Bárbara Helena Breda

Temos suprido a demanda do mundo em termos agroalimentares. Já dissemos e reforçamos, incontáveis vezes, que o agronegócio pode e deve continuar atendendo aos mercados internacionais sem perder, consequentemente, a capacidade e a tração no mercado interno. Infelizmente, porém, as manifestações que trazem o setor como um verdadeiro vilão têm engrossado coro. É contrassenso que caminha em sentido oposto ao movimento tecnológico e de preservação que temos operado. 
Informação que talvez escape a muitos esbarra na principal característica do setor: a volatilidade da produção. Somos indústria a céu aberto e somos uma economia agrícola. E é esse o principal motivo pelo qual somos, também, os principais afetados pelas mudanças climáticas. Chuvas em excesso ou em falta, ventos em demasia, oscilações de temperatura, geadas e queimadas são fatores que podem não impactar sobremaneira a produção de um veículo ou de um drone. Em grandes cidades, exceto em casos de deslizamento e enchentes, as atividades econômicas, o trabalho, não param. O campo, porém, sofre.  
Pode ser que isso fuja da percepção de boa parte de nossa população, mas o agronegócio depende do clima e demanda certa previsibilidade e estabilidade. Parece um tanto equivocado determinar que a intenção do setor seja, justamente, a de comprometer o meio ambiente. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (<a href="https://www.embrapa.br/soja">Embrapa</a>), com dados referendados pela agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, demonstra que mais de 66% de nosso território é preservado.  
Novamente, porém, encontramos um problema: a nossa imagem percebida. Uma das definições de percepção é “juízo consciencioso sobre algo ou alguém”, bem verdade, o juízo realizado sobre o setor não nos é, muitas vezes, favorável. Precisamos entender os motivos que nos levam a isso. Antes, todavia, precisamos refletir. E a reflexão, justamente, deve ser baseada na quebra de paradigmas e pré-conceitos que nos foram trazidos como verdades inabaláveis. Seria o setor o único ou maior responsável pelos prejuízos climáticos? Os resultados sentidos atualmente têm uma causa direta ou reflete um passado? Não mudamos, ao longo dos últimos anos e evoluímos de forma sustentável? Temos mais perguntas do que respostas. 
Um processo de reflexão é naturalmente doloroso. Romper aquilo que nos foi dado como certo requer esforço, exercício. O que sabemos, sob um olhar de dentro, de quem conhece e respira, ainda que em um pequeno percentual, o maior setor da economia brasileira é que aquilo que nos atribuem termos feito é indevidamente mais vezes negativo do que positivo.  
Aqui, importante resgatar, não buscamos maquiar uma perfeição inexistente, tampouco negar que existem problemas a serem sanados e que os esforços públicos e privados a serem enveredados são muitos. Seria indevido, por outro lado, negar que existem informações difundidas que negam nossa pujança e capacidade ambientalmente produtiva.  
Sofremos com uma herança. O passado não nos foi caridoso, tivemos revoluções, há centenas de anos, que ainda refletem modelos produtivos do outro lado do oceano que são mais descasados com o meio ambiente do que a produção nacional. Não podemos esquecer das diferenças das matrizes energéticas ao redor do mundo. Ainda hoje, cerca de 77% das necessidades energéticas do europeu médio são satisfeitas pelo uso de petróleo, carvão e gás, informação essa extraída da Agência Europeia do Ambiente. 
Há divergência inegável de discursos, cabe a nós tomar o protagonismo da fala para isso mudar. Precisamos mudar nossa imagem percebida, especialmente e, em um primeiro momento, de maneira interna. O brasileiro precisa conhecer o setor e reconhecer o que muito tem sido feito. Precisamos ter lugar de fala. Evoluir, nos aprimorar e mostrar isso ao mundo. Nossa capacidade produtiva que caminha, sim, ao lado da busca por uma produção sustentável precisa receber foco, deve ser levada às cidades em um estreitamento e diminuição de nossas grandes distâncias geográficas. O setor é grande, mas precisamos de musculatura e de confiança. Para isso, também carecemos de educação e de exposição positiva.  
Em um mundo dividido em dois grandes blocos econômicos, Ocidente e Oriente criaram narrativas que lhes são próprias e interessantes. Devemos garantir que essas reflitam a realidade. E a realidade é, ainda que sob diferentes nuances, clara: o mundo teme a fome, a segurança alimentar precisa ser garantida e, para isso, podemos produzir, sempre tendo em mente a maior variável do futuro, a sustentabilidade. O nosso agro tem capacidade de atender ambos com qualidade. Talvez só nos falte um pouco de confiança dentro de casa.

agronegócio

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JOTA

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