Em setembro ocorrerá um ciclo com diálogos sobre o Estado e a sociedade entre diferentes atores, alguns até concorrentes entre si. Pode parecer plácido demais em meio a atual grotesca entropia institucional orquestrada pelo governo federal. Não é. Não se supera a distopia com desespero. É hora dos atores civilizados dialogarem e compartilharem suas visões técnica e moralmente superiores para que todos se sintam novamente acolhidos em um país viável.
Nessa interminável pandemia está em desuso a discussão sobre o tamanho do Estado, mas muito atual a reflexão sobre sua função. O diálogo se dá em torno do Estado necessário para enfrentar as dores do mundo atual, que, no caso brasileiro, são dores novas adicionadas ao déficit de entregas represadas pelo Estado patrimonialista.
Mais exposto, o Brasil autárquico esteve, até bem pouco tempo, à mercê da disputa entre matrizes estanques e alinhadas com ideologias radicalizadas pela Guerra Fria. Tomamos o atalho das concessões populistas, que se confundiram com a assistência imprescindível aos mais vulneráveis. Em nenhum caso a otimização do gasto foi eixo estratégico, como tampouco foi o desenho de estruturas de provimento de serviços, que não levou em conta a relação entre custos estatais para servir versus a entrega efetiva de benefícios à sociedade.
Despreparado, agora, se vê o Estado brasileiro, atropelado pelo passado e pelo presente, engolfado em sua letargia por novos desafios que expressam tendências de um mundo que não pede licença para se transformar. O período da Guerra Fria era industrial, físico, analógico, linear, incremental, tinha uma divisão entre capital e trabalho que frequentemente se apresentava como dicotomia binária. Se uns ganham é porque os outros perdem.
No mundo atual super urbanizado, da conectividade universal e digitalização pervasiva, da inteligência artificial ubíqua, da bio-engenharia, da energia sustentável e da inovação tecnológica acelerada, as posições são muito mais líquidas, dispostas em redes e frequentemente disruptivas. 10 das 10 mais valiosas empresas na Bolsa americana são digitais; 8 entre 10 chinesas também são.
O conceito de carreira profissional se desintegrou em menos de uma geração. E o de trabalho se deslocalizou. Não é incomum que um jovem programador autodidata do interior da Paraíba trabalhe para o Google, na Califórnia, sem sair de sua casa. Tampouco é rara a situação de atraso de salários de professores e policiais do governo da mesma Paraíba. O que era segurança, deixou de ser. O que era precário, também.
Neste mundo cheio de ameaças e oportunidades, é obrigação de quem pensa saídas para o Brasil incorporar o novo contexto mundial.
É com ele que o país precisará se relacionar se não quiser continuar como um museu de práticas cristalizadas e injustas com todos, os que pagam os impostos e os que deveriam receber os serviços públicos.
Nesse sentido, o ciclo “Reformar o estado: para quê e para quem?”, organizado pela iniciativa cívica Derrubando Muros, traz apelos específicos aos painelistas para que organizem suas manifestações em dois eixos: 1) o do aggiornamento do legado e, 2) o da construção do futuro. Nos dois eixos seguem valendo as perguntas derivadas do título.
Como a composição dos painéis evidencia, o ciclo busca a diversidade de pensamento e de testemunhos. Excluídos os intolerantes que desafiam o Estado Democrático de Direito, o ciclo abre-se para todo o espectro das representações políticas. E dentro delas traz o melhor dos melhores.
Mas também pretende inovar no formato. Ao invés de uma arena de disputas, o objetivo é provocar diálogos apreciativos que não desconsiderem as diferenças, mas ajudem a encontrar convergências com base na curiosidade intelectual e no interesse cívico. Não chegamos onde estamos por falta de contendas fratricidas entre nossos formuladores de políticas públicas. Acabamos com um ser distópico na nossa sala. Superar esse momento é o objetivo mínimo.
O ciclo mencionado não busca eleger o melhor polemista ou o campeão da lógica argumentativa, mas as melhores ideias de cada um para o mosaico de soluções que leve a uma sociedade menos polarizada e mais conectada às agendas do mundo que dá certo, gera progresso e promove justiça.
Será uma oportunidade histórica para os interessados anteverem quais são as ideias e, muito possivelmente, quem vai colocar o Estado brasileiro nos trilhos a partir de 2022.
O ciclo vai acontecer ao longo de 3 dias subsequentes de 14 a 16 de setembro, com 2 painéis por dia, e será uma promoção do DERRUBANDO MUROS com co-produção do JOTA e do MEIO.
PROGRAMA:
Dia 14/09, Terça-feira:
17:00 Elena Landau & Carlos Ari Sundfield
Debatedora: Laura Machado
18:30 Arminio Fraga
Debatedor: João Carlos Brum Torres
Dia 15/09, Quarta-feira:
17:00 Persio Arida
Debatedora: Marisa Moreira Salles
18:30 Andre Lara Resende
Debatedor: Aod Cunha
Dia 16/09, Quinta-feira:
17:00 Nelson Marconi
Debatedor: Samuel Pessoa
18:30 Fernando Haddad
Debatedora: Monica Sodré