Paulo Coelho da Rocha

Havia uma esperança de que, uma vez concluído o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, a economia retomaria uma curva de crescimento de forma acentuada.  Infelizmente, no entanto, não é que está ocorrendo. 
Há sinais claros de melhorias na seara macroeconômica nacional, é verdade: uma leve queda nos índices inflacionários (IPCA teve alta de 0,26%, enquanto INPC subiu 0,17%) e um leve crescimento nos índices industriais (alta de 0,5%).  O País tecnicamente segue em recessão, mas uma pesquisa do Banco Central com economistas já aponta um crescimento do PIB de 1.3% para 2017.
À parte dos indicadores econômicos, o fato é que o País segue tomado por discussões girando em torno das operações da Polícia Federal, obviamente com particular destaque para a Lava Jato e suas ramificações. 
Se por um lado a contínua investigação e exposição de políticos e empresários envolvidos em esquemas de corrupção é salutar na medida em que permite melhorar o ambiente de negócios brasileiro, por outro as operações da Polícia Federal, especialmente aquelas mais midiáticas, contribuem para a manutenção de um ambiente de incertezas e temores para a classe política e o empresariado acostumado a fazer negócios com o poder público.  
Isso faz com que duas ferramentas catalisadoras de crescimento sejam colocadas em compasso de espera: a decisão de realização de investimentos, e o processo parlamentar que poderia cuidar de certas reformas legislativas há muito necessárias.
A razão da primeira é de mais fácil compreensão.  Investidores, em sua grande maioria, têm aversão a riscos, e temos que admitir que o ambiente econômico no Brasil ainda precisa melhorar no quesito segurança para investidores. Já o processo legislativo, que poderia por exemplo avançar nas reformas fiscal e trabalhista é retardado em detrimento de discussões mais prementes aos olhos do parlamento brasileiro, como por exemplo a repatriação de divisas ou a discussão sobre a legalização do caixa dois em campanhas políticas.
Tal cenário não contribui para a atração de investimentos para o País. Ainda assim, o número de operações de fusões e aquisições segue alto e não dá sinais de arrefecimento. Até outubro, o tivemos 833 operações de M&amp;A no Brasil segundo o TTR, um ligeiro aumento de 3% sobre o mesmo período de 2015.  Já o valor das operações subiu substancialmente para R$219 bilhões, um crescimento de 39% sobre o mesmo período de 2015.  Os três setores mais movimentados continuam sendo Tecnologia (alta de 40%), Internet (alta de 6%) e Financeiros e Seguros (alta de 30%) seguidos por Consultoria, Auditoria e Engenharia (alta de 9%) que substituiu Distribuição e Varejo (queda de 14%) no quarto lugar. Assim, a concentração entre os quatro principais setores que era de 40,2% subiu para 57,3% do total de operações.
Mas se não há alterações positivas significativas no cenário econômico e político, como explicar então a insistente pujança das operações de M&amp;A no Brasil?
Ainda que fosse mais interessante pensar que a força vem de um interesse renovado no Brasil pós-impeachment, isso não parece ser verdade. Se avaliarmos as operações de M&amp;A em 2016 e os setores em que ocorreram, as verdadeiras forças a impulsioná-las poderiam ser assim resumidas: câmbio, ativos interessantes à venda e alterações legislativas.
Sobre o câmbio valem algumas considerações. Em janeiro deste ano, quando a taxa de câmbio chegou a altíssimos R$4,16/USD1, o Brasil realmente ficou barato para os investidores.  A queda vertiginosa para R$3,10/USD1 em outubro pode ter dado a impressão de que o ciclo de "liquidações" para os investidores estrangeiros teria chegado ao fim. Mas o real voltou a se desvalorizar frente ao dólar -- e a eleição de Trump tem acentuado tal valorização ainda mais, fazendo com que ativos brasileiros continuem no radar de estrangeiros.
Sobre os ativos à venda, a crise econômica brasileira, aliada à falta de liquidez e altas taxas de juros no mercado nacional, as mais altas desde 2006, tem feito com que muitas empresas tenham que se desinvestir de ativos relevantes para se capitalizar.  Grandes grupos econômicos envolvidos em escândalos de corrupção também vêm se desfazendo de ativos de infraestrutura, possibilitando a investidores adquirirem tais ativos já "maduros", sem a necessidade de participar de licitações.  Um bom exemplo é a Petrobrás, que vem anunciando a venda de ativos importantes.
Há também um crescente número de ativos à venda no contexto de recuperações judiciais, que tiveram um expressivo aumento de 61% em 2016 frente ao número de casos em 2015.  Como as regras de recuperação judicial dão ao comprador uma proteção legal de uma parte relevante dos passivos pregressos relacionados ao ativo adquirido, a alternativa torna-se altamente atrativa para investidores.
E finalmente, as alterações legislativas em certos setores também contribuem para operações de M&amp;A. Foi o caso especialmente do setor de hospitais e clinicas, que desde janeiro de 2015 passaram a poder receber capital estrangeiro, e das companhias aéreas, que agora podem ter até 100% de seu capital na mão de estrangeiros. Também é aguardada a alteração legislativa que vai regular a aquisição de terras rurais por estrangeiros -- um tema controverso desde a emissão de um parecer da Advocacia Geral da União em 2010, que trouxe limitações exageradas e incertezas ao setor.
Resta saber se em 2017 realmente veremos a esperada recuperação acentuada da economia. O fato de que as operações de M&amp;A continuaram em alta em 2016 é um sinal positivo, mas o melhor será se sua real força em 2017 vier de melhores indicadores econômicos do País.

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