Etienne Jacintho

Não há como negar que, na ficção, às vezes é mais divertido ficar do lado daqueles que infringem as leis. Em ‘Breaking Bad’, por exemplo, não dá vontade de ver Walter White atrás das grades. A gente abre exceção até mesmo para o Dexter Morgan, de ‘Dexter’, cujas ações são inaceitáveis na vida real, mas parecem ser razoáveis na tela da TV. No caso das duas primeiras temporadas de ‘Narcos’, o público acompanhou os esforços dos policiais da DEA (Drug Enforcement Agency) atuantes na Colômbia para capturar o chefão do tráfico Pablo Escobar, interpretado por Wagner Moura.
Escobar tinha o apoio da população de Medelín, pois usou o dinheiro do tráfico para criar a imagem do líder populista, defensor da comunidade carente. Esse apelo junto ao povo fez com que Escobar sonhasse até mesmo em entrar para a política. Porém, esse era um passo alto demais para um fora da lei que atuava em um mercado concorrido e Escobar, literalmente, caiu. Com a polícia, outros traficantes e até grupos paramilitares em seu encalço, o chefão maior do narcotráfico não teve como resistir à sangrenta caçada e morreu baleado pela polícia.
+JOTA: <a style="color: #ff0000;" href="https://jota.info/lifestyle/justica-em-serie-narcos-muito-alem-sotaque-de-wagner-moura-05092015" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Narcos, muito além do sotaque de Wagner Moura</a> 
+JOTA: <a style="color: #ff0000;" href="https://jota.info/lifestyle/todos-contra-pablo-10092016" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Todos contra Pablo - A 2ª temporada de Narcos</a>
Com a morte de Escobar, outros traficantes ganham espaço e quatro deles formam o Cartel de Cáli, grupo que foi responsável, lá nos anos 1980 e 1990, pela distribuição de quase 90% da cocaína que circulava no mundo todo. O Cartel de Cáli é o alvo da terceira temporada de ‘Narcos’, que muda sua narrativa, ganha mais ação e elege um mocinho de peso, o agente Javier Peña (Pedro Pascal). Figura controversa nas primeiras temporadas por ser muito próximo dos traficantes e ter sido em parte responsável pela ofensiva mais sangrenta contra Pablo Escobar, o agente Peña volta ao batente com a missão de prender os irmãos Gilberto e Miguel Rodríguez. A missão não é nada fácil, pois, diferentemente de Escobar, que gostava de aparecer, os chefões de Cáli eram discretos.
Por um golpe de sorte, Gilberto, o líder do cartel, é preso. A partir disso, uma sucessão de violentos acontecimentos abala a atuação do grupo que, acuado, é obrigado e se defender. O problema é que os irmãos Rodríguez começam a se desentender em relação à maneira de liderar a organização criminosa. Gilberto, da cadeia, tenta coordenar as ações do grupo para que haja uma rendição. No caso de os quatro se renderem, eles ficarão presos um tempo, mas poderão manter seus bens. Já Miguel não quer se aposentar. Ele prefere expandir seu império e manter seu poder.
O problema é que os adversários percebem a fragilidade da situação e começam também a atacar o Cartel de Cáli, na luta pelo mercado das drogas e por vinganças pessoais. É quando a DEA ganha um importante informante, um dos chefes de segurança dos irmãos Rodríguez, Jorge Salcedo. Temendo pela segurança de sua família, o técnico em segurança faz um acordo com a polícia e se torna peça-chave para a dissolução do cartel.
Mesmo com a ajuda de Salcedo, Javi Peña tem dificuldades em encontrar e prender Miguel Rodríguez, uma vez que o grupo criminoso tem policiais e políticos de alto escalão em sua folha de pagamento. Quanto mais Peña caminha para o topo da pirâmide do poder público, mais ele percebe que o tráfico tem aliados muito importantes na Colômbia. Assim, ele constata que, por mais que ele coloque os chefões todos na cadeia, será difícil mantê-los presos por muito tempo. E, mais do que isso, será praticamente impossível tirá-los do comando do narcotráfico.
Como heroi que é, Peña tem uma difícil decisão para tomar: ou se conforma com a situação ou parte para uma briga que pode custar sua carreira e até sua vida.
A terceira temporada de ‘Narcos’, disponível na Netflix, tem ação na medida certa e cenas de tirar o fôlego. É, sem dúvida, a melhor temporada da série. Em entrevistas à imprensa americana, Jorge Salcedo, que entrou para o programa de proteção à testemunha, afirmou que os acontecimentos abordados na série estão bem alinhados com os fatos reais. Claro que há muitos elementos fictícios para dar maior ação à narrativa, mas, no geral, ‘Narcos’ é um retrato bem fiel do que foi essa caçada ao Cartel de Cáli e à corrupção na Colômbia.
‘Narcos’ foi renovada para a sua quarta temporada, mas após o assassinato de um assistente da produção da série, que buscava locações no México, o futuro da atração é incerto. O ator Pedro Pascal já afirmou que, sem garantia de segurança para a equipe, não há como mantê-la no ar.

narcos3pascal

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Sem o mito Escobar, Narcos torna-se o tipo de série em que fica difícil não torcer pelo mocinho

O charmoso lado da lei - A 3ª temporada de Narcos

Sem o mito Escobar, Narcos torna-se o tipo de série em que fica difícil não torcer pelo mocinho