Luis Paulo Rosenberg

O desvirtuamento, pela Câmara, das dez medidas propostas pelos promotores da Lava Jato levou a classe média de volta às ruas. Logo em seguida, ministros do STF e lideranças parlamentares iniciaram uma batalha em torno do projeto, estabelecendo uma preocupante desavença entre o Legislativo e o Judiciário.
Adicione-se o vazamento de denúncias dos réus confessos da Odebrecht envolvendo Michel Temer e assessores, e completa-se o quadro de marola institucional que está causando desconforto em toda a sociedade. Mormente, na presença dos maiores índices de inadimplência e desemprego da nossa História.
Para sair desta, cada um dos três poderes vai ter que exercitar criatividade e fazer concessões. Neste processo, cabe refletirmos sobre o pacote contra a corrupção. Ele precisa voltar às suas origens e adquirir uma feição mais severa, refletindo a intolerância do brasileiro com os corruptos e corruptores.
Note que o repúdio à corrupção não é apenas um pleito ético de uma sociedade que busca se desvencilhar da pecha de vir acomodando a corrupção há décadas. Do ponto de vista econômico, o estrago provocado pela corrupção é avassalador: premia a incompetência, concretiza investimentos de prioridade duvidosa, afugenta capital estrangeiro, impondo uma trajetória de crescimento muito aquém do potencial pleno do país.
Em suma, a corrupção substitui o sadio mecanismo de seleção darwiniana pelo jeitinho que inibe a competição. Dentre as medidas que foram deixadas para trás na votação do pacote anticorrupção há uma cujo retorno é particularmente apreciado pelos economistas: a criação da figura do reportante. Trata-se de qualquer pessoa que, sabedor de algum delito financeiro contra o Tesouro, denuncia o malfeito, sendo recompensado com uma porcentagem do que o governo recuperar da maracutaia evitada. 
O reportante é uma espécie de bandeirinha do futebol, revelando ao juiz que o meliante está impedido. Por ter a coragem de denunciar alguém poderoso, merece a recompensa, uma legítima compensação econômica pelos dissabores que terá de enfrentar em decorrência do seu ato corajoso de defesa da cidadania. E como corrupto e corruptor não conseguem criar barreiras insuperáveis para evitar a ação do “bandeirinha”, o elemento surpresa passa a operar do lado dos mocinhos e não mais dos bandidos. 
Realmente, que executivo teria coragem de sonegar, se o estagiário da Contabilidade pode denunciá-lo? E nossos parlamentares pensariam duas vezes antes de pedir um presentinho, se seu motorista puder colocá-lo na cadeia. Só pelo medo, a corrupção diminuiria drasticamente. Tudo se passaria como se a Receita Federal tivesse recrutado cerca de cem milhões de potenciais fiscais para inibir a mal versão de recursos públicos, sem pagar salário, apenas taxa de sucesso.

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JOTA

E se a Receita tivesse cerca de cem milhões de potenciais fiscais?

O bandeirinha contra a corrupção

E se a Receita tivesse cerca de cem milhões de potenciais fiscais?