Há um dito na diplomacia que diz: “se você não foi convidado para o jantar, provavelmente o jantar será você”. Os números de desmatamento na Amazônia e o aumento das emissões de carbono do Brasil, nos últimos anos, tornaram o Brasil no prato principal do jantar. De importante player mundial no debate sobre a crise climática, o país virou alvo de críticas pelos seus retrocessos na área ambiental. Algo que ameaçou a credibilidade do país do ponto de vista econômico, com redução dos investimentos internacionais, o que colocou em risco, por exemplo, o mercado exportador.
Diferentemente dos outros grandes emissores de carbono no mundo – o Brasil é o 5º colocado no ranking mundial – que agridem o clima pela queima de combustíveis fósseis, o perfil da emissão nacional está ligado ao desmatamento. Em especial na Amazônia e no Cerrado. Quase a metade das emissões nacionais tem origem na derrubada ilegal da vegetação nativa destes dois biomas.
Estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) revela que 51% do desmatamento na Amazônia ocorre em terras públicas, nas chamadas “florestas públicas não destinadas”, territórios indígenas e as unidades de conservação. Esse desmate é criminoso e ilegal, pois resulta da ação de grileiros que buscam lucrar com a venda futura destas áreas invadidas. Uma verdadeira usurpação do patrimônio dos brasileiros.
O fim desta grilagem tem o potencial de reduzir em 25% as emissões brasileiras de carbono. Se houvesse uma retomada enérgica para se cumprir o Código Florestal, aliada a incentivos para as atividades de conservação e proteção das florestas e vegetação nativa, seria possível zerar o desmatamento nestas áreas da Amazônia e reduzir em quase 50% as emissões nacionais de gases de efeito estufa. Um feito que recolocaria o país, de volta, na lista dos convidados para o jantar.
Acabar com o desmatamento ilegal e criminoso e incentivar o não desmatamento legal, por meio de incentivos econômicos como o pagamento por serviços ambientais, traria múltiplos benefícios para o Brasil e o clima global. De quebra, ajudaria a manter o regime de chuvas no país, que dependem de uma Amazônia íntegra. Algo crucial para a produção de energia e alimentos.
Caso consigamos regulamentar e nos tornar atraentes ao crescente capital disponível para preservação, será possível promover atividades sustentáveis nas áreas florestadas, enquanto reaproveitamos os milhões de hectares de áreas já desmatadas e que se encontram abandonadas ou subutilizadas.
Recuperar nossa credibilidade como país quanto ao combate à crise climática significa estar novamente à mesa do jantar daqueles que podem agir de maneira contundente para continuar mantendo o planeta habitável.