Paulo Fernando Pinheiro Machado

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“Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.”
<footer class="jota-article__quote-cite" style="text-align: left;">Mateus, 25:40</footer>
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Matthew Arnold dizia que uma composição de Tolstói não é uma peça de arte, mas uma peça da vida. Tudo pulsa na obra do gênio russo porque a verdade está presente em cada detalhe, em cada vírgula dos seus textos. “A coisa mais importante na arte, como na vida, é dizer a verdade. A verdade é o meu herói”, confessava Tolstói.
Um dos escritos mais singelos e ao mesmo tempo mais pujantes de Tolstói é o conto natalino “O Natal especial de Papa Panov”, uma adaptação de uma história folclórica francesa, escrita pelo pastor Ruben Saillens. Em "Papa Panov", o mestre russo busca responder a uma das mais profundas perguntas que ronda a humanidade desde tempos imemoriais: qual o verdadeiro sentido da vida? Uma pergunta que somente poderia ser respondida no Natal, na celebração do momento específico do tempo humano em que o Verbo Divino se fez carne e habitou entre nós.  
A história é centrada na figura do protagonista, Papa Panov, o sapateiro de uma pequena vila do interior da Rússia. A leitora encontra o velho Panov em uma véspera de Natal, sozinho em casa, envolto na solidão da lembrança de seus anos mais felizes, quando sua esposa ainda estava viva e os filhos pequenos com eles. Panov, neste momento, está desnudado diante de sua condição humana, da necessidade da busca de sentido em uma etapa da vida, na qual tudo já foi feito e tudo já foi dito. 
A ocupação de Papa Panov, sapateiro, também não é mero acaso. Como São José e Nosso Senhor Jesus Cristo, Panov é um artesão, e como tal desenvolve uma atividade na qual a honestidade e a verdade têm necessariamente de se materializar da forma mais concreta possível. Um sapato mentiroso, como uma casa ou móvel malfeito, destrói-se rapidamente. Sem a verdade, um artesão não consegue se manter em seu ofício ao longo dos anos.  
Papa Panov, então, em sua solidão na Véspera de Natal tem um sonho, no qual Nosso Senhor Jesus Cristo diz que o visitará no dia de Natal, mas que não lhe dirá quem ele é. Panov, assim, passa o dia buscando pessoas que passam em frente da sua casa e recepciona alguns desconhecidos, um gari, uma pobre mãe solteira com um bebê de colo e alguns mendigos a quem ele oferece sopa e pão.  
Ao final do dia, Papa Panov, sempre em meio a sua solidão, retorna para dentro de casa, acreditando que Nosso Senhor não viria e que tudo não passara de um sonho afinal. Ao sentar-se em sua poltrona e lembrar-se dos transeuntes do dia, Papa Panov ouve uma voz, que ele imediatamente reconhece ser de Jesus: “eu tive fome e me deste de comer. Eu estava nu e me vestiste. Eu tinha frio e me aqueceste. Eu vim para ti hoje em cada um daqueles que ajudaste e acolheste”. 
Neste momento, quando tudo estava parado e em silêncio, mesmo em meio à sua mais profunda solidão, Papa Panov sentiu-se pleno. “Uma felicidade e uma paz enormes pareceram encher a sala, inundando o coração de Papa Panov até que ele sentiu vontade de explodir cantando, rindo e dançando de alegria”.  
O verdadeiro sentido da vida para Tolstói em “O Natal especial de Papa Panov” está claramente no amor ao próximo, na dedicação aos outros. Uma vida plena de sentido é uma vida de serviço, voltada para aliviar a dor e o sofrimento de quem nos passa diante da porta em um dia frio de inverno. “'Então Ele veio ao fim', foi tudo o que disse Papa Panov.” Feliz Natal.

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JOTA

O verdadeiro sentido da vida segundo Tolstói 

O Natal especial de Papa Panov

O verdadeiro sentido da vida para Tolstói em “O Natal especial de Papa Panov” está claramente no amor ao próximo