Thiago Ferreira Almeida

A primeira viagem do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Europa, pode ter significado o retorno da cooperação ocidental entre a nação norte-americana com os países europeus, além do Canadá e Japão. O mês de junho de 2021 foi marcado por três eventos de importância internacional: o encontro do G7, a reunião da OTAN e a Cúpula entre os presidentes dos Estados Unidos e Rússia, na cidade de Genebra, na Suíça.
Por outro lado, a configuração dos eventos, dos participantes e de declarações finais assemelharam-se a um retorno no tempo, à época dos conflitos Leste-Oeste da guerra fria. A Administração Biden, em sua primeira viagem ao exterior, além de promover um evidente reforço de suas tradicionais alianças, demonstrou uma posição pouco inovadora, ou até mesmo de fragilidade, ao se posicionar em mesmo nível com a Rússia, evitando inclusive um posicionamento construtivo com este país. A questão primordial que se observa nesses três encontros foi a ausência de um diálogo estratégico com a China e outras nações emergentes. 
<a href="https://www.jota.info/produtos/poder?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>Faz-se mister ressaltar que a configuração desse retorno ao tempo da guerra fria é eminentemente centrado em um contexto dos países industrializados, baseado na antiga rivalidade ideológica capitalista-soviética que perdurou na segunda metade do século XX. Esse contexto de disputa à época ignorava a realidade dos países do Terceiro Mundo, cujas questões principais concentravam-se sobre a auto-determinação dos povos, a soberania dos seus recursos naturais, a independência econômica e o desenvolvimento. A alegação de retorno à um período da guerra fria reside em um pensamento excludente da realidade dos países em desenvolvimento.
A posição da nova administração norte-americana, de reforço de suas alianças tradicionais, cunhadas ainda em um momento de Pós-2ª Guerra Mundial, como a OTAN, ou ainda na década de 1970, com a criação do G7, mantêm suas estruturas de exclusão ao grande grupo de países em desenvolvimento, que se reconhecem como o grupo do Terceiro Mundo. Posicionando-se conforme a perspectiva terceiro-mundista do Direito Internacional, esse grupo, apesar de reconhecidas diferenças, apresentam o mesmo passado de colonização e de contínua exploração de ordem econômica, social e cultural (o que se caracteriza como práticas neocoloniais).
A partir da análise do contexto introdutório, o Grupo dos 7 foi o primeiro evento ocorrido no mês de junho de 2021, em Carbis Bay, na Cornuália, no Reino Unido. Os sete países (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Japão e Itália) e a União Europeia discutiram sobre a distribuição de vacinas contra o Covid-19 e medidas a evitar os efeitos das mudanças climáticas. Na questão da pandemia, observa-se uma concertação tardia das economias ocidentais em promover a redistribuição de vacinas aos países menos assistidos.
Após concentrarem as compras dos imunizantes e promoverem a vacinação de grande parte suas populações, decidiram, portanto, promover uma distribuição tardia àquelas nações com menores condições de promover uma segurança sanitária abrangente. A pandemia do Covid-19 demonstra, portanto, uma ausência de concertação internacional e o reforço de medidas protecionistas frente a uma questão de impacto mundial. No que se refere à questão climática, os compromissos de redução de metade dos gases de efeito estufa até o ano de 2030 apresentaram pouca  inovação e efetividade em alterar o cenário urgente da questão ambiental internacional.<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>
Na reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os países membros colocaram a China como o adversário geopolítico e militar. O próprio Secretário-Geral da OTAN, Jens Soltenberg, sublinhou que a prioridade da organização seria a China.<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a> <a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>
Por outro lado, a questão principal que ronda esta organização criada eminentemente no contexto bipolar da segunda metade do século XX é descobrir qual é o seu objetivo de atuação, uma vez que, nos últimos anos, observa-se uma atuação claudicante ao participar de diferentes operações militares, como no Afeganistão, Iraque, Kosovo, no mar Mediterrâneo e na África (na Líbia e na região do Darfur, no Sudão).<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>
Por fim, a Cúpula entre os presidentes Joe Biden e Vladmir Putin, ocorreu no dia 16 de junho de 2021, em Genebra, Suíça. Frente às diversas críticas e sanções ao governo russo, o encontro cercado de tensões prometia tratar de assuntos sensíveis, como a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, a prisão do opositor russo Navalny, a questão de Belarus e os ataques cibernéticos atribuídos à Rússia. Ao final do dia, absolutamente nada de concreto foi decidido.<a href="#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>
Lado outro, a cúpula pode também ser considerada como uma vitória para a Rússia. Os Estados Unidos escolheram este país para discutir questões às quais não possui meios de resolver de forma unilateral. Além disso, a Rússia possui uma grande capacidade de se reinventar no sistema internacional. De uma potência desintegrada em 1991, com o fim da União Soviética, coloca-se atualmente ao mesmo tempo como uma nação emergente, inserida no grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e no G20, e como uma potência militar e geopolítica, seja no Conselho de Segurança das Nações Unidas, seja na participação em conflitos em áreas consideradas de sua influência (Ucrânia, Síria, Armênia e Azerbaijão).
Ao realizar uma cúpula entre dois chefes de Estado, os Estados Unidos concordaram em se reunir com a Rússia, dando-lhe preferência à outra nação de sua aliança ocidental, como a Alemanha ou Reino Unido, e colocando-a acima da China ou Índia, que se constituem como os dois maiores países emergentes da atualidade, que também são nações que possuem armas nucleares e interesses estratégicos em saúde, tecnologia e energias renováveis.
<blockquote class="jota-article__eye">Dessa forma, os encontros de junho de 2021, liderados pelos Estados Unidos, demonstraram uma tentativa de renovar as alianças tradicionais dos países hegemônicos ocidentais, em um exercício anacrônico de retomar as parcerias típicas do século XX da pós-Segunda Guerra Mundial.</blockquote>
O contexto do século XXI, principalmente após a crise financeira de 2008 e do euro nos anos posteriores, demonstra a forte presença dos países emergentes no campo econômico e político internacionais. A existência dos países emergentes, como a China e a Índia, é um fato que deve ser considerado no sistema jurídico e das relações internacionais a fim de obter respostas no plano mundial às questões urgentes da sociedade, como as mudanças climáticas, o terrorismo, os refugiados e o desenvolvimento sócio-econômico.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> L’EXPRESS. Vaccination, climat, multilatéralisme... Les principales annonces du G7. Publicado em 13/06/2021. Disponível em: https://www.lexpress.fr/actualite/monde/vaccination-climat-multilateralisme-les-principales-decisions-du-g7_2152789.html. Acesso em: 16 jun. 2021.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> RTS. La Chine riposte aux critiques du secrétaire général de l’OTAN. Publicado em 09/06/2021. Disponível em: https://www.rts.ch/info/monde/12263982-la-chine-riposte-aux-critiques-du-secretaire-general-de-lotan.html. Acesso em: 16 jun. 2021.
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> FRANCE24. Sommet de l’Otan : l’Alliance souhaite ouvrir un nouveau chapitre des relations transatlantiques. Publicado em: 14/06/2021. Disponível em: https://www.france24.com/fr/europe/20210614-sommet-de-l-otan-l-alliance-souhaite-ouvrir-un-nouveau-chapitre-des-relations-transatlantiques. Acesso em: 16 jun. 2021.
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION - NATO. Operations and missions: past and present. Disponível em: https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_52060.htm. Acesso em 17. jun. 2021.
<a href="#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> LE TEMPS. Un sommet pour apaiser la relation américano-russe. Publicado em 16/06/2021. Disponível em: https://www.letemps.ch/monde/un-sommet-apaiser-relation-americanorusse. Acesso em: 16 jun. 2021.

internacional

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JOTA

Mês foi marcado pelo encontro do G7, reunião da OTAN e Cúpula entre os presidentes dos EUA e Rússia

O mês de junho de 2021 no sistema internacional: o retorno à Guerra Fria

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