Etienne Jacintho

Quando alguém confessa um crime, obviamente, essa pessoa é culpada, certo? Quem vai duvidar da culpa de um homem que diz, em três ocasiões diferentes, inclusive diante das câmeras da CNN, que matou a namorada? E um adolescente que ri durante o funeral de seus pais, brutalmente assassinados, parece muito suspeito, não? Ainda mais se ele usa o dinheiro da herança para comprar um carrão e viajar por aí. Mas a vida complica mesmo quando o amigo, também adolescente, cai em uma armadilha da polícia para conseguir uma confissão de cumplicidade no homicídio.
Após “Making a Murderer” e “The Keepers”, a Netflix traz sua nova série documental sobre crimes “The Confession Tapes”. Em sete episódios, o público acompanha seis histórias de confissões que despertaram dúvidas em relação à sua veracidade. Parece absurdo que uma pessoa confesse um crime que não cometeu, ainda mais quando está sendo filmada, mas “The Confession Tapes” mostra, com um roteiro afinado e argumentos bem embasados, que isso acontece até com frequência.
Nas histórias – a primeira delas é contada em duas partes –, advogados especialistas em defender condenados que alegam inocência, contam porque aceitaram os casos e mostram como a polícia, às vezes, usa táticas nada adequadas para conseguir uma confissão. Os suspeitos apresentados no documentário foram submetidos a interrogatórios extremamente coercitivos que duraram horas. Em alguns casos, os policiais inventaram provas científicas contra os suspeitos, deixando-os sem entender o que estava acontecendo, até que eles próprios se convencem de que podem ter cometido o crime em uma espécie de surto e apagado o fato da memória.
“The Confession Tapes” conta com depoimentos dos réus, de seus amigos, de seus advogados de defesas e dos jurados que os condenaram. Alguns juízes, promotores e policiais também concordaram em dar seus depoimentos, mas nem todos os episódios possuem os dois lados da história.
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Os dois primeiros episódios mostram um caso em que o método utilizado pela polícia para obter a confissão de um adolescente é até proibido em alguns países, inclusive nos Estados Unidos. Em “True East”, um casal de origem indiana e praticantes do islamismo é assassinado em casa juntamente com sua filha mais velha. Os principais suspeitos passam a ser o filho adolescente do casal e seu melhor amigo, que passava uns dias na casa das vítimas. Ambos tinham muitos álibis para a noite do crime, mas foram considerados suspeitos mesmo assim. O fato de seus álibis serem muito “perfeitos” despertou a suspeita da polícia e o comportamento do filho do casal após o homicídio incomodou as pessoas. Havia outras linhas possíveis de investigação, inclusive de extremismo religioso, mas a polícia nem foi atrás de outras possibilidades. Assim, prender os adolescentes era uma missão para a polícia, que usou um método controverso para arrancar uma confissão de um dos suspeitos. Um dos adolescentes, claro, caiu na armadilha preparada pelos detetives e os dois foram condenados. O filho do casal morto nunca admitiu culpa.
O segundo capítulo, “Desculpas em Público”, acompanha o caso de um homem preso pelo assassinato de sua namorada. Depois de um interrogatório exaustivo, em que a polícia afirmou muitas vezes, sem ser verdade, que todas as evidências apontavam para sua culpa – até mesmo resultado positivo de DNA inventado para um fio de cabelo encontrado na mão da vítima e para uma mancha de sangue –, o suspeito acabou confessando o crime e até pediu desculpas para a família da namorada morta. Após a condenação e prisão, foi provado que o fio de cabelo e o sangue encontrados na vítima não pertenciam ao réu.
Na terceira história, “Julgamento por Incêndio”, uma mãe é acusada de colocar fogo em casa para matar sua filha de 14 anos. Em meio ao luto e à dor de perder uma filha, a mulher é submetida a um interrogatório e um teste de polígrafo. Os detetives afirmam que ela “foi mal” no teste e a bombardeiam de perguntas. Os detetives a interrogam de forma tão coercitiva, que a suspeita passa a acreditar que realmente causou a morte da filha, mesmo sem se lembrar de nada. É tanta pressão que a mulher fica confusa e passa a crer que pode ter cometido o crime num estado de surto ou sonambulismo. Uma amiga da ré alega que a condenação veio por julgamento de caráter. Como ela era adúltera e alcóolatra e, em uma reunião do AA disse odiar a filha, na visão do júri, ela poderia muito bem ser uma assassina.
Já “Entre as Ruas 8 e H”, a quarta parte, mostra como um garoto com dificuldade de aprendizagem conta à polícia, após horas de interrogatório, a história de um brutal assassinato. Os suspeitos são membros de uma suposta gangue, mas ninguém confirma a existência desse grupo criminoso e todos da vizinhança dizem que os rapazes presos foram escolhidos de forma aleatória, entre os jovens moradores do bairro.
“Assassinatos do Dia do Trabalho” mostra como um sobrinho foi considerado culpado pelo assassinato de seus tios, após uma investigação que resultou apenas em provas circunstanciais. A prova final foi a confissão do rapaz em um interrogatório longo, agressivo e sem a presença de um advogado.
O último episódio, “Rio Abaixo”, apresenta a trágica trajetória de um pai que entra com seu carro em um rio, com seus quatro filhos a bordo. As quatro crianças morrem e o pai alega que cometeu assassinato. Mais tarde, no entanto, ele conta outra história.

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JOTA

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The Confession Tapes: réus confessos que alegam inocência

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