a própria influência. O risco é que ele saia como o grande derrotado na disputa, algo incomum ao longo do período à frente da Câmara.