Aline Valente

Francisco Milagres

Guilherme Tocci

Ianda Lopes

Paulo Samico

A evolução da sociedade está cada vez mais acelerada. A produção industrial em 1780 foi mecanizada. Cerca de 90 anos depois, a 2ª Revolução Industrial surgiu com a eletricidade alavancando as linhas de produção em massa. Um século separa essa etapa da 3ª Revolução, com a automação na década de 1970 fazendo sistemas eletrônicos integrados inserir o mundo na era da globalização. Em 2010, chegamos na 4ª Revolução, em um contexto de dispositivos interconectados com a digitalização de muitos processos. E eis que chega a 5ª Revolução Industrial.
Com a tecnologia transformando todos os setores, o Jurídico não é exceção – mas está longe de ser um modelo. Estamos testemunhando a transição da Indústria 4.0, caracterizada pela digitalização e automação, para a Indústria 5.0 que, segundo a União Europeia<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a> coloca o bem-estar do ser humano no centro das inovações tecnológicas.
Como informado acima, aqui vamos muito além da tecnologia nessa leitura de mercado. Esta nova fase enfatiza a colaboração entre pessoas e máquinas, visando um futuro mais sustentável e pessoalizado, inaugurando a era da humanização.
O 5.0 não se limita a aumentar a eficiência e a produtividade, mas também busca promover a resiliência, a sustentabilidade e o foco nas pessoas; colocando o bem-estar no centro do processo de produção e utiliza novas tecnologias para proporcionar prosperidade além do crescimento econômico, respeitando os limites de produção do nosso ecossistema (alô <a href="https://www.jota.info/?s=esg">ESG</a>!).
Esta perspectiva traz benefícios significativos, como a melhoria na saúde mental dos colaboradores, maior segurança no trabalho e a criação de um ambiente com mais diversidade, inclusão, equidade e pertencimento - e, em consequência disso, mais criativo e inovador.
O Jurídico 5.0 representa uma mudança significativa na forma como os times jurídicos operam. Em vez de serem vistos como unidades autônomas e segregadas do resto da organização; quase como prestadores de serviços independentes, os times jurídicos agora buscam se integrar plenamente com as áreas de negócios, promovendo uma cultura de colaboração, pertencimento e, por que não, liderança. Essa transformação é essencial para criar um ambiente onde o Jurídico é percebido como um parceiro estratégico, capaz de contribuir ativamente para o sucesso da organização.
O Jurídico é humanizado e também centrado em dados. Andando lado a lado da inovação, o <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/legal-ops">Legal Ops</a> (as operações jurídicas) desempenha um papel crucial nesta transformação: é responsável por integrar pessoas, processos e tecnologia de forma a otimizar a eficiência e a eficácia das atividades corporativas-jurídicas. A área de Legal Ops não se limita mais à controladoria e eficiência; ela agora abrange o design, comunicação, análise de dados, automação, inteligência artificial e a estratégia - inclusive na implementação de práticas inovadoras que suportam os objetivos globais da organização.
O <a href="https://www.legaloperations.com.br/">Corporate Legal Operations Consortium (CLOC)</a> define Legal Operations como processos de negócios, atividades e pessoas que permitem que as estruturas jurídicas atendam seus clientes de forma mais eficaz, aplicando práticas comerciais e técnicas à prestação de serviços jurídicos<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>. A <a href="https://cloc.org/what-is-legal-operations/">mandala das 12 competências de Legal Ops</a> inclui habilidades como gestão de projetos, inteligência de negócios, tecnologia e planejamento estratégico, todas essenciais para criar uma organização desenvolvida e eficaz. A evolução de Legal Ops reflete a necessidade de áreas jurídicas mais proativas, capazes de antecipar problemas e oferecer soluções inovadoras.
<h3>A exponencialidade em Legal Ops</h3>
Com a mesma mentalidade de ecossistema, a preocupação sobre criatividade e eficiência corporativa, as Organizações Exponenciais são aquelas que utilizam novas tecnologias, agilidade e habilidades para alcançar resultados 10 vezes maiores que seus concorrentes. No cenário jurídico, isso significa implementar operações que não apenas suportam, mas impulsionam o crescimento exponencial. Times jurídicos devem ser criativos, inovadores e preparados para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais dinâmico e interconectado.
O conceito de Organizações Exponenciais, popularizado por Salim Ismail<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>, descreve empresas que conseguem crescer em uma escala muito maior do que as organizações tradicionais. Essas empresas utilizam tecnologias emergentes, como inteligência artificial, blockchain e big data, para criar produtos e serviços altamente inovadores. No contexto jurídico, isso significa que os times jurídicos precisam adotar uma mentalidade de crescimento contínuo, buscando constantemente formas de melhorar a eficiência e a eficácia de suas operações.
E o que isso significa para o nosso mercado e realidade?
Para que as operações jurídicas sejam exponenciais, é necessário um enfoque constante não só na inovação, mas sobretudo na adaptação: envolve digitalização de processos, resiliência para superar a fase inicial de decepção, e disruptura para romper com o status quo. Além disso, a desmaterialização das barreiras entre setores, desmonetização para compartilhar a ideia que o Jurídico deve ser visto como um investimento imprecificável e a democratização do conhecimento jurídico são fundamentais para criar um ambiente colaborativo e eficiente.
Os atributos SCALE e IDEAS, conforme descritos por Salim Ismail<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>, são essenciais para entender como transformar operações jurídicas em exponenciais - lembre-se… Assim como um time de Legal Ops não precisa ter as 12 competências da mandala CLOC, as organizações exponenciais não precisam ter os 10 atributos:
SCALE (5 atributos externos):
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<li>Staff on Demand (Staff sob demanda): utilizar freelancers, consultores e outros recursos externos para complementar a equipe interna e garantir flexibilidade na entrega de tarefas e escalabilidade.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: Contratar por projetos e priorizar os escritórios parceiros é uma ótima saída (mas garanta alguém interno para fazer a gestão, garantindo a efetividade da meta, afinal um Jurídico interno, que guarda identidade com as metas e com a organização é essencial para as entregas estratégicas). Foco em agilidade, eficiência, aprendizagem e criação de laços consistentes!</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Community &amp; Crowd (Comunidade e Multidão): envolver a comunidade e as pessoas para obter insights, feedback e até mesmo co-criar soluções.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: transformar seu time (e seus clientes!) em uma grande comunidade é uma ótima ideia. As pessoas certas vão vir até você. Um Jurídico agregador e viabilizador de negócio, por exemplo, não pode ficar dizendo “não” sem demonstrar alternativas (e isso vale para escritórios também). Quando o Jurídico vira comunidade, a empresa vira uma nação muito mais fácil.</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Algorithms (Algoritmos): usar algoritmos e inteligência artificial para automatizar processos e tomar decisões baseadas em dados; reforçamos a importância de ser uma organização (o Jurídico) data driven.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: seus sistemas possuem um? Sua plataforma de consultas jurídicas utiliza o aprendizado de máquina para melhor servir o cliente interno? Chega de intuição, a decisão jurídica precisa ser lastreada por dados e estatística. Se todas as decisões de negócios são baseadas em dados, as do Jurídico precisam ser também. Isso garantirá operações jurídicas exponenciais. Para obter êxito, Salim recomenda adotar 4 passos em relação aos dados: reunião (coleta eficiente); organização; aplicação (extração e identificação de tendências); e, por fim, exposição (usando ao máximo APIs com outros sistemas, se for necessário).</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Leveraged Assets (Ativos alavancados): alavancar ativos de terceiros, como plataformas tecnológicas, para reduzir custos e aumentar a eficiência.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: busque soluções de prateleira, investigue sobre a existência de APIs (interface de programação de aplicações), produtos já testados pelo mercado (e nada de personalizá-las ao ponto de engessar novos updates!) - isso permitirá mais agilidade, constante atualização e redução de custos.</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Engagement (Engajamento): manter um alto nível de engajamento com clientes, parceiros e colaboradores para garantir alinhamento e colaboração contínua.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: favoreça e cultive o surgimento do espírito colaborativo no time. O comportamento humano, se instigado com base em propósito, metas claras, perspectiva de carreira e um bom clima organizacional… Pode ser o catalisador de feitos impactantes.</li>
</ul>
</li>
</ul>
IDEAS (5 atributos internos):
<ul>
<li>Interfaces (Interfaces): desenvolver interfaces intuitivas e eficientes que facilitem a interação e a colaboração entre diferentes partes interessadas.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: quais são as que seu time usa? Quais são os principais clientes? E as ações que você tem feito para intensificar o resultado?</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Dashboards (Dashboards): utilizar dashboards para monitorar e gerenciar métricas-chave, garantindo transparência e tomada de decisões informadas.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: em usado eles a seu favor? Os indicadores presentes nos Dashboards estão sendo demonstrados para a liderança e acompanhados pelos demais tomadores de decisão?</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Experimentation (Experimentação): promover uma cultura de experimentação, permitindo que a equipe teste novas ideias e aprenda com os erros.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: tem feito POCs? Você incentiva seu time a buscar novas soluções e tem dado a confiança e o espaço para que possam testá-las? Experimente novidades com os riscos controlados!</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Autonomy (Autonomia): dar autonomia às equipes para que possam tomar decisões rápidas e agir com agilidade.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: você microgerencia ou delega decisões estabelecendo mecanismos adequados de controle? Como anda o nível de autogestão do time?</li>
</ul>
</li>
</ul>
<ul>
<li>Social Technologies (Sociais): integrar tecnologias sociais que facilitem a comunicação e a colaboração entre os membros da equipe.
<ul>
<li>Ideia de aplicação para o profissional Jurídico: tem incentivado o seu time a intensificar a busca pelo aprendizado das soft skills!? E os treinamentos de oratória e comunicação? Teve algum tipo de ação em que a comunicação poderia ter sido melhor estruturada?</li>
</ul>
</li>
</ul>
Como Reid Hoffman, fundador do LinkedIn, disse: “se você não ficou envergonhado com o produto no lançamento, é porque você lançou tarde demais.” Esta frase demonstra a importância dos produtos ou serviços beta no mundo atual.
Não é à toa que a regulação teve que se preparar com a ajuda do Sandbox Regulatório para lidar com o novo cenário. Muitos produtos e serviços são lançados em uma aparente versão “beta permanente”, sempre inacabados, com a finalidade de coletar dados dos usuários, entender suas necessidades e lançar novas versões mais assertivas e adaptadas às ideias de quem de fato usa o produto ou o serviço.
Enquanto área suporte, o Jurídico precisa aprender a lidar com um produto ou serviço que não mais leva meses ou semestres para ser desenvolvido (e sim, dias ou semanas). Precisa entender como lidar com riscos e fazer suas operações ter crescimento de performance de forma contínua, exponencial. E será que existe alguma fórmula para tornar sua operação exponencial, mais didática e enxuta do que a aplicação de todas as ideias já apresentadas neste artigo e as que serão compartilhadas na obra Jurídico 5.0 e Operações Exponenciais?
O futuro do jurídico está intrinsecamente ligado à capacidade de adaptação e inovação contínua. As operações jurídicas exponenciais não são uma opção, mas uma necessidade para qualquer organização que deseja prosperar na era da Indústria 5.0. É hora de repensar, reestruturar e reinventar nossas práticas para construir um jurídico verdadeiramente alinhado com as demandas do futuro, que já é presente. Seja bem-vindo à realidade 5.0!
<hr />
<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> Saiba mais em &lt;<a href="https://research-and-innovation.ec.europa.eu/research-area/industrial-research-and-innovation/industry-50_en">https://research-and-innovation.ec.europa.eu/research-area/industrial-research-and-innovation/industry-50_en</a>&gt;. Acesso em 15/07/2024.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Disponível em &lt;<a href="https://cloc.org/what-is-legal-operations/">https://cloc.org/what-is-legal-operations/</a>&gt;. Acesso em 14 de julho de 2024.
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Descubra quem é ele em &lt;<a href="https://salimismail.com/">https://salimismail.com/</a>&gt;. Acesso em 04/08/2024.
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Autor e criador do conceito de Operações Exponenciais.

juridico5.0

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JOTA

Legal Operations para organizações exponenciais na Indústria 5.0

O que significa Jurídico 5.0

Legal Operations para organizações exponenciais na Indústria 5.0