Carolina Botelho

Jair Bolsonaro precisa aprender com Rodrigo Maia a fazer política. Desde que ele assumiu a presidência da República, tem dado demonstrações de que o tempo que passou no Congresso como deputado não foi gasto para aprender sobre seu ofício principal. Por outro lado, se ouvir o que Maia tem a dizer, poderá garantir mais do que quinze minutos de fama no Planalto.
A tarefa de reformar a previdência é bastante desgastante. Ainda vigora a ideia entre parlamentares de que votar a favor dela aumenta a chance de não reeleição. Assim como ocorreu nas reformas da previdência realizadas durante os governos FHC (1998) e Lula (2003), a população se manifesta contra o projeto, embora os resultados fiscais demonstrem inequivocamente que a reforma é a favor da população. Como as manifestações anti-reforma parecem não perceber o gargalo fiscal em que nos enfiamos, muitos políticos evitam apoiar publicamente esta política.
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Reformar previdência é mesmo impopular. Dito isso, podemos pressupor que os deputados federais que votam a favor de reformar a previdência não são reeleitos, certo? Errado! Votar a favor ou contra as reformas da previdência ocorridas no Brasil não afeta a probabilidade de um deputado federal se reeleger.
Em exercício feito analisando as votações realizadas nas reformas previdenciárias de FHC e Lula e comparando esses dados com os dos deputados federais eleitos nas eleições de 2014 no Brasil, vi que 62% dos deputados que apoiaram a(s) reforma(s) nas legislaturas em que exerciam mandatos (de FHC, de Lula ou ambas) foram reeleitos em 2014, assim como 62% dos que votaram contra também foram reeleitos. Daqueles que votaram a favor de uma e contra a outra, 60% foram reeleitos.
Isso significa que, embora apoiar a reforma seja bastante impopular, o voto do deputado federal em apoio à mudança não afeta as suas chances de reeleição. Quando observamos os candidatos a deputado federal que não exerciam o cargo em nenhuma daquelas duas reformas da previdência, apenas 7% se reelegeram em 2014. Aqui, não explorarei os inúmeros determinantes da reeleição dos deputados federais no Brasil. Contudo, os dados indicam que votar a favor da reforma da previdência não muda as chances de um parlamentar ser reeleito.
Dos deputados federais analisados, 130 são veteranos em votações de alguma outra emenda constitucional de reforma da previdência, seja na de FHC (16 deputados), na de Lula (69 deputados) ou em ambas (45 deputados). Destes, 111 (ou 85%) já apoiaram pelo menos uma reforma discutida quando estavam na Câmara. E como vimos, isso não os impediu de vencer novas eleições para se manterem deputados.
Os gastos com previdência da União e dos estados crescem mais rápido e já são maiores que os destinados a saúde, educação, segurança ou infra-estrutura, sendo que o envelhecimento populacional no Brasil vai se acelerar nas próximas décadas segundo o IBGE e a ONU, agravando o quadro. A crise que atravessamos tende a se agravar caso nada seja feito no nosso sistema previdenciário e se quisermos investir mais no que é prioritário para o país.
Os eleitores podem até não ver que a reforma será boa para eles, mas a história indica que também não deixarão de eleger quem aprová-la. Rodrigo Maia já sabe disso, falta saber se Bolsonaro quer aprender com ele ou vai preferir liderar apenas em casa e no Twitter.

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JOTA

Reformar Previdência é impopular, mas dados mostram que posição de deputados não afeta reeleição

Quem disse que votar pela reforma da Previdência reduz a chance de reeleição?

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