Felipe Recondo

O Supremo caiu na boca do povo. Leitores buscam mais informação sobre o funcionamento e as decisões da Corte. A imprensa ampliou a olhos vistos a cobertura do tribunal. E os ministros nunca se expuseram tanto ao público. Porém, se a sociedade tomou o Supremo como tema de debate, investigados na Lava Jato tomaram os ministros como alvos de lobby, pressões, pedidos e objetos de barganha. Uma sem cerimônia sem precedentes.
Lembremos alguns dos diálogos interceptados pela Operação Lava Jato para indicar do que estamos tratando.
Nesta quarta-feira, a Folha de S.Paulo divulga novos diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Desta vez, conversas por ele gravadas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
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RENAN CALHEIROS - "Antes de passar a borracha [no Brasil], precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".
O presidente do Senado defende ainda que o Congresso altere o entendimento firmado pelo Supremo de que é possível iniciar a execução da pena após julgamento em duas instâncias, decisão com forte impacto sobre os investigados na Lava Jato.
RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele [STF} aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba com isso.
SÉRGIO MACHADO - Acaba isso.
RENAN - E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF}.
MACHADO - Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela [Dilma].
RENAN - Não negociam porque todos estão putos com ela. 
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No início da semana, a mesma Folha de S.Paulo havia revelado as conversas gravadas por Machado com o senador Romero Jucá - ex-ministro do Planejamento do governo Michel Temer. Novamente fala-se em acordo que envolve o STF.
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
O ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral também foi gravado em conversas comprometedoras com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que envolviam promessas de acordo no Supremo. E por isso foi preso.
EDSON RIBEIRO (advogado) - Se a gente anula aquilo, a situação de todos tá resolvido por que aí eu vou anular em cadeia, eu anulo a dele, Paulo Roberto, anulo a do Fernando Baiano. [vozes sobrepostas] A do Fernando Baiano eu anulo. (…) Eu peço aí, aí, oh só. [vozes sobrepostas]; Paulo Roberto, por que, por que foi homologada pelo Supremo, aí eu consigo anular a do Ricardo Pessoa, enquanto Supremo também eu peço suspensão e anulo aquela porcaria também em situação idêntica. Consigo anular a do Fernando Baiano, a do Barusco e a do Júlio Camargo. Pô cara!"
DELCÍDIO - "E tá com o Fachin? Eu tô precisando fazer uma visita pra ele lá, hein!"
E seguiu Delcídio do Amaral:
Eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori [Zavascki], conversei com o [Dias] Toffoli, pedi para o Toffoli conversar com o Gilmar [Mendes], o Michel [Temer] conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o [Jorge] Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também.
Depois foi o ministro Aloizio Mercadante. Em conversa com José Eduardo Marzagão, o assessor Delcídio do Amaral, falou em tentar construir com o Supremo uma saída para o crime praticado pelo ex-senador ao tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró.
MERCADANTE - Vocês precisam repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma moção, a Mesa do Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização considerando o flagrante, considerando as condições etc, mas não há necessidade pá, pá, pá - pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo uma saída. Não pode aceitar isso. Eu acho que se a gente não for pelo jurídico, pelo político, pelo bom senso e deixar tudo pra ele que tá acuado, fodido, a família desestruturada, vai sair só bateção de cabeça. Porque eu posso tentar ajudar nisso aí no Senado. Vou tentar conversar com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma moção
MERCADANTE - Não, não, mas o presidente vai ficar no exercício... também precisa conversar com o Lewandowski. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com o ministro no Supremo também.
O juiz federal Sérgio Moro relatou, numa das peças do processo da Lava Jato, relatou outro fato que incluiu o STF nos escândalos de acordos políticos escusos. Desta vez, lembraria o encontro entre o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, a presidente Dilma Rousseff e o ministro José Eduardo Cardozo em Portugal.
“Nesta primeira investida do planalto, em tentar alterar os rumos da Operação Lava Jato, salta aos olhos pela ousadia, o encontro realizado em 07/07/2015 (18 dias após a prisão de MARCELO ODEBRECHET e OTAVIO AZEVEDO) entre DILMA, JOSE EDUARDO e o Ministro Presidente do STF Ricardo Lewandowski, numa escala em Porto (Portugal) para supostamente falar sobre o reajuste das verbas do Poder Judiciário. A razão apontada pela presidência e absolutamente injustificável ate porque, à época, DELCIDIO DO AMARAL, como líder do Governo, era quem conduzia as negociações sobre o tema no Senado. A razão principal do encontro, em verdade, foi a mudança dos rumos da Operação Lava-Jato. Contudo, a reunião foi um fracasso, em função do posicionamento retilíneo do ministro Lewandowski, ao afirmar que não se envolveria.”
O ex-presidente Lula, que indicou três dos integrantes da atual composição do Supremo, também verbalizou suas restrições à Corte no julgamento alegados abusos praticados pelo juiz federal Sérgio Moro.
“É um um espetáculo de pirotecnia sem precedentes, querida. É o seguinte: eles estão convencidos de que com a imprensa chefiando o processo investigatório eles conseguem refundar a República. Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado, somente nos últimos tempos o PT e o PC do B começaram a acordar, um presidente da Câmara fudido, um presidente do Senado fudido, não sei quantos parlamentares ameaçados e fica todo mundo no compasso achando que vai acontecer um milagre.”
Os casos se acumulam. E colocam uma pergunta incômoda: como esse cenário foi criado? As portas do Supremo foram mesmo abertas para a política adentrar dessa forma, ou estamos apenas diante de bravatas dos políticos? E foram os políticos que entraram de penetra ou eles se sentiram convidados?

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JOTA

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