Felipe Barreto Veiga

Decidir pela faculdade de Direito é um dos atos mais ingênuos da carreira de um advogado. Ao ingressar no curso e durante os primeiros semestres da graduação, mal compreendemos a existência e o funcionamento das regras, instituições e agentes que regem o ordenamento jurídico de nosso país.  
Com o passar dos anos e o ingresso no mercado de trabalho, é natural que apuremos gradativamente nossa compreensão sobre todo esse sistema que rege nossa sociedade e economia, adquirindo experiência e know how em determinadas funções e/ou áreas de prática – alguns em velocidade mais acelerada e outros de forma mais lenta. Mas fato é que a experiência aliada ao tempo de carreira são, sem dúvidas, dois grandes trunfos para a formação de um grande advogado.  
E muito embora a tabela da OAB não atribua um valor maior ao profissional com mais tempo de experiência, o mercado espera dos consultores e causídicos o inverso do que espera de qualquer bem, como um carro: para o advogado, quanto mais “sênior” (ou mais velho) e maior a “quilometragem”, melhor. Um sensível contraste ao etarismo, em efeito semelhante ao que ocorre com todas as profissões com as quais as pessoas se consultam, como médicos, membros de conselho, profissionais de consultoria financeira e até mesmo mecânicos de carros.  
Ocorre que, para se obter referida experiência, o advogado recém-formado dependerá da participação em casos, projetos e assuntos, que por sua vez precisará da existência de clientes, um desafio cada vez mais latente em um mercado cada vez mais concorrido, para o qual a prática jurídica, o ritual de preparação para a prova da OAB e as aulas da faculdade ainda não oferecem uma solução.   
Mas a academia não ensina como prospectar clientes, como administrar um escritório, como lidar com a contabilidade e como contratar e reter talentos. Por isso, mesmo sendo um profissional liberal que poderia trilhar seu caminho de forma independente, o advogado recém-formado acaba tendo poucos incentivos para empreender, ingressando, então, no mercado de trabalho.  
Essa é uma realidade do mercado de serviços jurídicos brasileiro e não há nada de errado com relação aos profissionais que optaram por este caminho, pelo contrário: é uma jornada extremamente honrada, que pode ser profícua e, a depender das oportunidades, se transformar em uma jornada empreendedora ou até mesmo intraempreendedora, como ocorre com um in-house counsel, que se tornou gestor de uma área da empresa na qual trabalha, ou o associado que virou o sócio gestor do escritório no qual desenvolveu sua carreira. Ainda assim, para a maioria dos advogados, qualquer tipo de iniciativa empreendedora será uma realidade distante.   
Ao longo destes 11 anos em que empreendo na advocacia, observei que, por uma série de fatores, são poucos aqueles deste setor que se arriscam a romper com o caminho do mercado de trabalho para abraçarem o empreendedorismo em algum momento da carreira. É um fenômeno interessante de se observar, afinal, o empreendedorismo já demonstrou ser uma das forças motrizes da economia, uma das formas mais eficientes de se gerar valor para a sociedade e combate à desigualdade, além de uma das principais ferramentas para o fortalecimento contínuo de setores e mercados, entre tantas virtudes.  
Todos estes elementos geraram um número muito significativo de inovações e, com elas, surgiram novos mercados e empreendedores, investidores, acionistas e funcionários milionários, no Brasil e no mundo – com destaque para os que surgiram durante o ciclo da “nova economia”. E esses grandes empreendedores da nova economia, como Elon Musk e Mark Zuckerberg, assim como os brasileiros Eduardo Saverin, Cristina Junqueira, Mike Krieger, Patrick Sigrist, Israel Salmen e tantos outros, se tornaram exemplos claros – e até ídolos – para uma geração cada vez mais interessada em empreender.   
O movimento empreendedor da nova economia também surtiu efeitos no mercado jurídico, criando uma série de iniciativas lideradas por advogados e estudantes, como as legaltechs e lawtechs, além de uma grande variedade de softwares e plataformas de educação para o setor, bem como de diversos canais de conteúdo em redes sociais e plataformas como o YouTube.  
No entanto, quando falamos de escritórios de advocacia, os advogados não só carecem das ferramentas e instrução para empreender, como também faltam exemplos claros de advogados empreendedores que os inspirem. Claro que existem nomes que se sobressaem, cada um à sua própria maneira, como Alexandre Bertoldi, do Pinheiro Neto; Roberto Quiroga, do Mattos Filho; e Nelson Willians, do escritório que carrega seu nome. Mas, no senso comum da área, o prestígio que estes carregam como gestores não se compara, por exemplo, com os louros conquistados por doutrinadores e pareceristas, por exemplo.  
Empreender na advocacia e no Brasil é um ato de coragem insana e, em um mundo cada vez mais empresarial, o mercado jurídico brasileiro prestigia muito pouco aqueles que têm a audácia de empreender. Por isso, neste 11 de agosto, parabenizo os advogados e advogadas que empreendem em todo o país, servindo assim de exemplo para que outros advogados empreendedores brasileiros façam negócios e levem os seus produtos, serviços e inovações para todo o mundo. Que essa jornada incentive e fortaleça a figura do advogado empreendedor e gestor, com o objetivo de termos cada vez mais qualidade e características empresariais nas estruturas dos escritórios nacionais.

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JOTA

Mercado jurídico brasileiro prestigia muito pouco os empreendedores

Uma carta ao advogado que empreende

Empreender na advocacia e no Brasil é um ato de coragem insana e o mercado jurídico prestigia muito pouco os advogados empreendedores