Carlos Fernando dos Santos Lima

<p>O escândalo da Covaxin está destruindo a pouca ingenuidade que ainda restava em setores menos fanáticos da direita, pessoas ainda capazes de uma racionalidade que seguidores da seita bolsonarista não conseguem alcançar, a respeito da probidade do atual governo. A podridão moral de desviar bilhões em plena pandemia, acusação usada por Jair Bolsonaro contra seus desafetos políticos, volta-se agora contra o presidente, que terá de explicar se prevaricou ou se participou desse esquema, já que não há dúvida de que houve corrupção dentro do governo.</p>
<p>Minha intuição de 30 anos investigando essa espécie de crimes do colarinho branco já indicava que o deputado federal Ricardo Barros era um dos principais suspeitos de fazer o governo federal adquirir uma vacina de qualidade inferior, ou pelo menos não devidamente testada, por cerca de 50% a mais no preço final que as vacinas da Pfizer, tecnologicamente muito mais avançada, e da Jansen, do grupo Johnson &amp; Johnson, de dose única.</p>
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<p>Isso porque a irritação de Ricardo Barros durante as análises feitas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação às vacinas Sputnik V e Covaxin já levantava suspeita de que ali não estávamos diante de uma ira santa contra tecnocratas que dificultavam a vacinação da população brasileira, mas sim de gordas comissões a serem recebidas. Políticos como Ricardo Barros não se preocupam com o povo, assim como Renan Calheiros não se preocupa com a verdade, mas sim com a conveniência dela lhe ser útil para destruir Bolsonaro em favor de seus próprios interesses. Não sejamos tolos de incensá-los.</p>
<p>Agora surge outra negociação suspeita envolvendo a compra de 60 milhões de doses da vacina chinesa Convidecia, do laboratório CanSino Biologics, pelo preço de U$ 17 a dose, um preço ainda superior ao contratado para a aquisição da Covaxin.</p>
<blockquote class="jota-article__eye"><p>Trata-se de um novo escândalo a ser devidamente apurado – pena que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal (PF) não possuam mais a devida independência para tanto, pois há indicativos muito fortes que também aí houve corrupção.</p></blockquote>
<p>Não se iludam com as afirmações do governo de que as negociações foram canceladas. Para efeitos penais, a corrupção ativa se consuma com o mero oferecimento de propina para um funcionário público. Assim, a assinatura do contrato ou o pagamento realizado são fatos posteriores que têm pouco interesse para a configuração do crime de corrupção, podendo servir de prova de quem foram os beneficiados ou da ocorrência de outros crimes, como o de lavagem de dinheiro, mas a corrupção já aconteceu no momento da proposta.</p>
<p>No caso da Convidecia, os elementos indiciários até agora reunidos indicam também o líder do Governo, Ricardo Barros, como o responsável pela negociata. A empresa intermediadora, replicando o método usado no caso Covaxin, é a Belcher Farmacêutica com sede em Maringá, base eleitoral de Ricardo Barros, e que tem como um dos sócios o filho do presidente da empresa de urbanização da cidade durante a gestão de Barros na prefeitura do município paranaense. Em investigações o que tem focinho de rato, bigode de rato e rabo de rato é, com certeza, um rato.</p>
<p>Também é importante notar que a negociação foi cancelada pela decisão da CanSino Biologics de rescindir o contrato de representação que detinha com a Belcher. Isso, que é usado por esta empresa e pelo governo como elemento a seu favor, pode muito bem indicar o oposto. Afinal, quando se fala em compliance, uma das principais análises que uma empresa deve fazer quando vende para um governo estrangeiro é a lisura da atuação de seu representante naquele país.</p>
<p>Assim, é de se questionar a CanSino Biologics sobre os motivos da rescisão da representação comercial com a Belcher, pois isso pode ter ocorrido em razão da empresa chinesa ter percebido indicativos de corrupção no processo de compra pelo governo brasileiro. Uma empresa internacional pode ter sérios problemas com a aplicação da legislação contra corrupção dos Estados Unidos, Reino Unido e França caso venda produtos para outros países usando de propina em detrimento de outros fabricantes. A motivação do rompimento da representação, portanto, pode não ser apenas uma questão de desacordo comercial entre a CanSino e a Belcher, mas sim o temor da CanSino de se ver envolvida em nesse tipo de crime.</p>
<p>Tudo indica que o feitiço vai se voltar contra o feiticeiro. Ao usar os indícios de corrupção nos governos estaduais para capitalizar seu boicote ao combate à pandemia, Jair Bolsonaro acreditou que estaria blindado contra denúncias contra o seu próprio governo, especialmente quando seu projeto de dominação da Procuradoria Geral da República e da direção-geral da Polícia Federal obteve êxito. Agora a máscara de incorruptível, que já era grotesca, cai de vez, revelando que o atual presidente da República é apenas outro hipócrita que usa da corrupção para governar. Vamos ver se é apenas isso, apesar do escândalo das rachadinhas indicar que os Bolsonaros também gostam muito de dinheiro público para si.</p>
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Bolsonaro CPI pandemia

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JOTA

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