Letícia Yumi Marques

Há quem diga que o termo <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/esg">ESG</a>, do inglês Environmental, Social and Governance, seja uma releitura do desenvolvimento sustentável proposto pelo relatório Brundtland em 1987. Outros dizem que o ESG é a sustentabilidade aplicada aos negócios ou até mesmo um modelo de negócios. O termo vem sendo exaustivamente repetido em ambientes corporativos, mas a verdade é que não existe um consenso sobre o que é ESG.
Há alguns meses, nos EUA, a SEC (Securities and Exchange Commission) emitiu um <a href="https://www.sec.gov/files/esg-risk-alert.pdf">alerta</a> em que apontou a “ausência de padrões e definições precisas” sobre ESG como risco para investidores, na medida em que a “variabilidade” e “imprecisão” no uso do termo por fundos de investimento pode “criar confusão” entre os investidores. A principal preocupação externada pela SEC nesse documento é o uso indiscriminado do termo ESG não atrelado a práticas sustentáveis consistentes como mero chamariz de investidores.
A análise da SEC reflete o forte sentido econômico que o ESG adquiriu no pós-pandemia. A agenda ESG tornou-se relevante para muitos investidores e, por isso, estratégica para as empresas. No artigo <a href="https://sloanreview.mit.edu/article/whats-lost-when-we-talk-esg-and-not-sustainability/">"What’s lost when we talk ESG and not Sustainability"</a> publicado na MIT Sloan Management Review, Andrew Winston afirma que o envolvimento de investidores com o tema do meio ambiente se deve à clara percepção de que fenômenos climáticos extremos têm, de fato, afetado os negócios; além da cobrança de um novo perfil de mercado de consumo e das oportunidades de negócio na economia verde propriamente ditas. Nesse contexto, Winston avalia que os investidores preferem o termo ESG em substituição ao termo ‘sustentabilidade’, mas reforça a crítica sobre a sua aplicação desconectada de algum significado concreto para o negócio.
Para trazer significado à sigla ESG para além de designar investimentos em projetos da economia verde, é importante resgatar os conceitos da sustentabilidade, especialmente da sustentabilidade ambiental e social e eu, pessoalmente, prefiro os conceitos propostos por Robert Goodland, ex-consultor do Banco Mundial, no clássico artigo "The Concept of Environmental Sustainability". Para Goodland, a sustentabilidade ambiental promove a manutenção dos sistemas de suporte de vida (os chamados recursos naturais de subsistência, como água potável, ar limpo e solo fértil). Esses recursos de subsistência são escassos e de difícil acesso para comunidades em situação de vulnerabilidade.
Por isso, ele sustenta que a sustentabilidade social deve ser priorizada e que, para isso, é necessário o fortalecimento da sociedade civil, coesão comunitária e cultural, tolerância, amor e pluralismo; e padrões comuns de honestidade, leis e disciplina. Para ele, tudo isso compõe o capital moral da sociedade, que se mantém com valores compartilhados e direitos iguais. Há também o capital humano, que compreende a educação, saúde, nutrição das pessoas etc.
Sobre a sustentabilidade econômica, Goodland destaca que o capital deve ser estável. Sustentabilidade econômica seria, então, a manutenção do capital natural, social e humano.
Assim, considerando o alerta da SEC para o uso indiscriminado e sem credibilidade do termo, para que uma empresa avance na agenda ESG de forma consistente, é importante que o primeiro passo seja traçar os contornos das suas políticas internas. A formulação dessas políticas deve considerar as variáveis ambientais e econômicas envolvidas – e essa é a parte fácil, porque recursos naturais e dinheiro são tangíveis, mais fáceis de mensurar e determinar metas. O desafio é a valorização do capital moral e humano, da gestão das pessoas, da inclusão, equidade e diversidade nas organizações; da criação de um ambiente acolhedor, horizontal em que os profissionais compartilhem valores sustentáveis e éticos nos quais verdadeiramente acreditem, apoiem e multipliquem.
A elaboração, com sucesso, de políticas corporativas tão complexas requer o engajamento de diversos setores da empresa, seus gestores e a alta liderança. Quando habilidades e expertises específicas forem necessárias nesse processo, é importante considerar o suporte e orientação de especialistas. Também é imprescindível que as ações se apoiem em empatia, para aproximar pessoas em vez de separá-las e para colaborar com a formação de uma consciência disruptiva com o modelo econômico predatório que não tem mais espaço no pós-pandemia.
O ESG começa após a implementação de políticas corporativas de sustentabilidade ambiental, econômica e, principalmente, social. Este é, em resumo, o alerta da SEC: o ESG deve ter lastro nas práticas das empresas que querem investir na nova economia verde. Deve haver relação entre propósito e investimento.

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JOTA

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