Luciana Rodrigues Thiago dos Reis

Sem dúvidas, o cenário inesperado da pandemia de Covid-19 em 2020 impôs diversos desafios às empresas e aos profissionais em todo o mundo. Apesar da situação caótica, cada um de nós teve que se adaptar a essa realidade e lançar um novo olhar e postura à rotina empregada no trabalho que realiza. Na área de tax não foi diferente, e a transformação digital já fazia parte do dia a dia de muitos. Afinal, não há como se falar nesta área de negócios sem pensar em tecnologia.
De acordo com o Doing Business Subnacional Brasil 2021<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>, produzido pelo Banco Mundial, as companhias brasileiras incorrem, em média, 1.500 horas por ano em atividades voltadas para o cumprimento de obrigações acessórias e em atendimento às exigências do Fisco. Este volume de horas dedicadas ao compliance tributário das empresas, hoje considerado bastante elevado, já foi maior, representando 2.000 horas por ano, de acordo com dados divulgados em 2018 neste mesmo relatório.
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Mas, diante do cenário de incertezas em que vivemos, podemos afirmar que nos próximos anos este número poderá aumentar de maneira expressiva, na medida em que temos diversas pautas tributárias em aberto que, se implementadas, exigirão dos contribuintes e dos profissionais da área tributária uma preparação relevante para atendimento e report de um grande volume de informações.
Um exemplo é o projeto de lei da <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/reforma-tributaria">reforma tributária</a> que, se aprovado, demandará uma série de providências, adaptações e controles adicionais para a maioria das empresas. Certamente, se essa previsão se concretizar, todo esse trabalho será quase impossível de ser realizado sem o uso massivo de tecnologia.
Diante dessa realidade, faz-se necessária a inclusão e exposição dos profissionais desta área às novas ferramentas disponíveis no mercado, através, por exemplo, do investimento em treinamentos e da busca pela aplicação das novas tecnologias nas tarefas rotineiras. É papel da liderança estar atenta às mudanças recorrentes neste contexto e incentivar os profissionais a testar soluções sem medo de falhas ou retaliações, inclusive impulsionando-os a inovar. Mas, é claro, esta jornada não é um conto de fadas em que as cenas acontecem de forma cadenciada e esperada.
Quando se fala em inovar certa atividade ou departamento, estuda-se a aplicação dos princípios básicos de um processo passível de automação: grande volume de dados, tarefas repetitivas e operacionais, um olhar mais atento para as ferramentas, processos e o mais importante, para as pessoas.
A inclusão e reinserção dos profissionais focados em atividades operacionais da área tributária é de extrema importância e crucial para a continuidade dos negócios de forma sustentável. Para tanto, o investimento em educação e treinamento, principalmente no tocante às novas tecnologias, é uma das chaves para o sucesso.
Um ponto que vem sendo muito discutido é o efeito da substituição do homem pela máquina. Isso com certeza não é novidade. Contudo, é possível ter um olhar mais inclusivo em relação a esta situação a partir do momento em que a liderança e seus gestores, ao identificarem atividades passíveis de automação, busquem estratégias de alocação dos recursos e talentos em outras funções.
Essa transição deve ser realizada de forma estratégica e este profissional precisa participar deste processo, aprendendo a extrair o melhor da tecnologia disponível naquele momento, a fim de maximizar as suas entregas com mais qualidade e por meio de uma atuação analítica.
Em meados de 2014 o termo “taxologista”, que abrange as especialidades de tax e tecnologia. foi difundido pela Thomson Reuters e hoje apresenta algumas variações em sua nomenclatura, como Tax IT, Tax Transformation e Tax Digital. Os profissionais que atuam com essas atividades se destacam por enxergar a tecnologia como uma aliada na realização e entrega dos seus trabalhos, ou seja, é um profissional que se diferencia dos demais ao buscar na aplicação de ferramentas de tecnologia uma maximização da eficiência tributária.
Mas como é possível identificar as características que permitem traçar o perfil de profissionais da área fiscal com um viés para tecnologia? Geralmente são pessoas mais flexíveis, com facilidade em lidar com dados e estruturá-los, buscam sempre inovar e relacionam essas inovações com as mudanças da legislação tributária, conseguem identificar oportunidades em outras áreas e aplicam conceitos da metodologia ágil em suas atividades. E, por último, uma habilidade não menos importante, são profissionais que possuem uma grande capacidade de comunicação que possibilita o trânsito entre as áreas e o conhecimento de processos e gargalos que afetam de alguma forma o seu trabalho.
Ainda nesse contexto de inovação, nunca a expressão "lifelong learning" fez tanto sentido para os profissionais que já possuem certa experiência, pois as tecnologias existentes hoje estão rompendo paradigmas. É quase insano não pensar em aprender algo ou estar aberto para o aprendizado nos dias de hoje. Inclusive, outra expressão muito utilizada para esta nova era é o “aprender a aprender”, ou seja, estar aberto para aprender de novo a fazer coisas cotidianas com o apoio da tecnologia, seja no trabalho ou na vida pessoal.
Por fim, vale destacar que esse conceito tem sido um dos grandes aliados para que os profissionais da área tributária reinventem suas carreiras e os ambientes em que estão inseridos, pela busca por um aprendizado constante e multidisciplinar. Diante dessa transformação digital e das que ainda estão por vir, a educação continuada deve permanecer. É necessário um olhar atento por parte das lideranças para esse novo perfil de profissionais, de forma a estimular em suas equipes comportamentos garantidores de inovação, que certamente estarão atrelados ao desenvolvimento das pessoas e ao futuro das organizações.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Banco Mundial. 2021. Doing Business Subnacional Brasil 2021. Washington, DC: Banco Mundial. License: Creative Commons Attribution CC BY 3.0 IGO, pg. 5
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JOTA

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