Fernando Santiago

Rodolfo Tamanaha

Você sabe o que é tecnologia disruptiva ou inovação disruptiva? 
Termos que descrevem a inovação de produtos ou serviços que utilizam uma estratégia "disruptiva", em vez de "revolucionária", para derrubar uma tecnologia ou modelo existente dominante no mercado.
Ocasionalmente, uma tecnologia disruptiva domina um mercado existente. Convido você a analisar o caso do Uber, uma plataforma de conexão de motoristas e usuários, que coloca o modelo de negócios estabelecido pelas empresas de transporte remunerado em xeque‐mate. A discussão aqui deveria ser como um novo modelo de negócios altera o comportamento de consumo de opções de mobilidade e não apenas se este é regulamentado ou não.
A grande questão a ser debatida nesse caso é comportamental!
Comportamento é a variável que melhor determina a oportunidade que um novo modelo de negócios tem de evoluir e aumentar sua participação no mercado.
Estamos no fim de uma era que tem se concentrado quase exclusivamente na inovação de produtos e serviços, e estamos no início de uma nova era que se concentra em "modelos de negócios de comportamento." Estes modelos vão além do questionamento de como podemos fazer o que fazemos melhor e mais barato, pois eles questionam também como podemos fazer o que fazemos mais rápido, com mais qualidade e criando experiências de fato significativas e impactantes
Quando a Apple criou o iTunes, ela não criou, simplesmente, um serviço mais rápido, mais barato e mais eficiente para a distribuição de músicas. Ela alterou a própria natureza da relação entre a música e as pessoas. O eBay não criou uma plataforma de leilões, mas sim mudou a forma como olhamos para a experiência de compras e como a própria comunidade consumidora desempenha um papel importante nesse movimento. O Google não inventou o primeiro sistema de busca na internet, mas o seu mecanismo mudou a forma como interagimos virtualmente e possibilitou que comportamentos fossem rastreados e analisados, permitindo que os anunciantes identifiquem com precisão cirúrgica o seu público alvo e personalizem o seu conteúdo publicitário de uma forma que era inconcebível antes.
Todos estes são exemplos de inovações que consideraram a variável comportamental em seus modelos de negócios. 
E é nesse contexto que se percebe que o reconhecimento do valor e do potencial de retorno financeiro da inovação trazida pelo Uber para o mercado de mobilidade ainda não foram totalmente compreendidos e explorados no Brasil.
Presente em 55 países e em mais de 290 cidades espalhadas pelo mundo, o Uber é um bom exemplo de como inovação e regulação parecem funcionar como água e óleo. Enquanto a inovação disruptiva estabelece uma nova forma de 
relacionamento entre o produto ou serviço inovadores e o público consumidor, que simplesmente inexistia até então, a regulação opera em um ritmo mais lento e com outros objetivos. Segundo as teorias da regulação, a economia de mercado apresenta diversas ineficiências, conhecidas como falhas de mercado, que demandam a intervenção do Estado para corrigi‐las, de forma a preservar o interesse público.
Porém, o que parece fazer sentido quando se pensa em setores regulados como energia elétrica, telefonia e petróleo &amp; gás, é colocado em dúvida quando se cogita da regulação de tecnologias disruptivas, como o Uber. Isso porque, mais do que apenas encaixar esse novo serviço em um molde regulatório pré‐ existente, o que se impõe ao regulador é estabelecer uma nova racionalidade regulatória para supervisionar os serviços prestados pela startup, que se inserem na dinâmica da chamada “economia do compartilhamento”.
Isso não significa dizer que categorias tradicionais como licenças, fiscalização, regras trabalhistas e de segurança não se aplicam ao Uber, mas sim que o Estado deve adotar um modelo regulatório apto a promover, ao mesmo tempo, a proteção do consumidor e o combate a práticas ilícitas e desleais, sem prejudicar formas inovadoras e empreendedoras de oferecer utilidades aos consumidores. Uma conta simples... No Brasil, os serviços de táxis movimentam cerca de R$15 bilhões por ano e até pouco tempo, não haviam movimentos mercadológicos que forçassem melhorias em seus modelos de negócios. A entrada dos aplicativos de táxi e plataformas como o Uber obrigam a revisão da relação entre compradores e fornecedores e induzem melhorias contínuas no serviço. Com apenas 5 anos de mercado, a aplicação está avaliada em mais de US$40 bilhões.Um caso a se pensar!
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* Fernando Santiago, empreendedor, consultor e professor, especialista em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral.
* Rodolfo Tamanaha, advogado, especialista em regulação e tributação, doutorando em Direito pela USP.

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JOTA

O início da era de "modelos de negócios de comportamento" 

Caso Uber: como a tecnologia disruptiva afeta regulação no Brasil

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