Leonardo Barém Leite

Houve um tempo em que o Homem trabalhava sozinho e realizava suas tarefas e o seu trabalho isoladamente, mas atualmente isso é cada vez mais raro.
Com mais ênfase desde a organização do trabalho em “linhas de montagem”, com forte aplicação na indústria, como por exemplo o Modelo Ford, muitas tarefas foram gerando especializações e divisões do trabalho.
Esse mundo mudou e hoje temos uma nova realidade, que por sua vez muda a todo momento, de maneira que a realidade do ano passado não é a deste, e certamente diferente do que nos espera.
As salas e as estações de trabalho de outros tempos já não existem, assim como os organogramas e as divisões em “caixinhas” são cada vez mais dinâmicos e flexíveis.
Muito do que fazíamos agora é executado por robôs, por máquinas ou por “softwares”, e será mesmo cada vez mais assim... Mas o trabalho humano, de alguma forma realizado em equipe permanece.  Todos ajudamos e somos ajudados por alguém, e somos parceiros de alguém.
Ainda que nem sempre trabalhemos fisicamente juntos, e que a tecnologia, o “homeoffice”, e várias outras ferramentas e práticas, nos permitam (as vezes obriguem) a atuar em locais diferentes, o fato é que para quase tudo precisamos de ajuda, e para quase tudo atuamos em times e equipes. E o nosso trabalho recebe impacto dos colegas, assim como o nosso impacta o deles.
O advogado corporativo ajuda a empresa, ajuda o empresário, ajuda o seu “business partner”, ou será simplesmente cortado... Simples assim.
Atuar com colegas, em sistema de parceria, pode ser uma qualidade ou uma competência pessoal, mas no mundo jurídico temos uma questão adicional - pois na graduação em direito, pouco ou nada se ouve sobre isso.
Dificilmente um advogado aprendeu no curso de direito a trabalhar em equipe e em conjunto, num modelo de ensino antigo e há muito inadequado, que ainda repete leis, “livros” (códigos) e áreas como se “caixinhas isoladas” fossem, e como se atuássemos sempre sozinhos, separados, isolados e sem visão de contexto geral e da inter-relação entre as áreas e os assuntos.
Passada a fase da universidade (ou mesmo de maneira paralela durante o estágio), começamos a perceber que o trabalho demanda várias fases, etapas, aspectos, e que na maioria das vezes várias pessoas (que nos ajudam ou aos quais ajudamos, com os quais dividimos ou colaboramos trabalho) – e vemos que temos que trabalhar com colegas, interna ou externamente, especialmente nas empresas.
Nas empresas a diversidade tende a ser maior, pois ainda que nos escritórios de advocacia (atualmente geridos e operados em grande parte como empresas) atuem também diversos profissionais com várias formações e profissões, nas empresas a questão costuma ser bem mais ampla, com o agravante de que o advogado já não é a área principal (ou “core”).
A realidade de cada um só é conhecida pela própria pessoa, mas o fato é que temos sim que trabalhar em times e em equipes, sejam elas do próprio departamento jurídico ou não, da empresa ou não, da unidade em que trabalhamos ou não.
Todos nos reportamos a alguém, e nas empresas atuamos em linha com todas as áreas e departamentos, unidades etc., vivendo o conceito de equipe de maneira permanente.
Como nenhum de nós foi treinado na faculdade de direito para essa realidade, nem para nos reportarmos a chefes e coordenadores, nem para lidarmos com colegas, e muito menos para gerir equipes e pessoas, vamos “todos” aprendendo na prática, uns com maior e outros com menor facilidade. 
Um dos desafios do trabalho em equipe é o alinhamento, pois é necessário que o grupo envolvido tenha não apenas a mesma meta e o mesmo objetivo, como estratégias ao menos compatíveis, e velocidade e estilo igualmente similares.
Os times (as equipes) precisam atuar com uma certa unidade, para que não sejamos apenas “um grupo”, ou um “conjunto de pessoas”. Esse desafio realmente é uma arte.
Como todos sabemos que “a força da corrente é igual à do seu elo mais fraco”, e que “a velocidade do grupo é igual à do seu membro mais lento”, torna-se preciso alinhar tudo isso para obtermos a maior força, a melhor velocidade, a maior produtividade, e assim por diante, da equipe como um todo.
Por muito tempo gestores e professores tentavam explicar os benefícios, a necessidade e as melhores técnicas possíveis para o trabalho em equipe nas organizações. E muitos utilizavam a célebre metáfora esportiva do remo, numa analogia à necessidade de todos os “remadores” terem a mesma direção, força, ritmo e velocidade, sob pena do “barco” não chegar ao seu destino programado.
Até certo ponto esse conceito do “remo” ainda é verdadeiro, e ajuda a entender a importância do alinhamento em todos os aspectos, bem como o papel da liderança, que “dita” o ritmo (como o “patrão” no barco).
O cenário porém é o que mais muda, pois se compararmos o remo de lagoa ou de rios calmos e tranquilos, com a realidade atual das empresas, e notadamente nos departamentos jurídicos, vemos que são necessários ajustes enormes.
Se o remo de lagoa, ou de rios calmos, envolve (ao menos de modo geral) águas tranquilas e com pouca correnteza,  poucas surpresas e risco baixo, afasta-se cada vez mais da realidade do jurídico moderno.
A descida de corredeiras – o rafting, com terreno íngrime (muitas vezes com descidas enormes em cachoeiras), águas raivosas, violentas e rápidas, além de pedras e outros obstáculos (o tempo todo!!), aproxima-se muito do desafio das equipes jurídicas das empresas atualmente. 
No “rafting”,  cada décimo de segundo conta, e por mais que se treine previamente, e que o preparo seja fundamental, o cenário e a dificuldade mudam a cada décimo de segundo, fazendo com que a rapidez de raciocínio, de reflexos, e de adaptações e ajustes sejam permanentes.
No esporte pode ser divertido (e é!!), sendo um dos esportes radicais preferidos, mas a tensão que essa realidade gera no mundo corporativo, e em especial, no jurídico das empresas, levando sua capacidade de resiliência e adaptação ao extremo, gera certamente muita tensão. A realidade é “tudo muda o tempo todo”.
Mudanças de estratégia e de rumo, de prioridade, de contexto, de localização, as vezes até de segmento, e as famosas reestruturações fazem parte do dia a dia de todos nós, e a mudança dos cenários nos leva a mudar o nosso dia, o nosso método de trabalho, o nosso estilo, e muitas vezes as nossas funções e a forma de realizá-las.
Alterações de mercado, legislativas/jurisprudenciais, empresariais, fusões e aquisições, abertura de capital, entrada em novos segmentos, dentre outros, geram mudanças profundas ao time jurídico da empresa, que muitas vezes precisa ser até totalmente alterado para atuar em realidades diferentes das previamente existentes.
Se o jogo mudou (e mudará mais), é provável que apenas os membros da equipe que tiverem grande capacidade de adaptação e resiliência, bem como competência e conhecimento para atuar em novas frentes sejam mantidos (especialmente a médio prazo).
Da mesma forma, empresas familiares, abertas, estatais, privatizadas, ou de origem nacional, oriental, europeia, norte-americanas, latino americanas etc. são “totalmente” diferentes entre si, além dos ajustes necessários por conta de mudança de segmento.
Em meio a isso tudo, é natural que tenhamos que nos adaptar cada vez e viver na prática, entre outros jargões, o famoso “fazer mais com menos”, e mais rapidamente. 
Tudo muda, e o tempo todo. E mudará mais!!!!
Nossa vida nas empresas cada vez mais se compara ao esporte do “rafting”, e temos que estar preparados.
Esse é um dos vários tópicos que a moderna e estratégica gestão jurídica nas empresas vem estudando, e que tem evoluído bastante. Procure conhecer mais sobre a advocacia corporativa, seus desafios, as melhores práticas, e o que se tem feito de mais moderno no Brasil.

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JOTA

Nossa vida nas empresas cada vez mais se compara ao esporte, e temos que estar preparados

O Departamento Jurídico e o Rafting

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